O grupo do Grêmio embarca nesta quarta-feira, às 11h15min, para buscar o bicampeonato mundial. A delegação tricolor sai de Porto Alegre rumo à Al-Ain, nos Emirados Árabes, para a disputa de sua primeira semifinal de Mundial Interclubes da Fifa na história, contra o vencedor de Pachuca, do México, e Wydad Casablanca, do Marrocos. Entre os inscritos, um caxiense que venceu as críticas e foi titular na decisão da Libertadores, em Lanús. Cria da base do Juventude, Bressan comemorou muito a conquista continental.
Nos poucos dias em que esteve em Caxias do Sul antes da viagem, o zagueiro recebeu o Jornal Pioneiro. Mantendo a mesma simplicidade e humildade das conversas no Alfredo Jaconi, o defensor de 24 anos falou das provocações aos rivais, a desconfiança com sua escalação para a final na Argentina e a expectativa do Mundial.
Título da Libertadores
— É uma coisa que hoje não temos a dimensão real do tamanho. Só daqui há alguns anos que vamos saber. Ainda mais por todos os momentos que vivi dentro do Grêmio e pelo tempo que estava lá. Vai marcar minha vida. Fico feliz por ter compartilhado com meu pai lá (na Argentina) e depois aqui (em Caxias) com meus amigos, minha família, as pessoas que gostam de mim. É diferente para nós que somos gaúchos conquistar uma coisa tão grande com um clube desses.
Escalação na final
— Primeiro fiquei triste pela maneira injusta que foi a situação com ele (Kannemann). Um cartão que ele não merecia ter tomado, mas infelizmente aconteceu e a responsabilidade caiu para mim. Claro que a ansiedade bateu forte durante toda a semana. Foi difícil dormir. Sabia do peso que tinha na minha carreira e na minha vida esta atuação. Sabia que seria um divisor de águas por tudo que aconteceu comigo. Mas procurei ficar tranquilo, até pela confiança que o Renato tem comigo, que sempre me passou. Ele tem uma amizade muito grande com os jogadores. Temos um grupo muito bom. Eu me apegava muito nos meus companheiros e amigos do grupo que deram a volta por cima, e sabia que era o momento de eu dar a volta por cima também. E a melhor maneira era sendo campeão. Mas, na hora que cheguei para o jogo, a ansiedade passou. Entrei no modo automático sabendo o que tinha que fazer.
Confiança para a final
— Confiança sempre tive. Sei dos momentos difíceis que passei, dos erros que cometi e do que deveria aprender. Mas também sempre soube diferenciar uma crítica maldosa de uma crítica construtiva. Isso me ajudou. Minha família sempre me ajudou também. Mas a confiança foi a mesma do jogo do Cruzeiro, pela Copa do Brasil. Eu sabia do peso e da responsabilidade que eu carregava, isso não dá para negar. Mexemos com a paixão de 10 milhões de gremistas, e quem podia dar essa felicidade éramos nós. E eu sabia que todos os meus jogos aqui em Caxias, no Juventude, e até na minha escolinha de futsal, tudo se resumia nesse jogo. Então procurei fazer o que sempre gostei: jogar futebol.
É um filme que se passa. Tu entras ali sabendo que é um jogo para todo o mundo te olhar. E sabíamos que poderíamos ser lembrados positivamente ou negativamente, dependendo do resultado. É um sonho de criança, por ter saído de Caxias. Valorizo muito o Juventude, que me deu toda a base. Todos os profissionais, desde a escolinha, que me ajudaram a chegar até aqui.
Sei que não é uma conquista só do Bressan. É uma conquista de muitas pessoas daqui de Caxias, da minha família, do pessoal de Porto Alegre que me ajudou. Compartilho essa conquista com eles também.
Ramiro
— Temos uma amizade de muitos anos. Passamos por vários momentos pessoais e profissionais juntos. Até no aquecimento da final nos olhamos e falamos “que clima que a gente está vivendo aqui”. O estádio cheio. Lembramos do que passamos, jogos bons e ruins. E nos encontrávamos em uma final de Libertadores. Depois fizemos questão de tirar uma foto com o troféu, da mesma maneira que tiramos na Bento Freitas, em 2012, na Copinha, que também é inesquecível para nós. Nossas famílias se conhecem. O pai dele estava lá, o meu também.
