O Mérito Metalúrgico Gigia Bandera, principal distinção da indústria caxiense, teve os nomes dos agraciados divulgados na manhã desta quinta-feira (3). Os escolhidos são o presidente das Empresas Randon, Daniel Randon, o diretor da PCPSteel, Humberto Cervelin, e o diretor da Imatron, Reomar Slaviero. O anúncio foi feito pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul. A cerimônia de entrega será no dia 25 de novembro, na Villa Basilico, em Caxias do Sul.
Empresários com longa trajetória, cada um tem um perfil diferente, mas, em comum, a dedicação com suas empresas e a vontade de colaborar com a sociedade. O nome do prêmio Gigia Bandera se refere a Luigia Carolina Zanrosso Eberle. Em 1884, ela chegou ao Brasil, instalando-se com a família em Caxias do Sul. Mas, em 1886, o marido Giuseppe, então agricultor, comprou de Francisco Rossi uma funilaria na Rua Sinimbu. Com o tempo, decidiu dedicar-se somente às atividades agrícolas, cabendo à esposa o aprendizado na pequena indústria. Além de cuidar dos filhos, Gigia atendia ao balcão, trabalhava na oficina como funileira, fabricando e consertando peças para depois vendê-las. Como pioneira do seu tempo, a microempresária é reconhecida como uma mulher empreendedora, que impulsionou, desde a sua época, o desenvolvimento industrial regional.
Nestas entrevistas, concedidas logo após a apresentação no Simecs, os novos agraciados falaram da alegria com o reconhecimentos e sobre suas histórias. Confira:
REOMAR SLAVIERO
"Fico muito contente, muito orgulhoso de receber. A gente sabe da importância desse mérito, do que representa para a comunidade empresarial, industrial. A nossa vida começou com um operário, um colaborador aos 16 anos, passando no comércio, por serviços, trabalhando tanto em empresas privadas quanto em estatal. Isso deu uma experiência, um conhecimento para que a gente pudesse, inclusive, atuar na comunidade. A gente esteve presente na comunidade, porque acredito que é como a gente devolve aquilo que recebe da comunidade. Além do reconhecimento, é ver as coisas acontecerem e preparar uma cidade, ter uma cidade para nossos filhos e agora para os nossos netos".
"Começamos uma empresa muito pequena, juntamente com meus irmãos, lá embaixo da casa do meu pai. A gente começou pequenininho. Em Caxias, não existe nenhuma empresa que eu conheça, principalmente essas que estão despontando, que começaram grande. Todas começaram pequenas, têm uma história uma dificuldade, crises que passamos e também aprendemos essa questão do equilíbrio entre o empreendimento e o trabalho. Isso também me levou a participar aqui do Simecs, estou participando da Fiergs, entendendo a importância, por exemplo, da escola Senai. Eu tive a oportunidade de ser o que eu sou graças a ter começado na escola Senai, estudando. Eu tinha de estudar à noite. Era difícil, e a minha oportunidade de poder fazer alguma coisa foi ir para a Varig fazer um concurso e ter conseguido passar, fazer um treinamento com remuneração. Porque eu precisava pagar minhas despesas, meus pais não tinham essas condições. Isso eu enxergo como muito importante, essa coisa de ajudar o jovem a se desenvolver e ter uma profissão"
"Nada é fácil. A gente sabe que muitas vezes leva tempo e aí eu vejo a minha história também e muitas histórias. Ajudei muitos jovens a terem suas empresas e me sinto muito contente, sinto que me me realizei. Diria que nada é fácil, tem dificuldades, mas hoje a gente tem bastante oportunidades, existe informações, eu acho que nós temos de lutar e fazer as coisas acontecerem".
"Acho que a economia já está começando a a melhorar. Acredito que o governo, se não atrapalhar, já é um é bom começo. Nós tivemos a dificuldade da pandemia, então, tudo isso prejudicou, mas, por outro lado, a pandemia também apontou algumas coisas que são positivas. Represou muito e também mostrou o que nós temos de fazer para operar as dificuldades. Eu sou muito otimista e acredito que vamos viver bons momentos de agora em diante. Que acabe essa guerra (da Ucrânia) e que a gente possa realmente conviver com paz, harmonia e só pensar em desenvolvimento e o bem-estar de todos".
DANIEL RANDON
"Para mim é uma emoção muito grande. O Simecs reconhece o empreendedorismo, a inovação cada vez mais, agora dos jovens empreendedores também. A minha história praticamente se reflete muito dentro das Empresas Randon e eu sempre olho toda a história do meu pai, do meu tio que iniciaram há 73 anos e pra mim, junto com a família. Tem sido um orgulho, mas também um desafio de continuar esse legado. A gente fala que sempre mantém os valores e princípios, mas continua inovando. Como meu pai e meu tio foram arrojados lá atrás, esse é o nosso papel de continuar, passando todas turbulências macroeconômicas ou microeconômicas, mas que nós possamos dar continuidade. Para a minha história dentro das empresas sempre foi o aprendizado de sempre contar muito com as pessoas. As pessoas que são a grande diferença, sem deixar de olhar também para fora em projetos. Participei da Cruz Vermelha em Caxias do Sul, no Simecs, no Conselho de Inovação e Tecnologia da Fiergs e agora no Transforma RS, que é uma visão de um hub colaborativo entre empresas, setor público, universidades pra buscar essa convergência de uma pauta de competitividade, que é isso precisamos. Principalmente dentro do nosso Estado e, sem dúvida, no cenário brasileiro".
