Novamente, os olhares da indústria alimentícia e de bebidas se voltam à região da Serra. Isso porque, entre a terça (23) e a quinta-feira (25), o Parque de Eventos de Bento Gonçalves (Fundaparque) recebe a 15ª Envase Brasil, feira internacional de máquinas, equipamentos, tecnologia e insumos, que tem como objetivo discutir o futuro desses setores. Essa será a primeira edição sob a gestão do Centro da Indústria, Comércios e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, que adquiriu a marca em junho do ano passado. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o último dia de evento.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme), Juarez José Piva, 22% do faturamento do setor no município está ligado às fabricantes de máquinas de envase. Assim, na visão do empresário, o evento é um boa oportunidade para que as empresas possam apresentar as respectivas tecnologias aos mercados compradores.
— A gente pensa que envase (normalmente) seja somente para vinho, mas é água mineral, refrigerantes, cervejas, são os produtos químicos, as partes de azeites, pimentas, limpeza, os mais diversos segmentos. A abrangência (do setor) é fenomenal e isso representa uma diversidade para que possamos ser diferenciados, e digo que é um setor em que nenhuma máquina é igual a outra, todas exigem uma certa tecnologia no desenvolvimento e inteligência, porque cada cliente quer um setor ou ambiente completamente diferente — contextualiza Piva.
Criada no final da década de 1990, a Envase Brasil, até 2004 chamada de Vinotech, surgiu para trazer oportunidades e alternativas ao setor vinícola na Serra. Porém, com o passar do tempo, o evento se transformou e passou a alcançar outras áreas dentro do segmento alimentício e de bebidas. Somente na última edição, em 2022, foram cerca de 130 expositores, com marcas de ao menos 12 países diferentes. Mais de 6 mil pessoas participaram do evento e R$ 110 milhões em negócios foram gerados.
Para este ano, a expectativa é de que esses números sejam superados. São esperados ao menos 10 mil visitantes ao longo dos três dias e cerca de R$ 120 milhões em negócios. Estarão presentes empresas que produzem recipientes para armazenar os produtos desse setor, embalagens em geral, máquinas, insumos, assessorias, além de melhorias logísticas. Entidades setoriais e ligadas as pesquisas também devem desembarcar em Bento Gonçalves.
— O que precisamos entender é que agora é uma nova proposta, uma nova caminhada (a feira). Foram possíveis algumas mudanças e já estamos efetuando elas para esta edição. Claro que hoje a feira está voltada para líquidos, mas no futuro ela tem uma tendência de se voltar também para alimentos e logística — detalha a presidente do Conselho Superior do CIC, Marijane Paese, sobre esse novo momento da feira agora sob a gestão da entidade.
Conforme dados compilados pelo CIC de Bento Gonçalves, atualmente são mais de 2 mil fabricantes de máquinas e equipamentos do Rio Grande do Sul, sendo que 70 deles, que empregam aproximadamente 2 mil pessoas, estão na Capital do Vinho. Ainda conforme esse mesmo levantamento, a Serra representa 44% desse mercado no Rio Grande do Sul, e Bento, 11% deste segmento na região.
Assim, no Pavilhão E da Fundaparque, com 15 mil metros quadrados, estarão à disposição para análise dos visitantes máquinas e equipamentos para vinificação, enchedoras, dosadoras, rotuladoras, engarrafadoras, entre outras. Diretores de indústrias vinícolas, de espumantes, de sucos, cervejas artesanais, água mineral, refrigerantes, cachaça e destilados, bebidas lácteas e azeites, são alguns dos participantes que devem marcar presença nestes três dias de Envase Brasil em Bento.
— As empresas maiores têm a oportunidade, por exemplo, de ir a São Paulo para feiras. Mas para o pequeno e o médio fabricante é uma grande oportunidade (a Envase Brasil) para se desenvolver e crescer. Esse é o grande potencial de abrangência que a feira vai tomando corpo e ao longo dos anos aprimorando — diz Marijane sobre as possibilidades do evento.
Um bom exemplo do potencial de negócios que a Envase Brasil pode gerar é a denominada Sessão de Negócios, iniciativa promovida em parceria com o Sebrae-RS, uma oportunidade para troca de conversas e ampliação de relacionamentos entre as fornecedoras e clientes das indústrias de alimentos e bebidas.
