Dia 1º de setembro de 2016, em Quito no Equador. Casemiro lança uma bola por trás da defesa equatoriana, Gabriel Jesus ganha da zaga e sofre pênalti. Neymar cobra e abre o placar para o Brasil, na estreia de Tite como técnico da Seleção Brasileira, com vitória de 3 a 0 sobre o time rival.
A história depois disso é de alegrias e invencibilidade de um Brasil classificado para a Copa da Rússia em 2018. Acontece que o lance descrito não é fruto do acaso e sim de muito estudo e análise. Quem contou esse detalhe à reportagem do Jornal Pioneiro é Matheus Bachi, que não rechaça o rótulo de filho de Tite, apesar de ter seu grau de importância e relevância no trabalho do treinador, sendo analista de desempenho e auxiliar-técnico da Seleção. Sim, foi Matheus que, no vestiário, alertou Casemiro para esta jogada.
- Eu percebi que o Casemiro era o único do meio que tinha liberdade para furar a última linha deles e que o Jesus estava ganhando na velocidade. Falei isso no vestiário no intervalo - revela.
Essas e outras histórias de bastidores e tudo o que acerca o trabalho da comissão técnica do Brasil serão contadas na noite desta segunda-feira, no 3º Simpósio de Futebol da Serra Gaúcha, que acontece no Ginásio II da Vila Poliesportiva da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a partir das 19h. Além de Matheus, o evento também contará com Cleber Xavier (auxiliar-técnico) e Fernando Lázaro (analista de desempenho), todos da “equipe Tite” de trabalho.
Aos 28 anos, Matheus, que há três meses se tornou pai diz viver seu melhor momento na vida, não só pelo filho Lucca e pela esposa Fernanda, mas por ser um privilegiado de ver um trabalho se tornar vitorioso na principal comissão técnica do futebol brasileira.
- É um momento especial. Não pode desvincular uma coisa da outra (ser filho do técnico), mas falo da comissão em si, nem só do grupo de atletas. Tu ver os resultados e tudo como acontece é muito gratificante – acrescenta o caxiense, que antes de chegar à Seleção, foi jogador no interior gaúcho em clubes como o Três Passos, Cruzeiro de Porto Alegre, mas que antes mesmo de jogar sempre acompanhava o pai e sua vitoriosa jornada até a próxima Copa. Como auxiliar, Matheus Bachi foi auxiliar do Caxias em 2015, depois de fazer estágios e trabalhar em clubes da Europa como Barcelona-ESP, Inter de Milão-ITA, Shahktar Donetsk-UCR.
Entrevista - Matheus Bachi, auxiliar-técnico e analista de desempenho da Seleção Brasileira
Entrosamento
Sempre acompanhei o trabalho do Cleber Xavier, do Flavio Mahseredjian, que trabalhavam com o meu pai, mas trabalhamos juntos mesmo em 2015, no Corinthians.
Análise de Desempenho
Usamos muito. Quando chegamos na CBF criamos o Centro de Pesquisa e Análise (CPA), nominado pelo homem (Tite), para estudar e aprofundar o futebol, com números, mas como se chega e como se usa eles em situações de jogo.
Ingresso na Seleção
Foi uma semana tumultuada, perdemos um clássico para o Palmeiras, o Brasil perdeu para o Peru e começou essa conversa. Acreditava que meu pai era merecedor disso, mesmo que eu não fosse para a comissão. Queria muito, mas esperava pela decisão do meu pai.
Momento da seleção
Vejo um processo de afirmação de desempenho de atletas de muita qualidade, que hoje são favoritos para ganharem uma Copa, mas que eram tidos como jogadores de uma geração fracassada. São talentos que são reafirmados na Seleção. São feras que acordaram.
Funções
Eu fico mais com as jogadas de bola parada defensivas e ofensivas nossas e do adversário, mas tudo é passado para a comissão democraticamente. Todos debatem. Essa é uma das grandes qualidades do Tite, ele ouve todos e todos da comissão chegam com uma mesma informação para cada atleta. Isso dá credibilidade e confiança.
Semelhanças com Tite
Levo muito dele é o senso de justiça. Vencer, mas leal e tratando todos da mesma forma. E é impressionante a vontade dele em aprender. Sempre está buscando se reciclar e mesmo menino eu sempre vi isso e não mudou.
Convocações
Semana passada estava analisando o leque de atletas. De segunda à sexta. Era uma lista de 34, mas que antes vinham de um filtro de 45 e chegou nos 23 que foram convocados. Vamos fechando o leque, mas sempre com pontualidades como exceção.
Nomes para a Copa
Poucos não foram convocados e não posso falar muito. Um é o Malcom, ex-Corinthians, que vem crescendo muito com ótimo desempenho e crescendo nos números também. Outro é o Jorginho do Napoli. Mas é pouco tempo para experiências. Surpresas vão depender dos atletas, não está fechado.
Diego Souza
Não temos um pivô de bola aérea para mudar uma partida. Dá retenção na frente com qualidade e acompanha o pensamento de Neymar, Coutinho. Sempre foi bem quando foi chamado. Tem um nível de inteligência muito alto.
Legado
Um grupo maduro que passou por muita coisa como a derrota em 2014 e o ouro em 2016. Eles ganham e não têm euforia. Eles querem seguir ganhando e isso nós trouxemos a eles, de saber o que tem de fazer e ter um nível de conhecimento muito grande.
Convivência com estrelas
Brinco com os amigos que não sei o que é isso porque já vivi nesse meio. Daqui a pouco estou conversando com um gênio, um craque de igual para igual. Meu pai é um exemplo disso, ele é um gênio. Daí tu conversas com Casemiro, Neymar, Philippe Coutinho, Daniel Alves, Marcelo, todos de bom grado e que te tratam bem.
Proximidade
Converso mais com o Renato Augusto, conheço ele desde os tempos de Corinthians. Vou pegando liberdade aos poucos, até porque o período é curto. Nossa rotina é desgastante, passa informação de trabalho e não se fala muito de coisas pessoais.