Hilário Zanchin, 63 anos, revive um drama. Dezoito anos depois, teme ver o sonho de assistir ao vivo a um jogo da Copa do Mundo novamente frustrado. Na França, foi logrado por um espertinho europeu que revendeu os ingressos comprados por ele e um grupo de 41 torcedores da América Latina. Desta vez, a intenção da filha de surpreender o pai com ingressos para o Mundial pode resultar em decepção semelhante àquela vivida em 1998.
Dois anos e meio antes da Copa na França, Hilário e outros 19 amigos tomaram a decisão de acompanhar o torneio. Com uma cota de R$ 60 por mês para cada um e regras bem estabelecidas, como o pagamento de multa de 20% do valor em caso de desistência, o grupo deu show de organização. Contratou uma agência de viagem caxiense, que responsabilizou-se pelo contato com uma empresa de turismo francesa. Quinze dias antes da abertura, começou a aflição pelo atraso na chegada dos ingressos.
O grupo viajou sem as entradas, que seriam entregues no hotel, em Paris. No dia do jogo, o pior aconteceu: um funcionário da agência de turismo francesa fez de púlpito uma cadeira no hall de entrada para anunciar que os ingressos nunca seriam entregues ao grupo de brasileiros e argentinos, que pagaram US$ 500 pelas entradas. Eles haviam sido revendidos, ninguém sabia por quem, pelo preço de US$ 2 mil a torcedores da Inglaterra. Um argentino de sangue mais quente tentou esganar o mensageiro do apocalipse. A turma do deixa disso precisou intervir. Hilário passou mal.
- Eu tremia, saia sangue do meu nariz. Me dá um pavor só de lembrar. Era um sonho de guri ver a abertura da Copa - relembra o comerciante, aos prantos, com nervos a flor da pele.
A filha de Hilário, Kelly Zanchin, tinha 12 anos quando viu o pai voltar frustrado da Europa. Agora, aos 31, a jornalista decidiu fazer uma surpresa para curar a decepção paterna. Comprou ingressos para três jogos que ocorrem em Porto Alegre: França e Honduras, no domingo, Coreia do Sul e Argélia, no dia 22, e a partida das oitavas de final, em 30 de junho.
Como a intenção era surpreender, Kelly não pediu os números dos documentos de identificação do pai. Estava iniciado o período de pânico dos Zanchin: os ingressos são nominais, e eles não receberam a confirmação da transferência do titular. Com as entradas no nome da filha, Hilário ainda não sabe se verá o jogo domingo.
- Se me frustro agora, vou jogar tênis e nunca mais vejo um jogo de futebol na vida _ ameaça, num tom exagerado que combina com o próprio nome.
Fanático por futebol, nem ele acredita na promessa e pondera logo em seguida.
- É meu sonho, caraca! Sonhei em casar, casei. Sonhei em ser pai, tenho duas filhas maravilhosas. Se eu não entrar domingo, eu vou pra Rússia em 2018 - anuncia.
Saga de torcedor
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Hilário Zanchin, 63 anos, teve ingressos revendidos em Paris
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