Fazer do esporte uma escolha de vida. Para alguns, se dedicar desde a infância, passar por horas, dias e anos de treinamento, abdicar de levar uma "vida normal" como os outros jovens para chegar ao convívio dos melhores. Para outros, o esporte surge como uma grande possibilidade. Não de fazer carreira profissional, mas para buscar uma vida mais saudável.
No sábado, a Clínica de Tênis de Dupla, realizada pela academia Bohrer Sports, uniu um pouco dessas duas realidades. O mineiro André Sá, 40 anos, disputou a Olimpíada do Rio 2016. Começou com 19 no circuito da ATP (Associações dos Tenistas Profissionais). Com essa idade, eu ainda sonhava em ser jornalista esportivo.
O caxiense Marcelo Demoliner tem 28 anos e, há poucos dias, o acompanhava pela TV disputando a semifinal de duplas mistas na grama de Wimbledon, um dos maiores torneios do mundo. No sábado, ambos estavam ao meu lado.
E receber a palavra de incentivo em cada batida da raquete na bola que passava a rede ou, naquelas que estouravam na fita e voltavam para o meu lado, ouvir um "não desiste" foi importante para mim e para os 54 participantes da clínica.
O tempo foi passando. Das primeiras bolas devolvidas, mais afoitas do que com qualidade, até a sequência de acertos, me esforcei ao máximo. Não havia frustração por não chegar em algum lance ou cometer um erro. Todo momento valia como mais um aprendizado.
No sábado, não estava na quadra um jornalista incomodado porque não conseguiu ser tenista profissional. O mesmo valia para os médicos, engenheiros ou advogados que participavam do evento. Ninguém ali mirava uma partida da ATP. Longe disso. Eram pessoas aprendendo. Cada um de nós queria buscar, de alguma maneira, receber o máximo possível de conhecimento daqueles dois, que talvez não mensurassem a importância de cada lição nas diferentes realidades ali inseridas.
Desafio no saque de Demoliner
Depois dos movimentos, dos treinos específicos, tive a chance de jogar. E me colocaram para correr. Na linguagem dos tenistas, fui o para-brisa, de um lado para o outro da quadra. A prática, quando se tem do outro lado atletas que passam meses fora do país no circuito da ATP, é diferente. Não sei se é o espírito competitivo ou o simples prazer de desafiá-los para que, pelo menos em uma vez, fiquem em situação desconfortável.
Tomei coragem e pedi para o Demoliner que desse um saque "as ganhas". Pensei que poderia pelo menos tocar na bola. O tempo no qual pensei nessa hipótese foi mais demorado do que o período necessário para a bolinha bater na sua raquete, no saibro, e alcançar com força a grade atrás da quadra. Não vi qual foi a velocidade do saque. Se 120 km ou 180 km. Não vi nem a bola passando.
O tempo da clínica acabou. Uma hora e meia de convivência diferenciada, de uma experiência que mostrou o quanto o simples fato de tentar superar meu próprio limite vale a pena. Hoje, sigo como jornalista. Os outros alunos do sábado continuarão suas carreiras, enquanto Sá e Demoliner vão seguir lutando pelas vitórias mundo afora. Eles deixaram um pouco do seu conhecimento para nós, mas tenho certeza que deixamos um pouco do exemplo da nossa determinação.