— Quando crescer, quero ser jogadora de futebol!
A resposta foi comum entre todas as meninas entrevistadas e que integram as escolinhas de futebol de Caxias e Juventude, ao serem perguntadas sobre o seu futuro. O sonho é o mesmo e a inspiração também: Marta, a melhor do mundo.
Com 19 anos de carreira, duas medalhas de prata na Olimpíada, diversos títulos individuais e pelas equipes onde passou, a rainha do futebol brasileiro, seis vezes dona da Bola de Ouro, entra em campo domingo, às 16h, contra a França, pelas oitavas de final da Copa do Mundo. Em seu discurso, a luta pela igualdade e pelo respeito dentro das quatro linhas. Algo que ainda está caminhando lentamente em Caxias do Sul.
Nos dois clubes da cidade, apenas 15 meninas integram as escolinhas de formação. O Caxias tem três, enquanto o Ju possui 12.
— A questão que precisa ser resolvida para que o futebol feminino ganhe força é o estímulo. Ele precisa partir de casa, da escola. Nós somos dotados de múltiplas inteligências, então a menina tem a mesma capacidade de jogar do que o menino — afirma o treinador Vladimir Duarte, que trabalha na escolinha grená.
Os locais para treinar existem e estão de portas abertas para receber as meninas. Além disso, também há professores capacitados e coordenações aptas para isso. Tudo esbarra dentro de casa, na falta de iniciativa por parte dos pais, onde muitos seguem os estereótipos de "menina faz ballet e menino joga futebol". Para Duarte, a inserção se torna mais fácil com o suporte familiar:
— No início, as meninas tentar ingressar num mundo em que são minoria. Não é fácil, mas é muito do estímulo. A chave está aí: percebermos que o futebol feminino precisa de uma atenção e um cuidado maior, porque às vezes tu podes ter um talento em casa.
A professora do Ju, Viviane Maiteli Pezzi, 21 anos, complementa:
— Com a Copa do Mundo está tendo uma visibilidade maior, a aceitação cultural é criada e a partir disso há o entendimento de que a menina também pode jogar futebol. Às vezes, elas têm o sonho, mas também o medo de partilhar com os familiares.
Exemplos não faltam. Ana Cristina Borges da Silva, 13, jogava futebol por diversão, com incentivo dentro de casa e na Escola Alexandre Zattera. A chegada ao Caxias foi natural.
— Aprendi muito jogando em casa, e também com as minhas professoras da escola, a Alexandra, no ano passado, e agora a Lívia — conta Ana.
Talentos em potencial
Yasmin Ramos, 14, treina no Juventude há um ano. Oriunda do futsal, foi descoberta pela professora Viviane e é um talento a ser lapidado.
— Meu pai joga futebol amador e minha mãe também dá bastante apoio. Antes, eu jogava futsal também, mas como não notei tanta evolução, continuei apenas no campo — conta Yasmin.
O Juventude até montou uma equipe sub-13 em 2018, na qual Yasmin ingressou. Porém, a continuidade dependia de um projeto de lei estadual, que não conseguiu arrecadação necessária. Muitas meninas perderam a oportunidade por não ter condições de arcar com a mensalidade. Só que o talento de Yasmin não poderia ser desperdiçado.
— Por se destacar, inclusive entre os meninos, começamos a falar com investidores para manter a Yasmin treinando aqui no clube. Ela tem uma projeção de atleta, então foi muito importante conseguirmos segurá-la —explica Viviane.
Com apenas sete anos, Luiza Tomé Paim também já deixa o brilho no olhar falar mais alto quando se refere ao futebol. Segundo ela, o esporte é importante na sua vida desde os quatro.
— Faz bastante tempo que jogo futebol. Falei para os meus pais que queria começar a jogar e eles me colocaram no Caxias — diz a jovem atleta, que treina junto com os meninos do sub-9 e sonha em ser atacante.