Para Marijane Paese, um evento do porte da Envase Brasil também pode ser fundamental para o desenvolvimento do turismo local. Junto com a Giordani Turismo, a organização da feira está dando 10% de desconto nos pacotes turísticos da região, isso para que os visitantes possam aproveitar as belezas da região.
— É uma grande oportunidade, porque hoje nas feiras em São Paulo (por exemplo) se sofre com a questão de localização, trânsito, movimentação, e nós aqui na Serra gaúcha conseguimos ter uma estrutura boa, adequada, e ainda temos as belezas da região para oferecer. É também abranger e desenvolver o grande setor econômico que é o turismo de negócios.
Para apresentar novidades aos potenciais clientes
A Zegla, empresa fundada em 1982 em Bento Gonçalves, vai para mais uma edição de Envase Brasil. Neste ano, apresentará algumas possibilidades para o setor de bebidas. Dentre elas, uma cozinha que pode ser instalada em microcervejarias. Outra novidade é uma máquina que envasa água mineral em garrafas de alumínio. Conforme explicação do diretor-executivo da empresa, Arthur Stringhini, esse equipamento lava, enche e tampa as garrafas. E a empresa também pretende apresentar novas tecnologias com o intuito de encantar os visitantes:
— Estamos levando também um sistema de robô com visão (por meio de uma câmera) para instigar as pessoas a entender quais são as aplicações dos robôs colaborativos. Na prática, ele vai detectar se a garrafa estará com rótulo e vai encaixotar a garrafa rotulada — detalha Stringhini, explicando que será um modelo demonstrativo.
O segmento de bebidas representa, atualmente, 80% do faturamento da empresa, sendo que 70% dos clientes são do mercado nacional, e os outros 30% voltados à exportação, com o Paraguai, Chile e Colômbia sendo grandes parceiros comerciais.
Máquinas para os setores agroquímicos e de produtos de limpeza também fazem parte do catálogo do produtos da Zegla, assim como o segmento de packaging (segmento de embalagens de produtos). Para Stringhini, a Envase Brasil é uma boa oportunidade para rever os clientes e buscar novas oportunidades de mercado.
— No nosso tipo de negócio, quase nunca se fecham (vendas) em feiras, mas sempre surgem negócios que tu vais trabalhando ao longo do ano para fechar — explica o diretor executivo sobre a participação no evento.
Do engarrafamento à paletização
Fundada em 1998, a Robopac de Bento Gonçalves também está presente na Envase Brasil desde o início da feira. A empresa fornece maquinários para diversos setores que vão desde o engarrafamento até a paletização dos produtos, por exemplo. A paletização é o processo de colocar as caixas no palete. Conforme o diretor da companhia, Judenor Marchioro, cada projeto de cliente recebe atenção especial para que as soluções sejam especializadas.
— Nós damos a solução completa, ou seja, envasar, tampar a garrafa, encaixotar, paletizar e passar o filme stretch no palete (filme stretch é o plástico para imobilizar cargas em cima do palete). É todo o trabalho depois de ter a embalagem pronta ou o produto processado. Aí conseguimos entregar a solução, definimos a ideal para o cliente, cada uma é sob medida, e a partir dali fornecemos a linha necessária para que possa embalar o produto — descreve o diretor sobre o projeto.
Na visão do diretor da Robopac, todos esses processos passaram por uma grande evolução ao longo dos anos. E, segundo ele, tudo isso é resultado de um trabalho em equipe. Na empresa dele, um verdadeiro time de colaboradores participa de todo esse processo de montagem e escolha da melhor solução para cada um dos clientes. Atualmente, a empresa conta com cerca de 160 funcionários, sendo que 60% têm formação de Ensino Superior.
— A evolução tecnológica parte de pessoas que pensam e desenvolvem os produtos para que, dentro das mais modernas demandas ou soluções que tenham no mercado, se faça o melhor para o cliente. Nós temos um investimento muito firme em pessoas e, a partir dali, conseguimos construir — detalha Judenor Marchioro.
Atualmente, os clientes vinculados aos setores alimentícios e de bebidas somados compreendem a 40% do faturamento da Robopac. Outros 20% são de empresas saneantes (de produtos de limpeza), e mais 20% para setor do agronegócio. O restante é dividido em cosméticos, farmacêuticos, entre outros.
