As áreas da saúde, agricultura e da beleza despontam como as próximas a serem ainda mais beneficiadas com produtos e soluções fabricadas com o grafeno. O componente é o destaque da 2ª Feira Brasileira do Grafeno, que chegou nesta terça-feira (14) ao segundo e último dia de programação na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Para o ano que vem, o evento ganhará uma data a mais e será realizada nos dias 27, 28 e 29 de novembro, também no Ginásio Poliesportivo da UCS.
De acordo com o coordenador da UCSGraphene, Diego Piazza, a feira é realizada para consolidar e tornar o produto cada vez mais conhecido no mercado. Nesta edição, 28 expositores apresentaram soluções à base de grafeno - número que deve chegar a 40 no próximo ano. Ainda segundo Piazza, a transição da primeira para a segunda edição do evento em Caxias do Sul revelou o surgimento de produtos mais próximos do dia a dia das pessoas, como tênis, purificador de água, brinquedos, entre outros.
Para os próximos anos, as pesquisas em desenvolvimento mostram que novos produtos devem surgir e mostrar um novo momento do grafeno.
— A feira nasceu mostrando aplicações sobre peças técnicas e chegamos hoje enxergando aplicações no cotidiano. Para o futuro, algumas áreas que não estavam em evidência vão começar a aparecer mais, como a medicina, área de cosméticos, agricultura. São segmentos que, de certa forma, requerem um tempo de maturidade maior para desenvolver as soluções. Acredito que em um ano ou dois muitas coisas vão aparecer — destaca Piazza.
Ainda segundo o coordenador, estão sendo desenvolvidas soluções tecnológicas com grafeno para medicina regenerativa, como curativos para queimaduras e lesões na pele, além de próteses e combinações com células-tronco. Na agricultura, Piazza cita a prática de utilização de materiais plásticos em aplicações agrícolas também à base do componente, 200 vezes mais resistente que o aço, além de ser leve, impermeável e condutor de eletricidade.
Ainda para os próximos anos, o coordenador explica que o ecossistema de inovação voltado à produção, caracterização e aplicação de grafeno vai passar por um processo de reestruturação.
— Poderemos ter o desenvolvimento de novos produtos, que vai precisar de novas estruturas, aumento da capacidade produtiva, novos laboratórios. À medida que o mercado vai demandando, nós estaremos buscando as soluções para atender. E fazendo uma feira como essa, projetando o crescimento, é evidente que esse mercado ficará ainda mais em expansão, não apenas em Caxias, como em todo o país — afirma Piazza.
Entusiasmado, o reitor da UCS, Gelson Leonardo Rech, assumiu a missão de fazer a apresentação do grafeno para centenas de estudantes que foram convidados a visitar a feira. No estande da instituição, logo na chegada, Rech explicava os benefícios do componente e os motivos que fazem do grafeno ser um produto voltado para o futuro.
— Eu sou professor. Quando vejo uma turma de alunos eu quero falar, usar a melhor didática para atender o objetivo. Não sou cientista, mas a gente aprende que aplicando algumas gramas de grafeno em produtos conhecidos tu altera e aperfeiçoa as características, essa que é a grande sacada. Estamos conectando a comunidade, os empresários e a academia em torno desta temática, que é o nosso objetivo — reforçou.
Ainda segundo o reitor, no ano que vem, a Feira Brasileira do Grafeno ampliará o espaço para os expositores. O palco do evento deverá ser montado em uma estrutura externa, permitindo ambientes de negócios, troca de conhecimento e também palestras e atividades para o público. Rech também comemorou o sétimo lugar da UCS entre as universidades privadas no Ranking Universitário Folha, divulgado na terça-feira.
Destaques da Feira Brasileira do Grafeno
A reportagem do Pioneiro circulou pela feira e mostra produtos e soluções desenvolvidas utilizando o componente:
Espumas de colchão de qualidade
Há mais de duas décadas, a Geoflex fabrica espumas para fabricantes de colchões de todo o país. Desde 2020, a unidade no Norte do Paraná passou a produzir o item utilizando o grafeno na composição e há seis meses disponibilizou o produto no mercado. A feira em Caxias foi a estreia da empresa em eventos neste nível.
