Um feliz dia a todos os professores. Parabéns para quem leva a profissão como parte do nome para o resto da vida. Mesmo que ensinar nem sempre seja uma missão tão valorizada, a maior conquista pode estar justamente na relação próxima com os alunos e na possibilidade de ver o crescimento de cada um deles.
Durante uma semana, o Pioneiro mostrou histórias de professores de educação física que fazem a diferença. Mestres que abriram suas aulas para que pudéssemos mostrar o quão importante é o trabalho de cada um deles e o que representam na árdua batalha diária de se reinventar.
Para comemorar esse dia, encerramos nossa série com uma história de quem passou mais da metade da sua vida fazendo a diferença em um mesmo cenário. A professora Adriana Cesa Pagnusati se aposentou após 26 anos vendo a transformação das crianças da Escola Municipal Renato João Cesa, no bairro São Caetano.
Hoje, mesmo sem se preocupar com avaliações ou na preparação de aulas, o dia é dela também. Afinal, ela será sempre a Profe Adri.
Foi difícil conseguir conversar com a professora Adriana sem que os alunos que acompanharam os últimos anos dela na Escola Renato João Cesa interrompessem querendo um abraço.
— Voltar aqui hoje é uma emoção — admitiu a professora.
A ligação com a escola vem de muito tempo. Foram mais de três décadas vivenciando diariamente a realidade da comunidade — 26 anos lecionando e seis na diretoria do colégio.
Numa conta rápida, Adri foi professora de mais de três mil alunos. Foram gerações que passaram pela quadra da escola, desde o tempo onde a arquibancada era um barranco até a atual área coberta. Após a aposentadoria, a professora só não abre mão do seu “joguinho de vôlei”, que sempre foi o esporte que mais gostou de ensinar em suas aulas.
Se definindo como professora das antigas, que gosta de fila e ordem na aula, Adri desafiava os colegas com as escolhas que fazia daqueles que representavam a escola nos Jogos Escolares:
— Os melhores no esporte são os piores em sala de aula. E as outras professoras perguntavam: “mas tu vais levar esse aluno?” E eu levava. Eles são outras pessoas lá. Te respeitam e obedecem. Eu dizia? “se não obedecer, a gente pega o carro e traz de volta”. Mas nunca precisamos fazer isso.
O período sem ir até a escola do bairro São Caetano não apagou a memória do que a professora viveu ali. Até porque, nem mesmo a conclusão do tempo de serviço afastou Adri do colégio:
— No meu primeiro dia de aposentada, tinha compromisso da escola e eu fui. Depois, segui indo com eles nos Jogos Escolares. A professora Aline Scotti deixava tudo pronto e eu os acompanhava.
Mesmo com tantas lembranças do que viveu nas aulas, tem um lugar que foi mais marcante na trajetória da professora.
— A sala dos professores, para mim, era um local recreativo. Lá a gente brincava, falava besteira e ria muito. Sempre foi muito divertido. É muito bom reencontrar os outros professores — admite Adriana.
A professora cruzou décadas ensinando e vivenciando o crescimento dos alunos. Contudo, com o passar do tempo, observou uma mudança no comportamento dos estudantes em relação aos mestres:
— Antigamente o professor era bem respeitado. Falava e o aluno obedecia. Como um pai. O meu falava, eu baixava a cabeça. O professor era assim também. E isso, hoje em dia, deveria ser mais considerado.
História e legado
Depois de tanto tempo e com tanta gente se formando pelas mãos de Adriana, as histórias de reencontros com alunos começaram a se tornar mais comuns. E isso foi passando, inclusive, para a família:
— Meu filho Gabriel foi trabalhar em uma empresa e veio me perguntar se eu conhecia um Iago, que era colega dele. E eu disse que ele era um terror. Ele disse para o Gabriel: “tua mãe acho que me odiava”. Até o chefe dele foi meu aluno em uma das primeiras turmas. Agora, meu filhos estão encontrando meus alunos.
A educação física foi a vida de Adri. E, através dela, a professora construiu sua carreira. O problema vinha quando alguém não queria fazer a aula.
— Eu obrigava. É uma matéria igual a outra qualquer. Fazia prova, dava teoria. Mas tem vezes que a gente é mãezona. Deixava não fazer um dia ou outro. “Não faz hoje, mas amanhã quero que tu faça”.
Adri só vai à escola para visitas. Mas a preocupação com quem segue levando a missão de ensinar é evidente.
— Persistência. Não está fácil hoje em dia. Falo pelo que vivi em escola pública. Tem muito aluno sem vontade, que está só pelo cinco para passar. Se eu tivesse que dar nota vermelha, eu dava. Se tivesse que deixar em recuperação, ficava – diz Adri, que acredita que a dedicação do professor ainda faz a diferença:
— Tem que ter uma maneira de dar aula que chame a atenção dos alunos. Tem que ser com aulas criativas para eles se envolvam. Comprometimento do professor para o aluno ter vontade de praticar.
Série completa
:: Não basta ser só professor: como a educadora Aline Scotti muda a vida de jovens em Caxias do Sul
:: Vocação no DNA: A história e os desafios da professora Paula Ghinzelli
:: Desafio pelo movimento: A forma do professor Cristiano Nunes ensinar educação física
:: Aula bem radical: Tiago Moreno aposta nos esportes alternativos em escola de Caxias
:: Referência: como o professor Gerard Mauricio Fonseca ganhou respeito da comunidade