A Robopac participa todos os anos de inúmeras feiras não somente no Brasil, mas também no Exterior, como na Alemanha. Para Marchioro, estar na Envase em Bento é importante sob a perspectiva de gerar futuros negócios, mas principalmente para troca de contatos e até mesmo auxiliar na consolidação do evento.
— Queremos dar apoio para fomentar essa feira, porque ela pode se tornar muito importante para o negócio de todas as companhias locais. A Envase pode levar o visitante, além da tecnologia, a ter oportunidade de visitar a nossa região, que é maravilhosa, e acho que essa é uma força da feira. E ela pode, obviamente, nos trazer alguns negócios — finaliza o diretor.
Proposta de automação industrial
Presente pela primeira vez no evento, a Dalca Brasil apresentará os potenciais da robótica e da digitalização industrial para os setores alimentícios e de bebidas. Para o segmento de envase, a empresa de Bento Gonçalves pretende mostrar que projetos personalizados de automação que podem entregar resultados capazes de transformar e elevar o patamar do setor.
Segundo o CEO da Dalca, Bruno Dal Fré, a aposta no evento é levar soluções de intralogística (parte interna da logística, gestão de armazenagem, expedição, estoque), como um carro autônomo capaz de agilizar o processo de transporte de paletes, transelevadores (equipamentos que fazem a movimentação e armazenagem automática de mercadorias paletizadas ou em caixas) e armazéns verticais, além do processo encaixotamento, paletização e despaletização, que impactam diretamente no início e no final da linha desses setores. Também apresentará potenciais de digitalização de depósitos.
— Colocamos robôs no final ou no início da linha, que fazem essas operações de forma automática, toda a parte de estrechamento (envolvê-lo no plástico elástico filme stretch), movimentação do produto ou do palete e entrega para o final da linha de produção. Após isso, nós temos outro produto, que é um carrinho que movimenta esse palete da saída de linha de produção até a armazém. Então, toda essa movimentação que era feita antes ou por paletera ou empilhadeira, fazemos de forma automática com veículo autônomo — explica Dal Fré sobre os potenciais da automação para os setores.
Conforme o CEO da empresa, o investimento para ter o processo de ponta a ponta dentro de uma companhia pode ser de cerca de R$ 10 milhões. Ele destaca que os setores de alimentos e bebidas representam 41,3% do faturamento da Dalca Brasil.
Na visão de Dal Fré, participar de um evento como a Envase Brasil é uma oportunidade de reencontrar os clientes, além da chance de fechar novos negócios voltados aos setores alimentícios e de bebidas.
— Agora com a direção do CIC deu uma revigorada, mudou um pouco a cara, então apostamos nesta feira por entender que vai vir pessoas de todas as regiões do Brasil, inclusive alguns contatos do Exterior já me informaram (que vão participar do evento). Para nós é interessante tanto para os próprios clientes que já temos neste setor verem as novidades, mas para abrir novos contatos para negócios futuros — finaliza.
Insumos para cervejarias, cachaçarias e sucos
No mercado desde 1987, a LNF, de Bento Gonçalves, foi criada com o foco em atender a cadeia de vinhos e sucos, algo que foi se expandindo ao logo dos anos. Na Envase Brasil, a empresa tem um foco específico: apresentar uma linha completa de insumos. Atualmente, entrega para as cervejarias insumos como malte, leveduras, lúpulo, embalagens, clarificantes, enzimas, sanitizantes, entre outros. Além disso, quer mostrar o leque de atuação para os mercados de cachaças e o de sucos e vinhos.
Por se tratar de produtos em que os clientes fazem compras recorrentes, o diretor comercial da empresa, Luis Francisco Flores, detalha algumas formas que busca para se diferenciar dos principais concorrentes no mercado:
— Se diferenciar entregando a melhor relação custo-benefício e, no nosso caso, focamos muito em qualidade. Então, o resultado que conseguimos proporcionar para os nossos clientes com nossos produtos é bastante superior.
Na visão de Flores, a Envase Brasil representa uma oportunidade de estar em contato com empresas deste segmento, que representam aproximadamente 36% do faturamento mensal da LNF. Ele destaca que nem todos os negócios são fechados durante os três dias de feira, e as transações se estendem ao longo do ano.
