O Caxias do Sul Basquete cumpriu com um triste roteiro que tem afligido quase todas as equipes de alto rendimento da Serra Gaúcha. Após uma campanha irreparável e ter atingido o seu auge, as quartas final do NBB 10, se viu obrigado a encerrar suas atividades no time adulto por falta de recursos financeiros.
O basquete se une a modalidades como vôlei, futsal e handebol. O fechamento do ciclo tem, em comum, a inexistência de patrocinadores. O Pioneiro inicia hoje uma série de reportagens para contar os áureos tempos do esporte serrano e, junto com ele, o fim de quase todos os times que atingiram protagonismo e representaram as cidades em nível nacional.
Nas últimas duas décadas, o vôlei se consolidou como o segundo principal esporte do país. Desde a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, a modalidade conquistou os brasileiros. A seleção coleciona triunfos e a Superliga Masculina está organizada e fortalecida. O cenário é o oposto do vivenciado pelos clubes da Serra Gaúcha, que por muito tempo fizeram parte desta história.
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Num passado não muito distante, UCS e Bento Vôlei escreviam capítulos vitoriosos. De 2002 até 2010, a equipe mantida pela universidade fez grandes campanhas, chegando nas quartas de final em três oportunidades. Na sua última temporada, teve ginásio cheio para ver a equipe superar a tricampeã Cimed/Florianópolis, em Caxias do Sul. Na melhor de três, os catarinenses venceram a série por 2 a 1. Mesmo com o apoio da comunidade, o projeto foi abreviado em julho daquele ano.
— Foi o mesmo motivo (que o Caxias Basquete), a questão financeira pesou. A equipe chegou até um determinado patamar, ficamos na sexta colocação (na temporada 2009/2010), e não conseguimos mais apoio para dar continuidade. O time foi para a Sogipa (Porto Alegre) e depois virou Canoas. Eles (time de Canoas) também fecharam as portas este ano por falta de recursos — relembra Carlos Bonone, coordenador da Vila Poliesportiva da UCS.
Em 2017, o Bento Vôlei foi a vítima deste roteiro. Com 13 participações na Superliga, o clube serrano teve que abdicar da sua vaga pela segunda vez em menos de uma década – a primeira foi em 2009. A equipe foi vice-campeã da Superliga B em 2015 e conquistou o acesso à elite. Duas temporadas depois, não conseguiu dar sequência ao time adulto.
— Fizemos o mesmo processo do basquete de Caxias. Mesmo com direito a seguir na Superliga, entregamos a vaga por não termos os recursos mínimos para participar — lamenta Romildo Rizzi, presidente do clube.
Foco na base
Para a Serra Gaúcha, resta apenas lapidar alguns talentos na base. Um exemplo é o levantador Fernando Kreling, o Cachopa. Formado na APAAVôlei/UCS, ele será titular do multicampeão Sada/Cruzeiro nesta temporada. Em Minas, há algumas temporadas, ele tem um currículo extenso nas categorias de base da seleção brasileira.
O que falta por aqui é a oportunidade de crescimento, o espelho na hora da profissionalização, até mesmo para as novas gerações saberem que existe vida além do futebol.
— Perdemos mais uma equipe de alto rendimento. Já foi o futsal, o vôlei e agora o basquete. Poxa, movimentava meia cidade. A galera comprando ingressos e falando do basquete, isso envolve a comunidade. É muito triste. Caxias tem o potencial de atletas e de aporte financeiro, mas as empresas não apoiam— opina o técnico Giovani Brisotto, da APAAvôlei/UCS.