CORREÇÃO: a resolução 251/2024 não suspende dívidas, mas autoriza a suspensão por até seis meses de ações judiciais em que o Estado executa dívidas de pessoas atingidas pelas enchentes. O pedido de suspensão deve ser feito pela parte interessada ou por seu representante judicial e será analisado. A informação permaneceu incorreta do dia 23 até 24 de junho de 2024. O texto já foi corrigido.
Acabar com as dívidas é o desejo de muitas pessoas, mas, segundo especialistas, é preciso, antes de tudo, consciência, comprometimento, organização e um bom planejamento financeiro. De acordo com o último estudo da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul, são cerca de 145 mil caxienses negativados, cerca de 35% da população da cidade considerada economicamente ativa.
A situação de muitas pessoas que estavam nessa condição piorou com a chuva que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio. Diante disso, a Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul publicou, no final do mês passado, uma resolução que autoriza a suspensão por até seis meses de ações judiciais em que o Estado executa dívidas de pessoas atingidas pelas enchentes. O pedido de suspensão deve ser feito pela parte interessada ou por seu representante judicial e será analisado. A informação permaneceu incorreta do dia 23 até 24 de junho de 2024. A coordenadora do curso de Economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Jacqueline Corá, observa que, diante da situação que o Estado enfrenta, percebe-se que os credores estão receptivos e vem demonstrando boa vontade com as famílias que buscam a renegociação das dívidas.
— Na época em que a dívida foi feita, existia uma realidade, uma situação de renda, e era possível o parcelamento de um determinado valor em vezes. No entanto, diante de alguns fatores, como a questão da calamidade, muitas famílias perderam a própria capacidade de gerar receita — reitera a professora.
Diante desse cenário, Jacqueline ressalta a importância de buscar os credores, explicar a real situação para tentar alongar a dívida ou, se for o caso, reduzir o valor das parcelas e buscar um período de carência.
— É sempre importante o credor ter boa vontade com aquele devedor que busca a solução, que procura e tenta resolver o problema, pois os dois lados ganham com isso. O credor precisa restabelecer o crédito, receber aquele valor e, de certa forma, tornar aquela pessoa um cliente novamente — ressalta Jacqueline.
Outra armadilha que contribui para o endividamento de boa parte da população são as compras a prazo. Números do último levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontam que 71,1 milhões de brasileiros possuem contas parceladas. De acordo com Jacqueline, o consumidor deve ficar atento a quanto a mais no valor está pagando por estar parcelando uma compra, pois, a depender da taxa de juros embutida, o comprador muitas vezes paga o dobro do valor do produto.
— As famílias ficam preocupadas em olhar o valor da parcela e não se dão conta do montante que estão pagando a mais. Os juros são algo que você entrega para a loja, para o banco, enfim, em troca de nada, pois você não leva para casa — destaca.
Economia começa pela compra consciente
Economizar é um dos objetivos de muitos consumidores. No entanto, a coordenadora do curso de Economia da UCS destaca a importância de os consumidores ficarem atentos aos comportamentos. E tudo começa em evitar desperdícios.
— Isso vai desde a maneira como vamos ao supermercado, o que colocamos no nosso carrinho, o que tem na nossa geladeira, quanto de comida sobra em casa, os produtos que vencem na nossa geladeira. Tudo isso são desperdícios e tudo o que a gente está desperdiçando é dinheiro que vai para o lixo. Então, se a gente conseguir economizar no desperdício, ou minimizar esses desperdícios em todos os sentidos, a gente consegue ter um gasto e um consumo mais consciente e ter uma reserva, porque o valor que a gente deixa de desperdiçar vai sobrar na nossa carteira — recomenda a professora.
Outro fator importante que contribui para a economia, segundo Jacqueline, é evitar realizar compras por impulso.
— Algumas aquisições nos proporcionam uma melhor qualidade de vida, melhoram a nossa vida. Então, elas se justificam. Outras não geram nenhum tipo de benefício, é um gasto momentâneo, uma felicidade momentânea que em duas horas vira um problema, porque você se dá conta que tem um cartão de crédito que está estourado e que chega no dia não consegue pagar — alerta.
