Tenho convicção de que faremos uma boa e organizada Olimpíada, a exemplo do que já ocorreu com a Copa do Mundo há dois anos. Também creio que os nossos atletas representarão dignamente o povo brasileiro, conquistando medalhas e bons resultados na medida do possível.
Porém, mesmo antes da cerimônia de abertura, posso, lamentavelmente, adiantar que fracassamos na realização dos Jogos Olímpicos do Rio.
A afirmação, especialmente dolorosa para mim, que entreguei minha vida inteira aos ideais do esporte, não tem a ver com a organização dos Jogos ou com o desempenho que os 465 atletas do Brasil alcançarão durante o evento – contra os quais também tenho críticas, mas não as farei agora. Tem a ver com o legado, que, sem dúvida, seria o grande trunfo de trazer para o nosso país os Jogos Olímpicos. Construir essa herança e deixá-la para o futuro significaria mudar a forma como enxergamos o esporte e os investimentos que são feitos para o seu desenvolvimento.
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E qual é este legado?
Se entendermos que o esporte cumpre uma importante função de inclusão social, ao tirar os jovens das ruas e das drogas, chegamos à conclusão de que ele ajuda no combate à violência, contribuindo assim na garantia de segurança pública e nas melhorias de saúde e de educação.
Portanto, a democratização do acesso ao esporte, a difusão da cultura esportiva e, principalmente, a criação de um sistema nacional do esporte que transforme em permanentes algumas das atuais políticas públicas, que são provisórias e devem, pelo menos na sua maioria, ser finalizadas após os Jogos, poderiam elevar a sociedade brasileira a outro patamar.
A grande herança da Olimpíada no Brasil poderia ser – mas não é – a organização de uma estrutura permanente de fomento ao esporte, com divisão de tarefas e responsabilidades entre os entes (União, Estados e municípios, clubes formadores, atletas, gestores, iniciativa privada etc).
Assim, um novo e duradouro ciclo de desenvolvimento global do ser humano seria possível.
E, ao final de tudo, passaríamos a olhar o apoio ao desenvolvimento do esporte não como um gasto para a conquista de medalhas – que não é o objetivo fundamental – ou a construção de arenas, mas como um investimento na formação de crianças, jovens e adultos mais saudáveis e prontos para os desafios da vida.
*ZHESPORTES