Na contramão dos colegas produtores da metade sul do Estado, que prevê perdas de 75% a 90% na safra de oliveiras em 2024, segundo levantamento feito pela Emater, os olivicultores da Serra estimam uma colheita levemente superior à do ano passado nos pomares, a partir da segunda quinzena de fevereiro. A diferença de perspectiva se dá pelas características distintas do terroir, como é chamado o conjunto de fatores climatológicos que influenciam no desenvolvimento do fruto - no caso, a azeitona.
- Nossos colegas do Sul do Estado estão experimentando uma frustração de safra, porém nós estamos numa região mais fria. Há anos em que somos nós que sofremos mais com questões como geadas tardias, que ocorrem no final de setembro, mas neste ano não tivemos este problema, o que contribui para uma boa safra. O frio ajudou a florescer bem. Tivemos bastante chuva, principalmente em fevereiro, mas, como a florada foi relativamente longa, as flores pegaram bons dias de sol. São coisas comuns do agro e da fruticultura, essas dinâmicas de clima que ora ajudam, ora atrapalham - explica Celso Zancan, diretor da Rasip, de Vacaria, que produz o azeite de oliva da marca RAR.
Zancan estima que a colheita seja 30% superior a da safra de 2023, ficando entre 180 a 200 mil quilos do fruto. A produção de azeite de oliva, por sua vez, deve ser na casa dos 15 mil litros.
Na Região das Hortênsias, a empresa Olivas de Gramado também prevê uma colheita mais robusta, ainda que com um acréscimo menor em relação ao ano passado, na casa dos 10%. A expectativa é colher em torno de 12 toneladas de azeitonas nos 29 hectares de área plantada.
- A gente conseguiu, aqui na Serra, cumprir o processo de polinização, fecundação e geração do chamado chumbinho para a azeitona segurar no pé, e evitar a queda de produção. Não vamos ter um aumento significativo, mas podemos comemorar o fato de não haver quebra de safra - comenta o azeitólogo e sócio da Olivas de Gramado, André Bertolucci.
A empresa também comemora o fato de ter sido escolhida pelo Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), e pela Secretaria de Agricultura do Estado, para sediar, pela primeira vez, o evento de abertura oficial da safra da oliveira. Será no dia 16 de fevereiro.
- Este será um ano muito importante para nós, porque também faremos pela primeira vez a extração do nosso azeite de oliva, que antes era feito em uma empresa parceira, de Viamão. Nós nos solidarizamos com nossos colegas que terão de lidar com perdas acentuadas neste ano, mas sabemos que terão resiliência para seguir em frente rumo a safras melhores nos próximos anos - acrescenta Bertolucci.
TEMPESTADES COMPROMETERAM
Nas áreas que concentram maior parte a produção de oliveiras no Estado, como na região de Bagé, as chuvas constantes e as tempestades desde agosto são apontados como fatores que comprometeram a safra deste ano, após a safra que bateu recorde histórico, no ano passado. O número exato da quebra ainda não foi estimado.
- Por enquanto, não temos uma definição, mas uma preocupação - diz Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva, relatando que os impactos são diferentes em cada região produtora.
Fernandes diz que há relatos de produtores com perdas em regiões distintas. Mas a grande maioria ainda não consegue chegar a um percentual exato de quebra da produção. Fato é que uma sequência de episódios leva aos indícios de perda: seca tórrida no início de 2023, seguida de um inverno com poucas horas de frio, além de chuva extrema e temporais na reta final do ano.
- Teremos, sim, uma quebra de safra importante em 2024, por efeitos climáticos que são mundiais. Mas as oliveiras sempre nos reservam surpresas. No ano passado, que foi de seca, algumas árvores ficaram muito prejudicadas, e ainda assim tivemos uma supersafra. Precisamos aguardar o final de fevereiro e o mês de março para entender a dimensão do impacto - diz Fernandes.
BIANUALIDADE
Uma característica da cultura mencionada pelos produtores é de que a oliveira tem a sua bianualidade. Ou seja, a cada dois anos costuma render uma grande safra, para no ciclo seguinte encolher e depois retornar aos níveis fartos. A quebra em 2024, portanto, já era esperada em relação ao ano passado, quando a colheita foi recorde no Rio Grande do Sul. A produção de azeites da safra 2022/2023 foi de 580 mil litros, 29% maior que a anterior.