Países como Estados Unidos, Portugal e Nova Zelândia enfrentam a falta de um alimento superpopular na mesa e na cozinha dos brasileiros: o ovo. Uma matéria divulgada pela BBC na semana passada aponta que entre as causas para o desabastecimento no país norte-americano está a gripe aviária, que levou a morte de milhões de aves poedeiras. Já na Europa, além da doença, a baixa na oferta nas prateleiras dos supermercados está relacionada com os custos dos grãos e da energia elétrica, influenciadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Mas e o Rio Grande do Sul ou a Serra gaúcha podem lidar com a falta de ovo, a exemplo de outras regiões do mundo?
O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, avalia que é precoce falar em desabastecimento do alimento, mas não desconsidera a hipótese de um eventual ajuste na produção brasileira. Isso em função de questões internas e externas, como a alta na exportação e o aumento de produtos que compõem a ração das aves, especialmente o milho.
— A demanda vem aumentando. Para se ter uma ideia, o Rio Grande do Sul fechou 2022 com quase 2,8 mil toneladas de ovos exportadas, um crescimento de 38% sobre 2021. Isso é um volume considerável. No Brasil, sofremos com a polarização política e ainda não temos a economia estável. Além disso, o nosso setor enfrenta uma nova estiagem e ainda temos um custo de produção elevado com o milho, por exemplo, que é 70% da ração das aves, que saiu da casa dos R$ 46 a saca, em março de 2020, para, hoje, pagarmos de R$ 95 a R$ 100. Por outro lado, o nosso preço de venda não subiu — pontua o presidente da Asgav.
Todas as ponderações de Santos ajudam a explicar a segunda questão apontada por ele: uma possível redução na oferta em longo prazo.
— São situações que colocam o setor que produz em larga escala em estado de alerta e, para não ficar com prejuízos enormes ou irrecuperáveis, acaba, em determinado ponto, reduzindo um pouco sua produção. Com isso, há uma possibilidade de ajuste ou redução na oferta, caso persistam essas questões econômicas, de estiagem, de custo elevado... — avalia o presidente da Asgav.
Já Nestor Pistorello, proprietário de uma granja em Galópolis, no interior de Caxias, por sua vez, não acredita que haja desabastecimento do produto no país ou mesmo na região. Ele, que se considera um pequeno produtor, conta com cerca de 21 mil aves e produção diária em torno de 1,3 mil dúzias ou 15 mil ovos.
— Hoje, o Brasil não vai enfrentar problema de desabastecimento, porque aumentou o consumo, mas se aumentou a produção também, em função da tecnologia e da automação. Não vejo esse problema — sinaliza.
Uma das questões reforçadas pelo produtor são os preços dos insumos, que sofreram elevação. Ele estima que cerca de 60% dos custos da granja se voltem para a ração que alimenta as aves. Neste sentido, o aumento percebido por Pistorello nos últimos três anos chega a 80%. Atualmente, na granja dele, cada dúzia é vendida com valor de R$ 5 a R$ 6, conforme o tipo do ovo e o volume comercializado.
Novos aumentos não são descartados
Um levantamento da reportagem junto à Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa/RS) mostra a elevação no preço do ovo branco no período de um ano no Estado. Em 18 de janeiro de 2022, o valor da caixa com 30 dúzias era de R$ 120 (mais frequente). Já na cotação mais recente, realizada na última quinta-feira (12), o preço praticado era R$ 170 para a mesma quantidade, o que representa um aumento de 41,6% em 12 meses.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, uma possível diminuição da oferta impactaria no preço do produto, por isso, não estão descartados novos aumentos aos consumidores nos próximos meses, caso o cenário analisado por ele permaneça.
— É a lei da oferta e da procura. Mas é importante pontuar que os reajustes nas proteínas não são tão sentidos pelos consumidores. O setor historicamente reajusta de forma escalonada, gradativa, 2%, 5%, 7%... — aponta Santos.
Proprietário de um sacolão na Rua Matteo Gianella, no bairro Santa Catarina, Marcelo Zimmermann, relata que, após uma elevação considerável no primeiro semestre do ano passado, o preço da caixa com 30 dúzias se estabilizou:
— Desde junho, se mantém o mesmo preço — comenta ele que adquire os ovos de um fornecedor de Caxias, o qual pega o produto em duas granjas.