Principal técnico em evidência no Brasil nas últimas semanas, Tite não esquece as origens. Em meio a um turbilhão de tarefas e dezenas de pedidos de entrevistas, o caxiense de 51 anos reservou um tempo em sua agenda superlotada para atender ao Pioneiro. Uma exceção, como ele mesmo frisou.
Não é uma semana qualquer na vida dele, é simplesmente a semana mais importante de sua carreira como treinador de futebol. Hoje à noite, Corinthians e Boca Juniors decidem a Copa Libertadores, o que pode ser o maior título de sua história e o mais desejado para a fanática e apaixonada torcida corintiana.
Na segunda-feira, antes de ficar à disposição de cerca de 120 repórteres na coletiva de imprensa no Centro de Treinamento Joaquim Grava, na Zona Leste de São Paulo, Tite falou sobre o momento único de sua trajetória. Comparou até as estratégias para armar o Corinthians contra adversários poderosos como Santos e Boca com as que usava no Caxias, em 2000, quando superou a gigante dupla Gre-Nal no Gauchão.
Pioneiro: Depois de quase dois anos no Corinthians, nesta segunda passagem, você conhece bem o clube e a torcida. Há como dimensionar a importância deste momento?
Tite: Dimensão eu tenho, mas confesso que fico concentrado no trabalho e na preparação da equipe para o jogo, especificamente.
Pioneiro: Como administrar a ansiedade pessoal, do grupo de jogadores e da torcida? Você está no centro de um contexto imenso de pressões e expectativas...
Tite: Ficando próximo à família, me expondo menos a entrevistas, ficando próximo da equipe de trabalho e...também administro a ansiedade tomando sorvete.
Pioneiro: Você parece ter incorporado o sentimento corintiano. Naquele jogo com o Vasco, quando fostes para o meio da massa e comandou o time nos momentos finais, a resposta da torcida foi incrível, não?
Tite: Na verdade, é uma característica minha incorporar e respeitar o sentimento dos torcedores, independente do clube que estou. Agora, confesso que ficar dirigindo a equipe da arquibancada nunca me passou pela cabeça. O respeito e a energia do torcedor foram incríveis.
Pioneiro: Nesta Libertadores, você tem participado ainda mais dos jogos, como se entrasse em campo. Deve ter um desgaste físico e emocional no mesmo nível...
Tite: O componente emocional em jogos de mata-mata são sempre muito altos.
Pioneiro: Você teve grandes trabalhos no Caxias, no Grêmio e no Inter. Com qual desses o Corinthians de hoje tem semelhanças ou mais pontos em comum?
Tite: A humildade de reconhecer virtudes no adversário, ter que neutralizá-los e a ambição da conquista são muito semelhantes ao que fazia no Caxias.
Pioneiro: Quantos jornalistas e veículos de comunicação acompanham o Corinthians no dia a dia, em situação normal? E nesta decisão, esse número aumentou quanto?
Tite: Procuro não saber, só sei que é grande e aumentou bastante.
Pioneiro: Como você administra isso?
Tite: O clube e eu restringimos bastante as entrevistas. Apenas a entrevista coletiva normal da semana, salvo alguma exceção, como esta.
Pioneiro: Qual é o valor desta decisão da Libertadores, por ser justamente contra o Boca e sua mística?
Tite: Decisão de Libertadores com um clube tradicional, como no caso do Boca, dá uma grandeza maior ainda ao evento.
Pioneiro: Que vantagem o 1 a 1 da Bombonera traz para este segundo jogo?
Tite: Vantagem pequena, porém sempre vantagem.
Pioneiro: No primeiro jogo, você teve decisões acertadas e o Corinthians escapou de sofrer o gol num lance dramático aos 46 minutos do segundo tempo. Muitos dizem que são indícios de que a equipe tem tudo para chegar lá, com a chamada sorte de campeã. Você pensa assim também?
Tite: Não acredito em sorte, acredito em trabalho, em merecimento, em qualidade técnica, em organização tática, em grupo mentalmente forte...
Pioneiro: Como você define o momento de Romarinho? É uma promessa ou uma realidade? Há uma esperança exagerada nele depois dos três gols (dois no Palmeiras e um no Boca)?
Tite: No Corinthians tudo é mais, para o bem ou para o mal, pela exposição do grande clube. Mas o que vence é o trabalho de equipe. Eventualmente, um ou outro aparece, como foi o caso de Romarinho na Bombonera.