"2008 e 2009 foi um cenário muito difícil no mundo. Naquele momento, eu estava coordenando e liderando a Fras-le, que é uma das empresas do grupo de capital aberto, e, mesmo nesse momento difícil, fizemos todo o trabalho de casa, mas continuamos expandindo com fábrica no Alabama, nos Estados Unidos, uma fábrica nova na China, em 2009. Talvez naquele momento nós estávamos num momento mais arrojado, mas isso mostrou resultados muito positivos a longo prazo. Depois como financeiro, em 2015, 2016, na Randon, que foi uma crise sem precedentes no setor. Imagina, mercado de semirreboque caiu mais de um terço, de caminhões também mais de um terço, então foi um momento de revisitar conceito e é nesse momento de crise que a gente consegue olhar pra dentro da empresa, busca os valores, princípios, revisitar alguns conceitos e preparar a empresa para os próximos anos. A Randon tem sido bem sucedida nos últimos anos, mesmo com a pandemia, também porque aproveitou o momento de crise para arrumar a casa e se preparar para um crescimento sustentável contando principalmente com pessoas, com uma estrutura mais enxuta, mas também delegando mais, com mais agilidade e investindo muito em inovação. Momentos de crise também são oportunidades, na minha visão, de a empresa aproveitar e fazer o dever de casa. Muitas vezes, quando a gente está olhando muito para fora, esquece um pouquinho de dentro".
HUMBERTO CERVELIN
"É uma alegria, obviamente, receber o maior troféu do nosso sindicato. Mas eu também quero dividir esse essa homenagem não só a todos os nossos colaboradores, parceiros que ajudam as nossas empresas no dia a dia, mas aqueles outros empresários que são anônimos e que têm mérito talvez tão importante quanto. E tão merecedor quanto. E que fazem a nossa região e a nossa cidade ser tão grande. O Gigia Bandera é uma deferência que poucos têm privilégio de receber como nós estamos recebendo. Mas Caxias e região é grande porque tem vários pequenos colegas, não só da área metalúrgica, mas de outros setores que todos os dias fazem o seu trabalho. Para que a cidade seja grande: gerando emprego, gerando renda para as pessoas, desenvolvimento, trazendo tecnologia. Sou oriundo de um bairro aqui da cidade, portanto, é um exemplo bem caseiro de empresário".
"Quando fundamos a empresa, era um um sonho de três jovens. Eram mais dois sócios junto comigo. A gente estava ainda cursando a universidade naquela época. Era um sonho como qualquer jovem ter de montar o seu negócio, ter um empreendimento. Nós, empresários aqui da região, temos um DNA diferenciado. O nosso empresário tem na veia o empreendedorismo, ele precisa de dois ingredientes: primeiro, de sonho, e segundo, de aproveitar as oportunidades. Então, a trajetória do Grupo PCP é exatamente isso. Eu como um dos fundadores sempre sonhei. Eu falo isso sempre para as pessoas, nunca parem de sonhar. Sonhar é de graça, sonhar faz bem. E o sonho pode se tornar realidade quando você aproveita as oportunidades. A trajetória da PCP foi crescendo em função disso, todas as oportunidades que se apresentaram na nossa história a gente foi aproveitando na medida do possível e o grupo foi crescendo. Até o final da década de 1980, início dos anos 1990, éramos uma empresa mais voltada para a representação comercial e a pequenos comércios. Começamos a nossa vida, vamos dizer assim, um pouco mais adulta, na década de 1990, quando fundamos uma empresa chamada Dinaço, uma grande empresa que foi para atender uma ótica diferente de negócio, era para atender a grandes empresas locais. Hoje, essa empresa é a atual Panatlântica. Depois, fundamos empresa em Minas Gerais, até hoje é o único produtor de tubos aluminizados para indústria automotiva no país e aí começou a despertar na gente esse link de estar vinculado à tecnologia. Porque o aço, que é a nossa matéria-prima, é commodity. Você só se diferencia de concorrentes ou entra em mercados diferenciados se você criar esse diferencial. Qual é o nosso diferencial? Lincado à tecnologia. Trabalhamos com aços mais nobres, com aços mais resistentes, produzimos produtos com essa tecnologia e, portanto, esses empreendimentos todos que vimos fazendo ao longo do tempo foram sempre voltados para a inovação. Sempre procuramos chegar antes. O grupo foi se desenvolvendo e hoje nós processamos entre serviços e venda mais de 100 mil toneladas de aço por ano. Isso é um volume bem interessante, é um volume grande. Geramos 500 empregos diretos, exportamos para praticamente toda a América do Sul, Estados Unidos e Canadá. Os produtos que a gente exporta são com tecnologia agregada e é por isso que nós conseguimos competir no mercado. A trajetória da PCP vem crescendo. Vai completar no ano que vem 45 anos"
"Nós passamos por muitas crises. