O movimento no comércio é um dos principais termômetros do momento da economia em Caxias do Sul. Se a indústria e os serviços crescem e há fartura de empregos na cidade, a população ganha poder aquisitivo para gastar nas lojas da cidade. Mas se os segmentos patinam e cortam vagas, os caxienses pensam duas vezes antes de abrir a carteira. No caso de quem trabalha em loja de time de futebol um outro ingrediente acaba sendo determinante para as vendas: os resultados da equipe.
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Proprietária da loja oficial do Juventude, a Papo Store, há 10 anos, Márcia Dotti destaca que o momento do alviverde em campo é o principal motor das vendas. Para o bem e para o mal. Se a fase é boa e o time enfileira vitórias, o torcedor aparece com maior frequência no estádio Alfredo Jaconi e o faturamento com a venda de artigos esportivos cresce. Se as derrotas se acumulam, a tendência é de queda no movimento.
Para a Papo Store, o retrospecto alviverde acaba pesando mais até do que a própria conjuntura econômica. Neste sentido, Márcia lembra que o movimento de clientes foi intenso entre 2016 e 2017, anos marcados pela recessão na cidade. Isso porque, naquele período, o Juventude conseguiu subir da série C para a B do Campeonato Brasileiro e teve uma boa campanha na Copa do Brasil. Já 2018, ano marcado pela recuperação da economia da cidade, foi de queda no fluxo, já que o time não se classificou para o mata-mata do Gauchão e terminou a temporada rebaixado à série C nacional.
A loja no Jaconi abre durante toda a semana, mas nos dias em que o Juventude entra em campo a rotina muda. O ponto de venda estende o horário e fica aberto até o último torcedor ir embora do pátio. Em média, a Papo Store vende 7 mil artigos em um ano. Em um dia de confronto decisivo saem em torno de 60 camisas, o produto campeão de vendas.
– Não chegamos a ser dependentes dos jogos, porque abrimos durante a semana. Mas o jogo gera um fluxo importante. Em um mês, com partidas grandes, chegamos a fazer 40% do faturamento por causa delas – calcula Márcia.
A empresa tem uma funcionária fixa, mas recebe o reforço de temporários em dias de futebol no Jaconi. Dependendo do tamanho do jogo até 10 profissionais trabalham no local.
A garagem do Mano
No meio da rua e vestido com um colete refletivo verde-limão, Norberto Boff repete uma pergunta em voz alta aos motoristas que passam diante de seu estacionamento, localizado em frente ao estádio Alfredo Jaconi.
– Vamos para o jogo, mano? – indaga, apontando reiteradas vezes na direção da entrada da garagem.
Há três anos, Boff, também conhecido como Mano, é dono de garagem nas imediações da casa do Juventude. A principal fonte de renda vem dos clientes mensalistas, mas os jogos do alviverde proporcionam uma renda extra a cada mês. Com 28 vagas disponíveis, ele costuma cobrar entre R$ 15 e R$ 20, dependendo da importância da partida.
– Em meses de três jogos, chego a fazer R$ 2,5 mil. É um valor bom. O mensalista paga meus custos e com os jogos consigo tirar um extra como salário – relata.
Em um dia comum, Boff trabalha das 7h às 19h aproximadamente. Porém, nos jogos à noite tem de estender a jornada até depois da meia-noite e só conseguir ir para casa depois que o último cliente for embora.
O garagista conta que a relação com o alviverde vem de longa data. Seu pai era sócio do clube. Boff se define como Papo, mas, acima de tudo, como um torcedor dos clubes do Interior.
Kombi alviverde
Faça chuva ou faça sol, os irmãos Felipe e Gabriel Finardi estão sempre nos jogos do Juventude. E, desde 2017, a Kombi da Boss, cervejaria que a dupla comanda, também é presença garantida nas proximidades do estádio Alfredo Jaconi. O veículo tem chopeiras acopladas, que servem em torno de 100 litros de cerveja artesanal aos torcedores alviverdes a cada vez que há partida do Papo. Sempre há duas variedades da bebida disponíveis.
Gabriel Finardi comenta que o foco do veículo cervejeiro é atender eventos privados, mas nos jogos de futebol na cidade, incluindo os do rival Caxias, é aberta uma exceção. Os negócios feitos no entorno do Jaconi e do Centenário rendem uma boa fatia do faturamento mensal da empresa.
– Se fizer sol ou for um jogo importante, o movimento é forte. Cerca de 25% a 30% do faturamento vem das partidas – aponta.
Dependendo do jogo, a demanda é tanta que os irmãos Finardi não conseguem entrar para ver o Juventude em campo. O trabalho geralmente começa cerca de três horas antes de partidas do alviverde, quando a Kombi é estacionada no ponto habitual na rua de acesso aos portões do Jaconi. A maioria das vendas, contudo, ocorre na hora anterior ao apito inicial.
A Kombi da Boss é uma das atrações mais recentes nas proximidades do Jaconi. Gabriel Finardi enfatiza que a relação com os demais ambulantes é boa.
– Cada um tem seu espaço, dos mais veteranos até a gente, que somos dos mais novos a vender na rua – constata.
A Boss já trabalhou em jogos do Internacional em Porto Alegre e tem autorização para atuar na Arena do Grêmio, mas Finardi enfatiza é mais vantajoso trabalhar em Caxias do Sul.