Quatro anos após a fatídica eliminação do Brasil na Copa de 2010, os caminhos do futebol colocaram lado a lado os dois principais personagens daquele Holanda 2x1 Brasil: o volante Felipe Melo, autor do gol contra que deu o empate para os holandeses, e o meia Sneijder, que assinou o gol da virada. No Galatasaray, da Turquia, os dois não apenas atuam juntos como são parte da mesma "panelinha" estrangeira, completada por nomes como o marfinense Drogba, o uruguaio Muslera e o último a chegar, o lateral-esquerdo Alex Telles.
Curtindo férias em Caxias com a família e a namorada, entre uma rodada e outra de chimarrão o jogador revelado pelo Juventude falou sobre a amizade com Sneijder, a quem prometeu visitar no hotel onde a seleção holandesa irá se hospedar em Porto Alegre para o jogo contra a Austrália, e também com Felipe Melo, em quem descobriu um ídolo.
Telles também falou sobre a adaptação ao futebol europeu e mostrou-se confiante para estar entre os convocados para a próxima Copa, quando terá 25 anos. Qualidade para tanto, o melhor lateral-esquerdo do último Campeonato Brasileiro, prêmio que estampa em dois troféus na sala do apartamento no bairro Rio Branco, já mostrou que tem.
Pioneiro: Como foram esses primeiros seis meses no futebol europeu?
Alex Telles: Foram muito bons. Cheguei sem saber o que ia encontrar de língua, torcida, imprensa, jogadores, e não esperava uma ascensão tá rápida. Tinha uma grande responsabilidade, pois esperavam o melhor lateral-esquerdo do Campeonato Brasileiro, e já no aeroporto havia duas mil pessoas me aguardando. Senti uma pressão boa, que me motivou ainda mais. Já de cara fui abraçado por todos e foi incrível poder jogar com Felipe Melo, Sneijder, Drogba, Muslera, além de muitos jogadores da seleção turca. Aprendi muito.
Pioneiro: Fala-se que o torcedor turco é um dos mais fanáticos do mundo...
Alex Telles: São apaixonados demais. Eles não têm medo de te abraçar e dizer que te amam, que tu é rei, tudo isso. É um carinho diferente que percebi quando cheguei lá. Jogadores como o Melo e o Drogba são ídolos, não conseguem sair na rua e levar uma vida normal. Eu ainda estou começando, mas assim que passei a ser mais conhecido já ficou mais difícil também. Só que é uma torcida apaixonante, que não vi em nenhum lugar.
Pioneiro: Já foi noticiado que tu irás encontrar o Sneijder em Porto Alegre durante a Copa. É um dos melhores amigos que tu tens por lá?
Alex Telles: O Sneijder é um dos caras com quem eu converso bastante. Pelo fato dele falar espanhol (o holandês defendeu o Real Madrid por três temporadas) fica mais fácil da gente se entender. Os estrangeiros do time estão sempre juntos. Não que não haja conexão com os turcos, mas à mesa é normal ficarmos todos juntos. Formamos uma amizade que pra mim é uma honra. Falei com ele pelo Whatsapp que ia visitar ele em Porto Alegre, mostrar a cidade. Não cheguei a pedir, mas é capaz de eu ganhar uma camisa da Holanda, né?
Pioneiro: Vai levar algum presente de Caxias, talvez uma camisa do Juventude?
Alex Telles: Quem sabe. Tem que ver que a torcida do Galatasaray é um pouco fanática...se eu chego a entregar uma camisa do Juventude é capaz de dar problema. Eu respeito a paixão que eles têm pelo clube, assim como eu tenho pelo Juventude e por onde passei. Nós jogadores somos muito visados, por isso é melhor andar na linha.
(na foto acima, Alex entre Sneijder (E) e Felipe Melo, em treino no Galatasaray)
Pioneiro: Como é ter no mesmo time Sneijder e Felipe Melo, os dois personagens da eliminação do Brasil na última Copa?
Alex Telles: É engraçado ter os dois juntos, protagonistas do jogo que eliminou o Brasil. A gente brinca, sim, mas não cheguei a ver os dois conversarem sobre o assunto. Fora isso, o Sneijder sempre pergunta como está o clima no Brasil, quer saber sobre as obras, pois lê que estão atrasadas. São dois caras sensacionais.
Pioneiro: A lembrança daquela eliminação ainda abala o Felipe Melo?
Alex Telles: A gente conversou bastante sobre isso. Ele ficou muito triste, porque foi o volante com melhor índice de passe naquela Copa, acertou mais que Xavi e Iniesta, por exemplo, mas ninguém viu isso. Ficou marcado pelo gol contra, que foi um erro de comunicação de toda a zaga. Como o campeonato turco é pouco visto, ele acaba ficando escondido e a torcida não tem uma visão melhor dele, mas é um cara que fora de campo é um grande pai de família e dentro está jogando muito. É ídolo da torcida, considerado o segundo melhor jogador da história do Galatasaray, atrás do Hagi (jogador romeno da década de 90). É o primeiro que a torcida grita o nome quando o time entra em campo, é incrível. Pra mim ele deveria estar nessa Copa, mas como eu falei, o campeonato turco é pouco visto, então fica mais complicado.
Pioneiro: Se tu tivesses tido mais tempo, teria chance de disputar esse Mundial?
Alex Telles: Acho que condições eu tenho, mas sou muito novo ainda. Não tive nenhuma convocação. Seria muito rápido se tivesse sido levado sem nenhuma experiência, talvez nem desse certo. Mas tenho quatro anos para trabalhar, vou ter 25 na próxima Copa, certamente estarei mais maduro. E acredito muito em mim. Tudo aconteceu muito rápido, em um ano e meio saí da Série D, que eu não escondo e me orgulho, e para jogar uma Champions League. Então, depois de tudo o que aconteceu na minha vida, não duvido mais de nada.
Pioneiro: O que podemos esperar de Sneijder e Drogba nesta Copa?
Alex Telles: Essa deve ser a última Copa do Drogba, mas certamente vai jogar em alto nível. Sempre que ele entra em campo, a gente vence ou empata. Porque ele impõe muito respeito, preocupa a zaga só com a sua presença. E o Sneijder é outro jogador que, mesmo no momento estando na reserva da Holanda, é um cracaço que vai jogar muito e pode ser decisivo.
Pioneiro: Quem são os favoritos para ganhar a Copa? E quem será o craque?
Alex Telles: Brasil, Alemanha, Argentina...a Espanha acho que dessa vez não vai. Para craque, acredito no Neymar. Por ser a primeira Copa dele, no Brasil, vejo que ele já está muito confiante. A seleção joga muito em função dele também, não é um craque que joga sozinho. Acho que não vai sentir a responsabilidade, mostrou isso já na Copa das Confederações. Tem tudo para ser o cara dessa Copa.