Kannemann e Geromel
— Temos uma convivência diária. Uma amizade muito grande, que não fica só reservada ao CT. Às vezes saímos para jantar, nossas famílias se conhecem. Tenho uma admiração muito grande por eles. Não só os dois, mas o Bruno Rodrigo, que por onde passou foi campeão, o Thyere. Sempre tivemos uma disputa muito sadia. Procuro conversar muito com o Geromel e o Kannemann para pegar experiência. Acho que desde que cheguei no Grêmio eu evolui. Tive um começo um pouco difícil e talvez injusto. Mas nunca perdi meu controle sobre isso. Sempre fui muito franco e sério, e sabia que minha hora de dar a volta por cima ia chegar.
Disputar o Mundial
— É um sonho que alimentamos o ano todo. E que parecia estar tão longe e agora está tão perto. O Grêmio está aí por merecimento. Não caiu no colo a vaga. Agora temos que ter cabeça no lugar. Saber que temos uma semifinal pela frente. Procurar conhecer a equipe que vamos enfrentar. Hoje estamos em um Mundial e a concentração que tivemos durante o ano vai ter que ser elevadíssima para enfrentar equipes que não caíram lá de graça. Existe a questão da confiança porque viemos de um título, mas tem algumas coisas que precisamos tomar cuidado. Após um título há um relaxamento, e isso não pode acontecer porque temos uma grande competição pela frente. Tudo tem pró e contra. Tudo vai depender do que o grupo vai fazer daqui por diante.
As críticas
— Eu nunca reclamei de qualquer crítica porque sei que o torcedor é movido pela paixão. Mas nunca deixei de fazer meu trabalho. Entrei no Grêmio em 2013. Entre idas e vindas faz muito tempo que estou no clube. O momento da festa em Porto Alegre é uma coisa que sempre irá me arrepiar quando for lembrar e falar porque é um momento único. Mas eu nunca vou esquecer os momentos difíceis porque foram eles que me trouxeram a este momento de ser campeão. Valorizo cada um deles, que teve muita importância no meu amadurecimento.
Sempre tive o apoio do meu pai, da minha mãe, do meu irmão. Eles me fizeram forte nos momentos difíceis. Então não foi fácil. Mas a vida de jogador é de altos e baixos. Isso vai acontecer. O importante é saber passar por isso e tirar as lições disso.
Cornetas nos adversários
— Não estava engasgado nada. Isso é uma coisa que faz parte do futebol. Claro que tem que respeitar as instituições. Às vezes, você faz alguma coisa e se arrepende. Mas fizemos mais como uma forma de brincar e provocar porque isso faz parte. Respeitamos os colegas do Inter. Mas hoje o Grêmio é campeão e está no seu momento de alta. Quando o Sasha fez aquele tipo de coisa, estava no seu momento e nenhum jogador do Grêmio reagiu. A resposta veio dentro de campo com o maior título de um clube na América do Sul.
Eu mesmo falei algumas coisas do Cruzeiro e peço desculpas. Estava no meu momento de extravasar. Dei uma declaração que me arrependo. Mas a provocação saudável tem que existir. Temos um treinador que é muito bom nisso. É um cara muito sincero e que não se importa muito com a opinião pública. Claro que ele é sempre muito educado. Gosto do jeito dele. Esse futebol raiz que o pessoal fala vive dentro da gente. A rivalidade que existe no Rio Grande do Sul é uma das maiores do mundo. Para as pessoas que entenderam mal, também peço desculpas. Eu não quis rebaixar o Inter. Só quis dizer que, naquele momento, éramos campeões da Libertadores. Mas respeito muito.
Expectativa para o Mundial
— É o momento de se concentrar. Não podemos tirar o foco. Temos mais duas semanas de trabalho nesta temporada para fechar o trabalho com chave de ouro. Claro que ter sido campeão da Libertadores é um feito que ninguém vai apagar, mas precisamos representar bem o Grêmio. Precisamos respeitar as equipes que vão estar lá, mas o Grêmio é muito grande.