A cidade de Carlos Barbosa se orgulha por ter sido nomeada a Capital Nacional do Futsal, título reconhecido no ano passado. Os mais jovens talvez nem imaginem, mas Caxias do Sul poderia ter sido considerada como o berço do futsal brasileiro se o período em questão fosse as décadas de 1980 e 1990.
Leia Mais:
De novo fora da elite, handebol de Caxias segue com trabalhos de base
Equipes de vôlei da Serra acabaram com equipes adultas por falta de patrocinadores
Intervalo: Basquete de Caxias repete dificuldades vivenciadas por UCS e Bento em outros anos
Naquela época, a modalidade ainda era denominada como futebol de salão. Ao todo, foram mais de 20 anos em que os caxienses puderam ver seus times figurando entre os principais clubes do país na modalidade.
De 1986 a 2006, passando por Enxuta, Vasco, Juventude, até chegar na UCS, muitos títulos foram comemorados e grandes nomes do esporte passaram pelas quadras caxienses. Depois, até 2010, Farroupilha também viveu seus momentos áureos na modalidade com a Cortiana/UCS/AFF.
São histórias lembradas por grandes personalidades do futsal e por quem vivenciou cada momento, seja com a bola pesada ou com o formato atual com que se disputa a modalidade.
Cada time teve suas cores, seus objetivos, seus elencos, mas contam com uma infeliz coincidência. Não existem mais. Pelo menos no alto rendimento.
Fatos e situações vividas com o vôlei, o handebol e mais recentemente o basquete de Caxias.
— É um sentimento ruim. O próprio Rodrigo (Barbosa, técnico do Caxias do Sul Basquete) está sofrendo o que passamos na época. Muda o tempo, mas o esforço e a dedicação de fazer algo pelo esporte é o mesmo. Ter uma pessoa se dedicando, assim como o (Gabriel) Citton no handebol, para levar o nome da cidade e não conseguir é triste. Isso passa por muita coisa, até por não termos um ginásio adequado para acolher todas essas modalidades. Isso influencia até na hora de conseguir patrocinador — resume Ênio Aguiar, que fez parte das comissões técnicas de Enxuta, Juventude e UCS.
O misto de sentimentos para todos que fizeram parte dessa história é de orgulho pelo que foi construído e frustração pela forma como o final de cada ciclo acabou se encaminhando. E o pior, a perspectiva de futuro não é positiva.
— A gente que é das antigas sempre fala que Caxias do Sul respirou o futsal e é uma pena que não tenha uma equipe forte no cenário brasileiro — concorda Serginho Schiochet, ex-técnico da seleção brasileira e da Cortiana, e que jogou por Enxuta, Vasco e UCS.
Assim como Serginho, o ex-jogador Índio Baungarten tem identificação com as três equipes caxienses. Ele iniciou a carreira nas categorias de base da Enxuta, mas também defendeu o Ju a Cortiana.
— Fico triste porque para viver do esporte, se tornar atleta, são necessárias referências. O que esses atletas de base vislumbram? A UCS tem categoria de base, mas eles vão jogar onde depois? Que espelho eles têm? Qual é a motivação? Vai chegar no juvenil e talvez um ou dois saiam para jogar em alto nível se tiverem oportunidade. Se você ver hoje, poucos atletas de Caxias estão em destaque no cenário nacional ou disputando uma Olimpíada. A cidade fica carente de ícones no esporte — lamenta.
Um desfile de craques
Imaginar hoje Falcão, Neto, Rodrigo, Leco, Valdin e as principais referências do futsal atuando em Caxias do Sul é até difícil. Mas o Ginásio Pedro Carneiro Pereira e o Enxutão, principalmente, não só receberam, mas foram a casa de grandes estrelas da modalidade. Manoel Tobias, Fininho, Bagé, Danilo, Ortiz, Morruga, Rabicó, Deives e até mesmo Valdin, que atualmente defende a ACBF. Teve até jogador começando aqui e retornando já como melhor do mundo. Este é Jorginho, o eterno camisa 13 da Enxuta e que fez história a ser o primeiro brasileiro a ser considerado o melhor jogador de futsal do mundo.
— Eu lembro de cada segundo porque foi a melhor fase da minha carreira profissional, foi onde conquistei a maioria dos títulos, cheguei à seleção, depois campeão mundial e o primeiro brasileiro a ser o melhor do mundo, em 1992 — orgulha-se o ex-pivô, que hoje trabalha em escolhidas de futsal em Parobé e faz questão de ressaltar que seus dois filhos são caxienses.
Serginho Schiochet foi capitão por um longo período em um time recheado de estrelas que faziam parte da multicampeã Enxuta, como Manoel Tobias, Fininho e Bagé:
— Fiquei dois anos na Enxuta e fui bicampeão gaúcho, campeão da Taça Brasil. Foram dois anos memoráveis. Caxias é quase a minha segunda cidade porque entre Enxuta, Vasco e UCS fiquei muitos anos.
Entre os nomes marcantes, muitos que fizeram história também na seleção brasileira também nos demais times. No Vasco, além de Serginho, passaram jogadores como Pedrinho. No Juventude, Índio Baugarten, Ângelo, Acidésio, Jorginho com Jarico como técnico. Já por UCS e Cortiana, na parceria que se formaria em 2006, nomes recentes como Rogério, Mike, Índio (fixo), Índio (pivô), Ricardinho, Valdin. Estes últimos com o comando de Vander Iacovino. O ex-camisa 12 da seleção, atualmente é técnico do Joinville, por quem conquistou a Taça Brasil e a Liga Nacional no ano passado.
— Fico triste por esse momento porque Caxias do Sul sempre foi polo nacional do futsal. Tivemos grandes equipes no passado, como a Enxuta, Juventude, que também jogou a Liga Nacional. A população gosta de esporte, acompanha. No ano passado tivemos o basquete forte no NBB. Eu nem sei como buscar de novo, até porque não estou no Rio Grande do Sul. Mas é importante lutar, buscar parcerias com empresas, que são fortes em Caxias, porque se depende muito de patrocinadores para montar uma equipe competitiva para ter novamente Caxias no cenário nacional porque isso faz muita falta — lamentou o técnico, que levou a Cortiana ao terceiro lugar na Liga Nacional e na Série Ouro de 2008.