— É uma oportunidade de estar junto do nosso mercado consumidor. Além do trabalho que fazemos de visita aos clientes, a feira nos dá uma oportunidade de se relacionar com outras pessoas, apresentar para eles a linha completa de insumos que temos. É mais uma oportunidade de conexão com o mercado.
Marca caxiense com braço na Itália
E não são somente empresas de Bento que estarão na Fundaparque nesta semana. A EnoBrasil, fundada em 1997 em Caxias do Sul, participou de todas as edições da Envase. A companhia, que tem um braço na Itália, com a EnoVeneto, foi criada para atuar inicialmente como uma importadora de máquinas, mas acabou expandindo o leque de atuação. Fornece máquinas capazes de fazer o recebimento e a seleção de uvas, medição do grau de doçura da fruta, prensagem, engarrafamento, empacotadoras, entre outras.
Além da EnoVeneto, tem parceria com outras empresas ao redor do mundo, o que, na visão do diretor da empresa, Evandro Motter Brustolin, auxilia a entregar uma qualidade maior nas máquinas, além da possibilidade de atender projetos personalizados. Os investimentos, a depender da máquina, podem começar em R$ 10 mil e superar a casa dos R$ 50 milhões.
— Nascemos para atender o setor vinícola, e com o andar da carruagem percebemos que tínhamos soluções para outras bebidas, outros derivados, e assim vamos trabalhando — descreve Brustolin.
Segundo Brustolin, o setor vitivinícola é um dos principais compradores das máquinas, mas também há companhias produtoras de outras bebidas. A Serra gaúcha representa cerca de 55% dos clientes da EnoBrasil, e logo na sequência vem a Região da Campanha, no Rio Grande do Sul, a serra catarinense e o sudeste brasileiro.
Para o diretor, a Envase Brasil vai além dos negócios que podem ser fechados durante os três dias de evento, sendo uma boa oportunidade para prospectar parcerias futuras com potenciais novos clientes.
— Estamos na Serra e geralmente tu visita as empresas, é uma grande oportunidade de ser visitado, de receber os clientes. Talvez a venda aconteça de maneira secundária, mas é uma forma de receber (visitantes e clientes). Essas feiras são importantes para todo o segmento se questionar, verificar as possibilidades e oportunidades de negócios — finaliza.
Para além dos negócios fechados
Claro que oportunizar novos negócios é um dos motes de eventos como este. No entanto, a Envase também entrega um calendário de atividades complementares, como a Arena Dinâmica. Atividade que ocorre durante os três dias de evento com workshops.
Também fazem parte da programação a 5ª Conferência de Segurança de Alimentos, com foco nas emergências climáticas e a manutenção da produção segura de alimentos e os novos cenários setoriais, e a 2ª Copa Sul-Americana de Cerveja.
O Meeting Wine, na terça-feira, contará com nomes como o italiano Fausto Faggioli e o cônsul-geral da Itália em Porto Alegre, Valerio Caruso. Outra atração, esta na quarta-feira, será o Meeting Beer, encontro com especialistas em microcervejarias.
— Os meetings (encontros) da feira foram organizados de forma completamente diferente dos anos anteriores. É um grande acréscimo que damos para a feira, principalmente quando trazemos assuntos envolvendo os setores. Isso já é um grande diferencial — opina a presidente do Conselho Superior do CIC, Marijane Paese.
De acordo com a gerente de promoção para mercado interno do Consevitis-RS, Cristina Carinel, a Envase Brasil é uma boa oportunidade para que todos os envolvidos nessa cadeia produtiva se desenvolvam. A entidade estará apoiando a realização do Meeting Wine Experience, que acontece no primeiro dia da feira.
— O setor vitivinícola tem importância econômica, social e cultural para a nossa região. Ele é catalisador e impulsionador do desenvolvimento regional. São milhares de famílias que dependem do cultivo de uvas e produção de vinhos, sucos e demais bebidas derivadas da uva, e também do enoturismo. Além disso, nossos produtos são reconhecidos nacional e internacionalmente pelas premiações recebidas — descreve Cristina.
Serviço
- O quê: 15ª Envase Brasil - Feira de tecnologia, embalagens e processos para a indústria de bebidas e alimentos
- Quando: de 23 a 25 de abril, das 14h às 20h.
- Onde: Parque de Eventos de Bento Gonçalves (Alameda Fenavinho, 481).
- Quanto: credenciamento gratuito até o último dia de evento pelo site envasebrasil.com.br