A indústria brasileira vai apresentar ao governo federal, nas próximas semanas, um plano destinado a criar uma política pública de estímulo à troca de eletrodomésticos antigos e com menos eficiência energética por aparelhos mais modernos e com menor consumo de energia ou de água. A iniciativa é recebida com otimismo pelas entidades representativas do comércio, em Caxias do Sul, já que servirá de incentivo para o consumidor ir às compras.
— Eu, como represento o comércio, sempre digo que tudo o que faz a economia girar é bom, é ótimo. Então, neste caso, estimula o consumo, gera emprego e faz a economia girar. Então, para o comércio é muito bom. Tudo o que reduz impostos é bom para o comércio. Tem muitas pessoas que têm o seu eletrodoméstico já há 10 ou 12 anos, funcionando, mas que, enquanto tá funcionando, a pessoa não vai às lojas para adquirir um novo, em função do custo, da recessão econômica... Mas, se ele tiver um incentivo para fazer isso, com certeza isso vai trazer fluxo para as lojas — destaca Idalice Manchini, vice-presidente de Comércio da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.
O objetivo do setor eletroeletrônico nacional é aproveitar a intenção já manifestada pelo Planalto de estimular a compra da chamada "linha branca", como geladeiras e máquinas de lavar, para implantar no país um programa permanente e mais abrangente — a exemplo de iniciativas semelhantes vistas em países como México ou Itália. Na Argentina, o Banco Mundial aprovou recentemente um empréstimo de US$ 400 milhões para ações que incluem a substituição de equipamentos ineficientes.
Na quarta-feira da semana passada (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que gostaria de retomar um programa destinado a baratear utensílios domésticos. Lula citou especificamente a linha branca, em uma iniciativa semelhante à adotada em sua primeira gestão, em 2009, quando um corte de impostos federais reduziu temporariamente os preços desses produtos. Na mesma conversa, porém, o presidente também citou outros aparelhos que poderiam ser abrangidos pela nova política federal, como televisões.
Assim como a vice-presidente da CIC, o presidente do Sindilojas Caxias, Rossano Boff, acredita que incentivos são sempre bem-vindos:
— Entendemos que é um incentivo que provavelmente vai ser em cima de uma carga tributária que acaba estimulando o consumidor a trocar o seu eletrodoméstico por um novo que seja ecologicamente mais correto. Então, a gente beneficia o consumidor com esse estimulo da redução de uma carga tributária e, automaticamente, seu consumo de energia elétrica também será menor. A gente pensa que é favorável, quando o governo sinaliza redução de carga tributária, porque essa carga quem paga é o consumidor final — diz Boff.
Para o presidente do Sindilojas, todo incentivo de redução de preço final de mercadoria, principalmente quando é gerado pela diminuição de uma carga tributária, é positivo.
— A partir do momento que o governo começa a enxergar que a carga tributária deva ser menor, ele acaba dando estimulo para a indústria e para o comércio pela questão de movimentação maior da economia e, automaticamente, o consumo aumenta e a arrecadação de tributos também aumenta, gera mais emprego, então a gente vê de uma forma positiva.
Nesta quarta-feira (19), a professora Evandra Reis estava em uma loja de eletrodomésticos no centro de Caxias do Sul olhando os produtos. Na avaliação dela, os equipamentos antigos funcionam bem, mas ela não descartaria trocar caso tivesse algum benefício para isso:
— Se fosse para algum benefício, alguma coisa, eu até trocaria, mas as peças antigas são melhores... Então, acho que não trocaria agora. Só se fosse por uma daquelas geladeiras bem grandonas, mas são muito caras.
A indústria eletroeletrônica nacional já trabalha em uma proposta mais abrangente, com conhecimento do governo federal, para criar um programa permanente que favoreça um consumo mais eficiente de energia e água por meio do incentivo à troca de equipamentos velhos por outros mais modernos e eficientes.
— Nos próximos 40 dias, pretendemos entregar essa proposta. Já levamos isso ao conhecimento dos ministérios da Indústria, das Cidades e Casa Civil, que aguardam o envio do projeto. A base instalada de eletrodomésticos que temos hoje no país é de 10, 12 anos atrás (em média), enquanto hoje já produzimos equipamentos muito mais eficientes tanto em relação ao consumo de energia quanto ao uso de água — afirma o presidente executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento.
A associação chegou a discutir previamente com o governo a possibilidade de acoplar esse plano ao relançamento do programa Minha Casa, Minha Vida. Assim, os imóveis seriam entregues já com aparelhos básicos com tecnologia atualizada, a exemplo de geladeiras e fogões. A proposta acabou não avançando a tempo, embora a combinação entre as iniciativas ainda esteja no horizonte das conversas entre a indústria e o Planalto.
Segundo Nascimento, há diferentes meios pelos quais a proposta, se for acatada, poderia facilitar a renovação dos eletrodomésticos no Brasil. Um novo corte de impostos é uma das possibilidades, mas também poderia se oferecer uma linha de crédito para aquisição de aparelhos com alta eficiência energética, desconto no preço mediante a devolução do equipamento antigo ou, como existe na Itália, até um abatimento no Imposto de Renda para quem der preferência para equipamentos de baixo consumo.
— A intenção é que seja um programa de Estado, permanente, com foco em sustentabilidade, em vez de uma política temporária de governo. Produtos com menos consumo não apenas são mais sustentáveis como acabam por reduzir as despesas com contas de energia e água posteriormente — afirma o presidente da Eletros.
O governo federal aguarda o envio do projeto da indústria para seguir com as tratativas. Chegou a ser anunciado que Lula trataria do tema na semana passada em uma reunião com o ministro da Fazenda Fernando Haddad, mas isso acabou não ocorrendo.