A matéria-prima é fornecida por empresas parceiras da UCS, instituição que também auxiliou na pesquisa para o desenvolvimento da solução.
— Conseguimos mudar o DNA da espuma e isso permitiu um resultado impressionante. Ao acrescentar o grafeno, mexemos na dissipação técnica, já que o grafeno é um condutor elétrico. Ao deitar na espuma, você não sente o incômodo de esquentar o colchão, ele vai estar sempre mais fresco. Também conseguimos ter um material resistente, ao mesmo tempo mais leve, com elasticidade, que não rasga fácil. O grafeno revoluciona toda a parte química e industrial em âmbito mundial — explicou o diretor Eliandro José Martins.
Ainda segundo Martins, o grafeno auxilia em maior vida útil das máquinas, uma vez que o componente permite menos força nas correntes dos equipamentos. Ele explica também que o custo na produção aumentou até 3%, mas o ganho em qualidade justifica o investimento e faz com que toda a linha de espumas da empresa seja feita com o grafeno.
Borracha que protege no agro e na construção
Uma empresa de Pinhais (PR) desenvolveu uma tinta, uma espécie de borracha líquida, que atua na revitalização e impermeabilização de espaços voltados para construção cível, como telhados, e agronegócio, como silos. O estande exibe maquetes que tornam ainda mais compreensível a aplicação do grafeno.
— A gente deixa o silo praticamente novo. Sem estancar a parte externa, ocorre oxidação interna, o grão acaba aderindo, apodrecendo e perdendo a chapa. No telhado, o produto auxilia na redução da temperatura. Para nós, o grafeno é sinônimo de resistência, seja química ou física. Me permite colocar menos produto e ter mais garantia, vida útil, impactando em menos custos — explicou o revendedor técnico, Rangel Rodrigues.
De acordo com ele, a pesquisa durou 10 anos e todos os produtos da empresa deverão utilizar o grafeno a partir de fevereiro do ano que vem.
Grafeno no jogo
O grafeno aparece até mesmo em um game desenvolvido pela Hubbe, uma startup de desenvolvedores de Caxias do Sul e presente na feira.
Chamado de Grafeno SurvivoRS, o jogo tem um cientista como protagonista que busca em uma floresta produtos feitos com grafeno. Ao encontrar o item, uma mochila é aberta, que traz ao participantes informações e características sobre a aplicação da tecnologia. Ao mesmo tempo, o participante precisa driblar inimigos.
O game foi feito em duas semanas, especialmente para o evento.
— Fizemos uma versão para a Mercopar, com outro assunto, onde o empresário encontrava livros na floresta e que explicava sobre LGPD. Além de apresentarmos o jogo como ferramenta educativa e de entretenimento, mostra a nossa capacidade de programação — explicou Ingrid Jiacomin, gerente da startup.
Para buscar recursos
Uma empresa de São Bernardo do Campo (SP), mas com laboratório em Caxias do Sul, desenvolveu produtos com foco na logística. Um deles é um dormente para trilho de trem, item responsável por manter a distância entre os trilhos, além de fixa-los e servir como o suporte. O produto foi desenvolvido com 90% de polímero e 10% de resina, com adição do grafeno, que dá mais fluidez no processo de produção e levando mais resistência no produto.
— Por ser um produto que fica exposto ao sol, o grafeno deu mais resistência UV. Se não fosse esse componente, teríamos que usar aditivos, que encareceria ainda mais o produto. Se tornou uma ferramenta básica. Foram dois anos e meio de pesquisa e precisamos de investidores, públicos ou privados, para estar no mercado. Nosso planejamento é produzir a partir da metade do ano que vem, e a fábrica será em Caxias do Sul — explicou o diretor comercial da empresa, Alexandre Susin.
A empresa também desenvolveu vergalhões de ferro para a construção civil, reduzindo em 10% o peso em relação ao produto sem grafeno.