O setor de serviços disparou na geração de vagas de emprego em Bento Gonçalves neste ano. São 876 postos criados no setor, enquanto que a indústria, segunda colocada, tem 340. Neste ano, o setor de serviços superou a indústria, com 19 mil vinculadas até a última estatística divulgada, referente a outubro. Isso representa cerca de 3,4 mil empregados a mais do que no ano de 2013 nesse setor. Com isso, o município inverte a lógica de ter o setor industrial como o que mais emprega na cidade, diferentemente de Caxias do Sul, onde a indústria continua disparada como a maior geradora de vagas. Até outubro, a indústria bento-gonçalvense tinha 18.909 funcionários. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG).
A presidente da entidade, Marijane Paese, aponta que esse cenário é resultado de uma mudança nas formas de contratação a partir da Reforma Trabalhista de 2017, processo que se acentuou a partir de 2020. Segundo ela, as novas formas de trabalho abertas com a legislação possibilitaram que a indústria passasse a contratar profissionais fora do regime CLT:
— Não significa que a indústria passou a gerar menos empregos. É a própria mudança de cenário, de oportunidades de trabalho que se tem hoje que fizeram com que essas ações fossem possíveis. Então, cargos que são de uma gerência, setores administrativos, que não necessariamente têm de estar dentro da empresa controlando processo, podem ser executados dessa forma.
Além disso, de acordo com a empresária, a possibilidade de ser Microempreendedor Individual (MEI) e, ao mesmo tempo, ser celetista abriu a oportunidade para que profissionais que desenvolviam atividades fora do expediente buscassem regularização como MEI. Para se ter uma ideia, houve um salto de 19% no número de MEIs no município entre 2020 e 2021 e a estimativa do CIC é que ocorra um aumento de outros 15% ao fim deste ano.
Turismo
Um segmento importante dentro dos serviços em Bento Gonçalves é o turismo. O município, já reconhecido como importante destino para atividades de lazer, segue ganhando empreendimentos. As novas empresas, claro, precisam de mais mão de obra. O secretário do Turismo de Bento, Rodrigo Ferri Parisotto, destaca que mesmo as empresas que não são diretamente ligadas ao setor podem ser fornecedores que fazem os serviços crescerem:
— São dados interessantes e importantes que demonstram o quanto a economia baseada em serviços tem crescido e movimentado a nossa cidade. Nós percebemos nestes últimos anos, mesmo com a pandemia, o número crescente de novas empresas e novos atrativos turísticos que abriram no município. Isso demanda mão de obra e essa movimentação, que já é baseada tanto na indústria quanto no comércio e serviços, faz com que novas oportunidades surjam para aqueles que estão buscando uma nova oportunidade no setor — comenta.
Novas formas de trabalho
Lea Rodrigues Frare começou a trabalhar como auxiliar de tecelagem aos 13 anos, em Farroupilha. Desde então, passou por grandes indústrias de calçados, pneus e móveis, além de uma varejista. Graduada em Administração e pós-graduada em Gestão de Pessoas, ela deixou o emprego CLT, em 2017, para se dedicar a prestar assessoria às empresas. Hoje, aos 45 anos, a microempresária compõe o setor de serviços de Bento Gonçalves. Encaixa-se, assim, dentro da avaliação do CIC-BG de que o setor dialoga com a indústria.
A decisão de estar fora do regime mais tradicional de trabalho passa por fatores como flexibilidade de horários e a possibilidade de ampliar conhecimentos. A empresária normalmente fecha um contrato com um turno de trabalho definido dentro da empresa, que se adequa às necessidades da vida pessoal dela. Além de fornecer serviços para solucionar gargalos dos negócios, Lea também faz mentorias para treinar profissionais que têm a formação, mas ainda não a experiência.
— Essa mobilidade é o que me atraiu para essa área e também a oportunidade de na minha especialidade conhecer outras formas de aplicar, que é conhecer outros segmentos. Então, eu trabalhei na indústria, no varejo, nos transportes... E também, nos últimos anos, eu tive a oportunidade de participar, voluntariamente, como membra-voluntária de uma associação de Recursos Humanos — explica.
Saiba mais
O setor de serviços também é o que mais gera arrecadação de impostos no município. Dados da prefeitura mostram que, em 2021, ele correspondeu a 42,9% da arrecadação.