A agricultura de Caxias do Sul e região começa a sentir os impactos da chuva da última semana que afetou praticamente todo o Rio Grande do Sul. Na Ceasa Serra, que fica no bairro Santa Lúcia, em Caxias, e atende 11 municípios, o maior problema registrado na manhã desta terça-feira (7) era o abastecimento das chamadas folhosas, principalmente a alface.
Um grande polo produtor das folhosas em Caxias era o distrito de Vila Cristina, localizado logo após o bairro Galópolis pela BR-116, duas das localidades mais afetadas no município com o temporal da semana passada. O secretário municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Smapa), Valmir Antonio Susin, explica que os prejuízos nessas produções são grandes:
— A alface praticamente não existe. As folhosas foram as que mais tiveram problemas agora. Vamos ter problemas de abastecimento, porque o dano foi muito grande. Mesmo para quem tem estufas, as folhosas estão apodrecendo, não tem jeito que vingue, foi muita umidade em poucos dias — detalha Susin.
Na manhã desta terça, havia cerca de 10 produtores rurais no espaço destinado para os cultivos da região na Ceasa. Para se ter uma ideia do impacto na presença deles, conforme a administração o espaço, atualmente são em torno de 230 cadastrados. Conforme o gerente operacional da Ceasa Serra, Alceu Thomé, a terça-feira tradicionalmente não é considerada como um dia para boas vendas.
— Ainda é um precoce, mas, pelo que a gente observa, se está vendo que vai faltar produtos, principalmente as folhosas, como alface, radite, os temperos. Vai ter muita dificuldade — exemplifica Thomé.
Tanto Thomé quanto o secretário Susin dizem que a quinta-feira, que é normalmente considerada como um bom dia para vendas, assim como a segunda, mostrará uma dimensão melhor do atual cenário na região. Eles também acreditam que pode haver impacto financeiros em alguns produtos, neste momento, em especial às folhosas. E o gerente operacional acredita que não haverá desabastecimento no local:
— A gente sabe que o mercado hoje em dia é muito versátil, se traz produtos do Centro do país em questão de 24h. Então, eu acredito que até que não (haverá desabastecimento), mas os nossos agricultores aqui sentiram um baque muito grande — diz o gerente operacional.
Conforme Roque Menegol, presidente da Associação dos Feirantes de Caxias do Sul (Assofei), as Feiras do Agricultor seguem ocorrendo normalmente, com exceção do bairro Galópolis, que ocorria às terças-feiras, e está suspensa por tempo indeterminado. O motivo é a restrição da circulação de pessoas na localidade, devido à instabilidade do solo e possibilidade de deslizamentos de terra, conforme vem sendo monitorado pelos órgãos públicos.
Produções perdidas e a busca por se reerguer
José Bernardi, produtor da região de São Luiz da Sexta Légua em Caxias, estava na Ceasa nesta manhã. Ele tem uma produção de cerca de quatro hectares para os cultivos de alface, rúcula e couve flor. Metade dessa produção possui cobertura, e cerca de 80% do que ficava nela foi perdida, enquanto a perda foi total na parte que ficava fora desse espaço protegido. Bernardi diz que nunca tinha visto uma chuva parecida como a de semana passada.
— Não adianta, bola para frente. Em 15, 20 dias, se o tempo ajudar, tu recupera — diz Bernardi, ao buscar forças.
Produtor da região da 4ª Légua, no interior de Galópolis, Rudinei Erlo também estava na Ceasa desde cedo. Ele plantava por lá couve-flor, salsa e rabanete. Acredita que cerca de 70% a 80% da produção, que não tinha proteção, foi afetada pela chuva.
— Ontem (segunda-feira) eu fui colher mercadoria e me apavorei, não tem nem como colher. Muita coisa vai ficar lá, e o que dá para aproveitar está aí nesta semana. Já semana que vem eu não sei — contextualiza.
Da localidade Sete de Setembro, em Flores da Cunha, César Osmar Servinski chegou à Ceasa Serra por volta das 10h da manhã desta terça. Ele cultiva temperos como salsa e temperinhos verdes e tomates. O produtor ainda não fez um calculo do que perdeu de produções com as chuvas, mas diz que o impacto "é grande". Todas as produções dele contam com cobertura.
— Não chegou a estragar a cobertura, só que, mesmo assim, a umidade, a água na raiz prejudica, e dá um impacto. Com o sol de ontem (segunda) e hoje vai aparecer o estrago — fala.
Ceasa aberta para todo o Estado
No início da tarde desta terça, a Secretaria da Agricultura e Caxias informou que agricultores que costumavam comercializar a produção na Ceasa de Porto Alegre podem utilizar a estrutura da Ceasa Serra, em Caxias. Assim, o acesso está liberado para produtores e compradores de todo o Rio Grande do Sul.
Agricultores que não possuem cadastro podem acessar o local até duas vezes, e compradores com CNPJ, uma vez. Depois, devem fazer cadastramento (confira os documentos necessários abaixo).
Documentos para cadastro de produtores
- Certidão Negativa do Cartório de Protestos (domicílio)
- Atestado de Bons Antecedentes/Folha Corrida (Fórum ou Delegacia de Polícia)
- Cópia da Carteira de Identidade e CPF
- Cópia comprovante de endereço, (luz, água, telefone), válidos dentro de 90 dias.
- Título Eleitoral
- Quitação Eleitoral
- Cópia do talão de produtor
- Cópia atualizada da matrícula da Escritura junto ao Cartório de Registro de Imóveis, (onde registrou a escritura), válidos dentro de 90 dias.
- Declaração da produção da Emater, assinado por Engenheiro Agrônomo ou Técnico Agrícola com Crea e, pelo Sindicato ou Sec. da Agricultura
- Cadastro Ambiental Rural (CAR)
- Comprovante de Inscrição do Incra ou ITR, vigentes.
- Fotos 3x4
Documento para cadastro de compradores
- Cópia do RG e do CPF
- Comprovante de endereço da empresa e do comprador
- Duas fotos 3x4
- Cópia do documento do veículo
- Cópia do CNPJ da empresa
- Contato de telefone fixo, celular e de e-mail