A manutenção dos 13,75% ao ano da Selic, a taxa básica de juros da economia no Brasil, desagradou entidades empresariais caxienses, como Sindilojas, CDL e CIC, apesar de já esperarem a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), tomada quarta-feira (21). O mesmo percentual vem sendo mantido desde agosto de 2022, pela sétima vez consecutiva.
O percentual, segundo o professor de Economia e Finanças do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) Eduardo Santarossa, é "bastante restritivo". Ele recorda que, no início de 2020, a taxa Selic estava em 2%. Devido à pandemia e ações que foram necessárias para a retomada dos trabalhos, segundo Santarossa, foi acumulando um percentual de quase 12% de aumento na taxa. Por isso, durante 2022, ela foi subindo até atingir os atuais 13,75%.
— Foi um aumento considerável de quase sete vezes o número inicial. O Banco Central foi o primeiro a começar o aumento de taxas para controlar a inflação após a pandemia, saindo do menor patamar histórico (2%) para esse grande aumento praticado hoje (13,75%) — acrescenta Santarossa.
Esse ato, segundo o professor universitário, também teve êxito, já que a inflação reduziu devido a esta manobra. Porém, ainda não atingiu a meta do Copom. No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 3,94%, contudo, o objetivo é chegar a 3,25% em 2023. E a projeção é de 3% em 2024. Portanto, o Copom entende que a Selic não pode se reduzida, já que a meta não está dentro do exigida.
— A baixa da Selic, tão aguardada pelos setores, só será possível, quando o Banco Central tiver certeza absoluta, olhando todos os fatores que a engloba, que a inflação está controlada — afirma Eduardo.
Santarossa observou que no comunicado emitido pelo Banco Central para informar a manutenção da taxa, não há mais a informação de que a Selic pode subir nos próximos meses. Portanto, o professor acredita que, possam ocorrer pequenas reduções mais adiante, de cerca de 0,25%. No ano que vem, o economista tem uma estimativa de cortes maiores, chegando a 0,75% por encontro.
CDL, Sindilojas e CIC Caxias
Já o assessor de Economia e Estatística da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Caxias, Mosár Leandro Ness, interpreta que a manutenção da taxa Selic, em comparação com a economia exterior, está no caminho correto.
— Se a gente forçasse uma queda agora da taxa dos juros, enquanto os EUA mantêm a sua taxa de juros, nós teríamos o esvaziamento dessa situação. O real ia se depreciar em relação ao dólar. E teríamos novamente um ciclo de inflação de custos provocado pela depreciação do real — explica o economista.
Porém, Ness diz que comunicado emitido pelo Copom "jogou um balde de água fria no mercado", pois não sinalizou que deve baixar a taxa Selic nos próximos encontros. A queda, ou não, vai depender das condições econômicas do país, políticas fiscais e até de decisões do governo que impactam no lado financeiro do Brasil. Essa condição impacta na confiança das pessoas em gastar o dinheiro.
Em relação à opinião dos empresários que compõem a CDL de Caxias, a entidade deixa claro, segundo o economista, que o comércio precisa de uma oferta de crédito melhor. De condições de crédito, ou seja, haver mais dinheiro para ser emprestado. Portanto, que a taxa deveria baixar e não se manter estável. Mas, na visão de Ness, apenas a disponibilização de algumas linhas de crédito já seriam suficientes. Ele acredita que é necessário um olhar, principalmente, para o setor de construção civil, para movimentar a economia brasileira.
Para o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC), Celestino Loro, o cenário também é visto de forma negativa. Conforme Loro, era esperada uma redução ou uma sinalização de que a taxa será reduzida.
— O cenário ideal seria a taxa ficar em um dígito até o final deste ano, ou seja, abaixo de 10%, mas sabemos, por exemplos recentes, que a diminuição pela diminuição, quando não segue a realidade do cenário econômico, também é prejudicial. Tínhamos expectativa de uma movimentação, porque a manutenção da taxa causa consequências em investimentos e no próprio consumo — conta o presidente.
Ainda conforme o presidente, o ideal para o cenário econômico é que todas as esferas que compõem a economia sejam impactadas em conjunto, tendo condições aplicadas pelo governo para que ocorra a diminuição da taxa. Loro avalia ainda que o cenário político atual está em um período conturbado, que acaba tendo como consequência os altos juros.
A mesma expectativa de diminuição na taxa mencionada pelo presidente da CIC estava sendo esperada pela direção do Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul (Sindilojas). Segundo a diretora do órgão, Idalice Manchini, além dos 13,75% da taxa, a inflação também impacta negativamente o comércio.
— Sabemos que esta taxa de juros mantida por muito tempo desacelera a economia e, atrelada à baixa inflação, acaba desacelerando o consumo. Acredito que quando houver a próxima reunião, a tendência seja que haja uma diminuição. O ideal seria que essa taxa fosse para 8%, mas se diminuir, por exemplo, para 12%, o comércio já começa a girar melhor. — acredita Idalice.
Além disso, conforme explica a diretora, a taxa alta acaba encarecendo o crédito e diminuindo os investimentos no Brasil. Se houve uma queda, os consumidores voltam para as lojas e o setor terá, como consequência positiva, um giro econômico.
Entenda o funcionamento da taxa Selic na economia brasileira
O professor da FSG Eduardo Santarossa explica que a Selic é a taxa básica de juros brasileira, que controla o curso do dinheiro para a economia. Ela é base de todas as taxas de empréstimos, financiamento, aplicações financeiras, entre outras. O Banco Central é o órgão executivo desta taxa de juros e utiliza o indicador para controlar a inflação.
Santarossa salienta que a inflação é o aumento generalizado de preços da economia. Então, quando esses preços variam muito, eles são ruins para a economia como um todo, eles dificultam a tomada de decisões dos agentes financeiros, das famílias, empresários. Portanto, a taxa Selic precisa ser elevada para controlar esses aumentos e frear a economia. Quando baixa a Selic, significa que o dinheiro está mais barato e assim aumenta-se a demanda por crédito e financiamento. A baixa, segundo o professor, é uma política que estimula a economia.
— É como se a gente dissesse que a inflação é uma doença e a taxa Selic seria o remédio para controlar a expansão dessa doença — simplifica o professor universitário.
O percentual ideal é "complexo", de acordo com Santarossa. Mas os especialistas brasileiros em economia estimam que, se a taxa Selic estivesse entre 8% e 9%, e a inflação em torno de 4%, seria possível ter uma economia neutra. Não haveria grandes estímulos na economia, mas também não teria taxas tão altas como a atual.