Outra manhã de treino e os meninos querem mostrar serviço para o técnico Titi. Augusto, a dupla Cauã Neri e Cauã Luiz, Gustavo, Cauê, Douglas, Victor, Wesley e Kalvin buscam uma vaga entre os titulares. Pelos nomes, você já deve entender que o cenário não é a Áustria, onde a Seleção Brasileira joga neste domingo. Na verdade, trata-se da Escola Municipal Ester Benvenutti, no bairro Fátima, em Caxias do Sul.
A camisa do PSG com o nome de Neymar às costas poderia interligar os locais? Tampouco. A ligação está nos treinadores.
O nome Altemir Roberto Gauer não tinha tantos holofotes sobre si, mas a proximidade com a Copa do Mundo o apresenta ao Brasil. Altemir é Titi. Ele é amigo e o dono do apelido consagrado por Adenor Leonardo Bachi.
— Como tu vais imaginar que teu amigo de infância, que estudou contigo e jogou bola junto, iria pegar o teu apelido emprestado e ser técnico da Seleção? Fico contente — afirma Altemir.
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A confusão de apelidos é obra de Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Titi e Adenor faziam o meio de campo da Escola Henrique Emílio Meyer no campeonato escolar de 1975, em Caxias do Sul. O primeiro era o dono da camisa 8, enquanto o segundo era o 10. Já Felipão, além de zagueiro do Caxias, era treinador do time do Cristóvão de Mendoza. No embate entre os colégios, o técnico do Cristóvão estava extremamente incomodado com a dupla de meio-campo do rival e as informações que havia recebido.
— Nosso time do Emílio era muito bom. Ele (Felipão) já sabia que tinha um menino que era muito habilidoso, rápido e tinha bom toque de bola, que no caso era eu. Ele estava preocupado com isso e queria saber quem era. Aí, no dia que fomos jogar com o Cristóvão, ele me viu e gostou. No andar da carruagem, também gostou do futebol do Ade. Por isso, convidou nós dois para fazer um teste no Caxias — relembra Altemir.
Decisões opostas
Num primeiro momento, nenhum dos dois levou a sério. Jogaram até o fim do ano e a vida os separou. Altemir foi estudar no Carmo, Adenor no Cristóvão.
Felipão, então, encontrou Ade novamente e o convenceu a ir para o Caxias, por mais que ele já jogasse no Juventude e trabalhasse para ajudar em casa. Altemir não foi. Nessas decisões, os nomes se misturaram.
— O Felipão não gostava do nome Adenor para jogador de futebol. Aí sugeriu: “coloca o nome daquele teu colega que não veio”. A partir daí todos começaram a chamá-lo de Tite — conta Altemir.
A vida seguiu. Altemir hoje é o professor Titi, ministra aulas de educação física e é o técnico do time da escola Ester Benvenutti nos Jogos Escolares de Caxias do Sul. Vê nascerem novos talentos anualmente.
— Já indiquei alunos para o Caxias, o Juventude e até para a escolinha do Santos. Quando a gente vê que o menino tem destaque, indicamos — conta ele.
Adenor hoje é treinador da Seleção e escolhe os melhores talentos brasileiros para vestirem a camisa amarela. Caminhos com responsabilidades gigantes. Enquanto um forma pessoas, o outro trabalha com a grande paixão nacional.
Em junho, os dois seguirão próximos pelo futebol, mesmo com um oceano os separando. Titi será o torcedor de Tite e tem grande esperança para um final feliz do amigo.
— Tem chances de disputar o título. Se vai ganhar, não se sabe. Acho que faltaram alguns amistosos com os europeus, mas se o time abraçar a filosofia dele, o Brasil tem grande chance de voltar com a Copa — opina Altemir.