Figura carimbada em eventos na cidade, Marco Toigo leva sua churrasqueira a todos os jogos do Caxias. Não há um só torcedor que não tenha se deparado com Toigo, ou melhor, com o Pisicola, como o vendedor de espetinhos é conhecido pelo público. Fanático pelo time grená, ele trabalha há quase 30 anos nas partidas do clube do coração. Um dos ambulantes mais veteranos no município, posiciona-se em lugar estratégico, bem em frente ao principal portão de acesso do estádio Centenário.
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Toigo tem na atividade um complemento da sua renda, já que durante a semana trabalha com cargas e descargas de produtos, como garçom e de churrasqueiro. Nos dias de futebol, o espetinho de carne lidera as vendas, representa mais da metade do faturamento. Entre 100 e 150 unidades são comercializadas por dia, em média. Em grandes partidas, contra Grêmio e Internacional ou em clássicos contra o Juventude, saem até 300 espetinhos. O vendedor também oferece bebidas ao público e, nos dias de chuva, tem até capas protetoras. Todo o estoque é levado no porta-malas de um velho Quantum, já com o vidro traseiro quebrado.
– Com uma média de 3 mil pessoas por jogo, dá para tirar uns R$ 1 mil brutos, 40% disso é lucro. Está bom. A única coisa ruim é o carro, mas até o final do Gauchão vou trocar – brinca.
Para vender nos dias de partidas, Pisicola tem o auxílio da esposa e da filha. O vendedor ainda atua nas imediações do Alfredo Jaconi, estádio do rival Juventude, e até mesmo em jogos da dupla Ca-Ju fora de Caxias do Sul. Todos sabem que Pisicola é torcedor do Caxias, mas o vendedor ressalta que tem uma boa relação com os alviverdes e diz que fez amizade com muitos deles nas últimas décadas.
O ambulante só lamenta não poder ver o Caxias em campo, por conta do trabalho.
– Ou tu trabalha ou vê o jogo – justifica.
Ainda assim, ele tem ao seu lado um rádio de pilha. Assim, enquanto serve o cliente, fica atento ao que está rolando no gramado.
Brasília grená
Se existe um programa comum entre torcedores de qualquer time, do Sul ao Norte do país, é tomar alguma bebida no entorno do estádio minutos antes de um jogo de futebol. E foi bebendo cerveja nos arredores do Centenário que os grenás Tiago Ferraro e Arthur Canez se conheceram. Vendo o potencial de consumo que existia nos dias de partidas, tiveram a ideia de montar um negócio de venda de cerveja artesanal chamado Anônimos Beer.
Há pouco mais de um ano, em todo jogo do Caxias, Ferraro e Canez estacionam uma Brasília amarela nas proximidades do Centenário. Junto ao veículo, trazem um reboque com um gerador de energia, que ajuda a manter a temperatura de até 150 litros de chope armazenados no porta-malas.
Cervejeiro de profissão, Canez é responsável por fabricar a bebida. Junto a Ferraro, que trabalha como vendedor durante a semana, comercializa a cerveja. A dupla conta ainda com o auxílio das esposas para administrar as vendas.
– No início não tínhamos muita certeza. Vai dar certo uma Brasília com um gerador do lado, fazendo barulho? No primeiro jogo saíram 50 litros, no segundo 80, depois 100 e foi indo – lembra Canez.
Mesmo com o trabalho em dias de jogos, assistir ao Caxias em campo é algo sagrado para a dupla. Minutos antes da partida, eles recolhem a estrutura e vão para a arquibancada. Ferraro e Canez geralmente entram no estádio com atraso. Por conta disso, já perderam alguns gols grenás. Ao final dos 90 minutos, eles voltam a abrir a Brasília cervejeira.
– É uma brincadeira legal, o pessoal vem e curte. Temos uns 150 a 200 clientes que todo jogo vêm beber conosco. Mas a regra é fechar quando começa o jogo – ressalta Ferraro.
Em média, são vendidos entre 100 e 150 litros de chope nos dias de jogos. Além das partidas, a empresa também fornece a bebida para eventos privados.
Ponto de encontro
Logo depois de o Caxias alcançar sua maior glória dentro de campo, o Gauchão de 2000, o torcedor da equipe Algilberto Bertuzzo ficou eufórico. A felicidade com o título era tanta que ele decidiu se mudar para uma casa localizada em frente ao estádio Centenário. Alguns anos depois, inaugurou no local um negócio. Nascia assim, em 2012, o Tatu Lanches, estabelecimento que se autodenomina como ponto de encontro da torcida grená. Na fachada, há o desenho de dois tatus com camisas do clube e a inscrição “Todos pela mesma paixão S.E.R Caxias”.
A expectativa de Bertuzzo ao criar a lancheria era faturar principalmente nos dias de jogos. Ele se dedica exclusivamente à casa de lanches. No entanto, ultimamente, constata que a movimentação está menor em comparação com temporadas anteriores.
O proprietário do Tatu Lanches conta que o período de maior faturamento do local foi quando o Internacional também mandava suas partidas no Centenário, em função da reforma do Beira-Rio para Copa do Mundo de 2014. Os jogos do Colorado na cidade, entre 2013 e 2014, somados aos do Caxias, garantiam um fluxo de clientes constante. Havia partidas em que eram vendidos mais de 200 xis ao longo do dia. Agora, há jogos em saem cerca de 10 lanches comenta, conta Bertuzzo.
– Estamos tentando sobreviver, este ano está fraco o movimento. Talvez seja consequência da crise ainda. Mas esperamos que melhore – projeta.