Realizada em 2021, a primeira edição da Feira Brasileira do Grafeno mostrou ao país o que era possível ser feito com o material considerado o mais forte e leve do mundo. Aberta na manhã desta segunda (13), com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, a segunda edição do evento desta vez apresenta, no ginásio da Vila Olímpica da Universidade de Caxias do Sul (UCS), os produtos que atualmente são vendidos em escala comercial e que utilizam o composto na sua produção.
De capacetes a brinquedos, de filtros d’água a calçados de corrida, o uso da tecnologia desenvolvida pelo sistema de inovação, incubado na UCS, hoje é realidade e tem motivado pesquisas e desenvolvimento de novos produtos.
Até a terça feira (14), os 28 expositores, empresas e instituições de diversas regiões do país apresentam as aplicações para o grafeno. A matéria-prima, utilizada por 70% deles, é fornecida pela Znano, empresa caxiense e parceira da UCS.
— É um material que requer conhecimento técnico para manuseá-lo. E as empresas têm suas estratégias e seus tempos, então eu diria que são milhares de empresas pesquisando e produzindo, mas em âmbito mundial ainda são minoria. No Brasil, nos sentimos privilegiados por poder, na maioria dos projetos que existem, fornecer a matéria-prima em cooperação com a UCS — afirmou o CEO da Znano, Sérgio Bortolatto.
A partir da nanotecnologia extraída do grafite, minério que dá origem ao grafeno, se aprimoram as propriedades de termoplásticos, borrachas, resinas e óleos lubrificantes. A utilização do grafeno eleva a resistência dos produtos e garante o que há de mais moderno em tecnologia. Atento às possibilidades de utilização, a empresa gaúcha Vulcabras, que produz calçados para grandes marcas esportivas, viu no grafeno a oportunidade de, literalmente, impulsionar o produto.
— Entramos em outro patamar de tênis para corrida ao incluir a placa de grafeno na sola, que auxilia na impulsão do corredor. Foi o primeiro do mundo a usar grafeno enquanto outras marcas usam carbono — explicou o especialista em desenvolvimento da Vulcabras, Júlio César Marcos.
Projetado para corrida de alta performance, o Olympikus Corre Grafeno já está na segunda edição e é um sucesso entre atletas amadores e de elite. A primeira edição da feira brasileira foi, segundo Marcos, fundamental para o desenvolvimento do produto:
— Já estudávamos o grafeno, mas a feira nos deu a oportunidade de ter o contato com o material. Vimos isso como um grande negócio que concretizou a evolução do mercado quando foi aceito pelos corredores. Nas maratonas internacionais de São Paulo e Porto Alegre, por exemplo, atletas de elite que subiram ao pódio calçavam os nossos tênis — contou.
Grafeno para purificar água
Com 15 anos no mercado de soluções para purificação de águas, a empresa Acquabios, sediada em Farroupilha, lançou em setembro o que considera ser o primeiro purificador com tecnologia de grafeno no mundo.
A inovação, que utiliza o composto no reservatório, foi premiada com um selo, conquistado em um feira internacional (Febrava) por ser eficiente e dar vida útil ao equipamento. A utilização da tecnologia no Ultra Ice Grafeno, segundo a diretora comercial Daiane Panazzolo é também viável economicamente e não aumenta o valor, hoje comercializado a partir de R$ 1,7 mil.
— O compressor trabalha menos em função do grafeno, posso dizer com propriedade que é o equipamento mais eficiente do mercado hoje. A feira nos empolga, porque reúne pessoas muito interessadas nas utilizações. Vamos ganhar em projeção do uso do grafeno, ele é a estrela, não podemos colocá-lo na prateleira de materiais comuns. Ainda estamos na empolgação de tentar entendê-lo, mas quanto mais a gente testa, mais a gente se empolga — disse Daiane.
A utilização da nanotecnologia apresentada durante a feira também está presente em componentes automotivos, industriais e de segurança, além de tintas e até espumas para colchões. Mas passa também por incluir o grafeno em partes mais frágeis de brinquedos, produzidos em Caxias do Sul pela BIM.
— Quando estava desenvolvendo, percebi que teria alguns pontos fracos, como no acionamento interno. Há uns 15 dias, surgiu a oportunidade de expor na feira e está aí o produto muito mais resistente — contou o diretor da BIM, Roberto de Mozzi.
O Acorda Coruja, um boneco que reproduz um jogador de futebol e que chuta uma pequena bola, tem o acionamento conduzido por uma haste interna feita de grafeno e que garante a durabilidade. A base também é feita a partir do grafeno e o restante de plástico. A utilização definitiva do composto está em fase de testes, de acordo com Mozzi.
Abertura prestigiada e com anúncios
Os mais de 20 anos de pesquisa e desenvolvimento do grafeno realizados pela UCS resultaram na conexão com o setor produtivo incentivado pela segunda edição da feira. Na abertura, o evento contou com a participação da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, que exaltou o pioneirismo de Caxias do Sul em estudar as utilizações do grafeno.
— Com essa planta industrial, estamos ofertando a partir do Rio Grande do Sul um produto especial, de muito valor, e é tudo o que desejamos para o país. Garantir que nossas reservas naturais possam se traduzir em valor. O Brasil está assim conseguindo se inserir nas cadeias mais dinâmicas que o mundo exige — disse.
No discurso de abertura, o prefeito Adiló Didomenico anunciou um projeto que reduz em 50% a alíquota de tributos de vários segmentos, entre eles o de desenvolvimento de qualquer natureza que beneficiará a pesquisa do grafeno. A redução é de 50%.
— Acreditamos muito na redução da carga tributária, porque ninguém quer comprar o nosso imposto, querem comprar o nosso produto. E a universidade tem isso de sobra e precisa do nosso apoio, portanto, com o apoio do Poder Legislativo, tenho certeza de que nos próximos dias estaremos encaminhando e teremos a acolhida deste importante projeto — disse.
O projeto, que reduziria de 4% para 2% a alíquota para serviços de pesquisas, tem previsão, segundo o executivo, para ser protocolado na Câmara de Vereadores até o dia 23 de novembro.