A queda nas temperaturas na região da Serra, prevista para esta semana, já tem apresentado reflexos positivos para setores da economia voltados ao frio. O principal deles, claro, é o de vestuário. Depois de enfrentar dificuldades na cadeia produtiva nos três últimos invernos, agora, as malharias e fábricas de roupas estão com estoques garantidos.
O Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste do RS (FitemaVest), que representa cerca de 800 indústrias do setor na região, estima um crescimento de 5% nas vendas durante o inverno, se comparado ao mesmo período do ano passado. O ramo, que sofreu com a falta de matéria-prima nos períodos mais críticos da pandemia, já conseguiu normalizar os estoques e torce para que o frio chegue logo.
As lojas que vendem produtos de fábrica na região estão abastecidas à espera dos clientes que vêm de longe. O Centro de Compras Farroupilha espera superar as vendas do inverno passado.
– (É) Diferente do ano passado, que não se tinha tanta mercadoria disponível, tanto para confeccionar quanto para as malharias produzirem as peças. Então, a expectativa é que não vai faltar mercadoria para ser vendida – garante a administradora do centro comercial, Marisa Mussoi.
O público vem de várias regiões do Estado, como Fronteira e Metropolitana, além de outras unidades da federação, como Santa Catarina e Paraná. Clientes finais tanto de pessoas físicas quanto lojistas à procura por produtos no atacado.
– Neste ano, todo mundo se reestruturou, antecipando matéria-prima para modelagem. É uma coleção muito bonita bem colorida. O inverno mudou muito de proposta, nós tínhamos sempre o inverno mais fechado, mais sóbrio, mas agora está mais colorido, com muita luz – conta a proprietária de loja Jomara Arcari.
– Farroupilha é um grande polo têxtil, voltado mais para área de malha retilínea. Vêm pessoas de todo o Brasil. O setor está fortalecido, bem resiliente. A gente precisa de um setor assim, preparado para atender o público do Brasil inteiro – reforça o presidente do Fitemavest, Elias Biondo.
As empresas de malharias em Caxias do Sul também confirmam que não enfrentam mais dificuldades para encontrar insumos. Porém, na questão de custos, houve um aumento que precisou ser repassado.
– Ao longo do ano passado, tivemos inúmeros aumentos de matérias-primas, aviamentos. Agora, estamos num período mais estável em termos de preços, porém, no início da coleção, nós tivemos que repassar esses custos na ordem de 15%, mais ou menos, para o lojista – comenta o sócio-diretor de uma empresa, Nelso Giacomin.
Nos últimos anos, o setor precisou adaptar as coleções pra lidar com estações do ano menos definidas.
– A gente tem uma indústria na Serra gaúcha muito flexível. Acreditamos que conseguiremos fazer frente às adversidades do clima. Temos um grande potencial na região, matérias-primas diferentes. Conseguimos fazer produtos mais finos e mais grossos, para que possamos atender todas as estações do ano – acrescenta Elias Biondo, do Fitemavest.
As novidades disponibilizadas anualmente têm agradado a clientela.
– O que mais chama atenção são as novidades e as tendências, que sempre eu procuro estar por dentro. Que tenha, sim, muita qualidade nas malhas – conta a enfermeira Daniele Luza.
As lojas comemoram a procura nestes dias pré-inverno.
– Tem clientes que vêm aqui dar uma olhadinha, ver as opções, tamanho, tem bastante gente à procura. Neste ano, o frio atrasou um pouquinho, mas agora está se apresentando e as pessoas estão lembrando que elas precisam bastante (de malhas) no inverno – comenta o vendedor Willian Cabral.
A auxiliar industrial Taís Rosset veio com a família escolher roupas nas lojas do centro de Caxias do Sul.
– A gente prefere ver os preços, porque depende das nossas condições, mas até que os preços estão mais ou menos bons – disse Taís.
Venda de lenhas também tem aumento
Outro ramo que também comemora o anúncio da chegada de frio mais intenso é o de lenhas. Na Carvolenha, no bairro São Leopoldo, em Caxias do Sul, a expectativa é de que o estoque atual dure apenas uma semana.
O depósito, que ao longo do ano costuma entregar lenha para pizzarias da cidade, viu a procura aumentar cinco vezes nesta semana. O proprietário, Pedro Camello, espera vender 400 pacotes por dia.
– (A procura) Começa às 6h e vai até de noite. Até que tem cliente a gente trabalha. Porque, na medida que o pessoal sai das empresas, eles vêm direto pra cá e temos que atendê-los – disse Camello.
Afinal, uma lareira acesa no inverno sempre ajuda a amenizar o frio e proporciona aquele clima agradável dentro de casa.
– Eu adoro inverno, não gosto do verão. (É bom) Um fogo na lareira para se aquecer um pouco – comenta a doméstica Geneci Nunes Duarte.
– Só assim para aguentar o frio. Tu chegar em casa de noite e fazer um foguinho é um espetáculo – finaliza Camello.