Aos 70 anos, aposentado e com uma trajetória tanto profissional quanto esportiva meritória, um homem pode considerar sua missão praticamente cumprida, certo? Mas, o massagista Antonio Balbino de Oliveira, há cerca de seis meses, passa por uma espécie de retomada, depois de sofrer dois sérios golpes da vida.
O caminho no esporte de Antonio começou no final dos anos 1950. Ele tentou ser jogador do Juventude de Bom Jesus, mas uma torção num joelho abreviou o sonho, já que naquele tempo a medicina estava muito distante da atual. Assim, só restou trabalhar mesmo, como cobrador de uma empresa de ônibus.
No intervalo das viagens a Porto Alegre, a convite de um amigo, Antonio passou a aproveitar o tempo livre para ver os treinos do Grêmio. Num deles, uma pessoa, vendo sua caminhada com dificuldade, perguntou se ele não gostaria de fazer um curso de massagista no clube, com outros três interessados. Um deles era Banha, que se transformou numa figura histórica no tricolor
Antonio ficou oito meses no clube, onde acompanhou a equipe de aspirantes e outros times, até que veio morar em Caxias. A partir daí, desde a primeira empresa em que atuou, a Mecânica Rodoviária, passou a conciliar o trabalho com a função de massagista. Um curso de enfermagem qualificou essa atividade.
Essa duplicidade de funções se manteve durante toda a atividade profissional, tanto nas equipes de empresas como em outros times. Dessa forma, embora sofrendo com as ausências em casa, Antonio conseguia uma renda extra.
- Muitas vezes era escondido, para os outros não saberem, mas sempre ganhei uma ajuda - confessa.
Nesses anos todos em que atuou no esporte, mesmo depois de se aposentar na indústria, viveu diferentes momentos. Da criação do time de futsal da Enxuta, do qual está entre os fundadores, até as extremas agruras das categoria de base do Caxias, que não impediram o surgimento de jogadores como Washington, Rafael, Delmer, Paulo Turra e outros que lembra com carinho.
Há cerca de três anos, afastado do futebol, Antonio viveu o que define como os piores momentos da vida. O filho Daniel teve um acidente de trabalho e perdeu praticamente todos os movimentos. Quando a família juntava dinheiro para possibilitar tratamento em Brasília, um incêndio na casa tirou a vida do jovem e deixou todos desabrigados.
Mas aí os amigos do futebol se fizeram presentes.
- Veio o pessoal do São Luiz, do Madrid, do Bangu... Todos ajudaram um pouco e em oito dias a casa estava reconstruída - relata.
Apesar disso, ele revela que foi difícil a recuperação, pois chegou a entrar em depressão:.
- Há uns seis meses comecei a sair de novo. Até então não tinha coragem para conversar com as pessoas.
As recordações esportivas materiais se resumem a um punhado de medalhas, salvas do fogo porque estavam em outro local. Mas Antonio afirma que acima de tudo ficaram as amizades.
Por onde anda
Antonio busca a retomada depois do sucesso no esporte e dramas em família
Ex-massagista, 70 anos, lembra dos tempos em que atuou um diferentes clubes e empresas de Caxias do Sul
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