De um lado, um bicampeão olímpico, dono de cinco medalhas em Jogos e 11 títulos mundiais. Do outro, um campeão olímpico, com três medalhas no total e três títulos mundiais. Entre eles, uma atleta de um esporte desconhecido no Brasil, que surpreendeu a todos ao conquistar o bronze em 2012.
Se o currículo valesse na hora de escolher quem seria o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura da Olimpíada, Yane Marques provavelmente não seria a primeira opção. Mas foi ela, a pernambucana de 32 anos de sorriso fácil, representante do país no pentatlo moderno, a escolhida a levar a bandeira do país na primeira vez em que os Jogos Olímpicos serão disputados aqui.
Caberá a Yane Márcia Campos da Fonseca Marques liderar a delegação de 465 brasileiras e brasileiros que vão entrar no campo do Maracanã, hoje à noite – fechando o desfile, após as outras 206 nações mostrarem os seus atletas.
Nascida em Afogados da Ingazeira, no sertão de Pernambuco, em 7 de janeiro de 1984, Yane recebeu 49% dos 961.562 votos computados em eleição feita pelo globoesporte.com – Serginho ficou com 40%, e Scheidt foi escolhido por 11% dos internautas. É o reconhecimento popular a uma atleta de um esporte que, com exceção das Olimpíadas, não é acompanhado pelos brasileiros. E que foi conhecido tarde até mesmo por Yane.
Aos 11 anos, ela se mudou para Recife, e logo em seguida começou a nadar pelo Náutico. Em 2003, com 19 anos, Yane se destacou em uma prova de biatlo – que envolve natação e corrida – e foi convidada a treinar no pentatlo. De cara, precisou aprender esgrima, tiro esportivo e equitação, e em dezembro do mesmo ano, participou da sua primeira prova na modalidade em Porto Alegre – vencendo a disputa.
O começo foi bom, mas era difícil ganhar a vida como pentatleta. Não havia patrocinadores, e os custos do esporte são altos. A vida de Yane mudou em 2009, dois anos após conquistar o ouro no Pan do Rio, quando o Exército formou uma equipe para a disputa dos Jogos Mundiais Militares de 2011, disputados no Rio.
A partir daquele ano, a pernambucana passou a ser terceiro sargento, recebendo um salário mensal e toda a estrutura para treinar na Escola de Educação Física do Exército – também no Rio. Com a ajuda das Forças Armadas, a relação de Yane com Porto Alegre ganhou um novo capítulo, após o começo vitorioso no Rio Grande do Sul: os seus treinadores vivem na capital gaúcha, o coronel Alexandre França e o capitão de infantaria Thales Metre.
– Ela não tinha muito conhecimento das novas disciplinas quando começou, mas passou por um processo lento e gradativo de ensino e aprendizagem. Hoje, ela treina de seis a oito horas por dia, seis dias por semana. A Yane é muito focada e determinada, e é muito regular em todas as disputas. Isso que é importante no pentatlo, pois o melhor pentatleta é aquele regular em tudo – explicou Metre, que não escondeu a satisfação ao falar da escolha da pupila como porta-bandeira. – É motivo de orgulho para nós como treinadores dela e como militares.
A partir de 2009, os resultados levaram Yane ao primeiro patamar do pentatlo. Apesar da decepção com a prata no Pan de Guadalajara, ela conquistou o ouro nos Jogos Militares em 2011. Em 2012, o grande momento da carreira, com o bronze em Londres, seguido da prata no Campeonato Mundial, em 2013, e do ouro no Pan de 2015. Tudo pronto para alcançar o topo no Rio – com a consagração de ter levado a bandeira do Brasil à frente da equipe nacional.
A segunda porta-bandeira
A escolha por Yane Marques é representativa por vários motivos. Ela é a primeira porta-bandeira brasileira, desde 1988, a não ser campeã olímpica. Mais importante, a pernambucana é apenas a segunda mulher a levar a bandeira do Brasil na cerimônia de abertura. Antes dela, apenas Sandra Pires, campeã olímpica ao lado de Jaqueline Silva no vôlei de praia em Atlanta 1996 – na primeira medalha de ouro feminina da história do país – havia tido a honra.
*ZHESPORTES