É a partir desta análise que o consumidor deve estabelecer um planejamento para os gastos. Jacqueline destaca que é preciso colocar no papel as receitas e as despesas e, se possível, organizar uma planilha para enxergar com clareza para onde está indo o dinheiro.
— Estabelecendo um planejamento, conseguimos evitar a inadimplência e, se eu consigo me organizar e ter a consciência para onde é que está indo o meu dinheiro, percebo os gastos desnecessários que ocorrerem e começo a evitá-los, mudando o comportamento de consumo — enfatiza.
Emoção e razão nas relações de consumo
Juros se acumulando e se tornando uma grande dívida. Endividamento se transformando em superendividamento. Fatura do cartão de crédito atrasada. Esses são problemas que, segundo a educadora psicofinanceira Márcia Tolotti, acabam comprometendo também a saúde emocional e mental.
— Em geral, as pessoas acabam ficando angustiadas quando estão muito endividadas. Elas acabam tendo a somatização de problemas de saúde, dormindo mal, comendo menos ou mais, gerando muitas consequências negativas — aponta a educadora.
Para sair de uma situação em que as dívidas acabam comprometendo a saúde, Márcia aconselha que é preciso, primeiramente, que as pessoas olhem para as finanças. Negar que está negativado como forma de “defesa”, fazendo parecer que a dívida não existe, acaba, por vezes, piorando a situação.
— Se eu tenho muitas contas em atraso, vou escolher alguma que eu possa quitar. E acho que esse é um ponto fundamental. Às vezes, as pessoas vão amortizando dívidas que os juros continuam crescendo. Então, pegue dívidas menores, quite elas. Amortizar nem sempre é a melhor alternativa – recomenda.
A educadora reforça ainda que é preciso ter o controle das finanças para não cair na inadimplência. Porém, segundo ela, cada pessoa tem necessidades diferentes e, devido à falta desse controle, acaba usando outros recursos, como o cheque especial, por exemplo.
— Uma coisa é eu fazer uma gestão com o meu dinheiro, outra é eu fazer uma gestão emocional. E esse é o principal foco, porque muitas vezes eu vou me endividar porque eu comprei o que não podia no momento — comenta Márcia.
Dívidas podem ser negociadas
A melhor negociação é aquela que pode ser honrada. A frase é do presidente da CDL Caxias, Eduardo Colombo. Segundo o dirigente, é importante que o consumidor não assuma parcelas que comprometam as suas necessidades básicas, como a conta de luz, água, moradia e alimentação.
Em uma negociação de dívidas, Colombo ressalta que o consumidor deve avaliar e negociar os juros a serem pagos. Ele reforça que é necessário fazer um contrato da renegociação constando a exclusão do nome do consumidor dos sistemas de crédito para que a dívida que está sendo paga não interfira no score (pontuação que indica o perfil de bom pagador).
— A forma eficaz de evitar as dívidas é através do planejamento financeiro. Fazendo um orçamento pessoal ou familiar mensal e controlando as despesas, para que não comprometam mais de 30% da renda — recomenda Colombo.
O presidente da CDL Caxias destaca que o ponto de partida para o consumidor conhecer a real situação financeira, possibilitando equilibrar as contas e entrar no azul, é colocar no papel ganhos e despesas e abrir mão dos gastos desnecessários até organizar as contas. Além disso, Colombo reforça a importância de evitar usar o cheque especial e o cartão de crédito, procurando pagar as contas com o dinheiro que tem no momento.
— Reflita sobre as verdadeiras razões que te fazem consumir e evite atitudes de compras impulsivas que te coloquem no vermelho. Elas queimam seus recursos que poderiam ser investidos em coisas realmente de valor, como a prestação de uma casa, um carro ou a escola do seu filho. Controle os apelos e impulsos de consumo — finaliza.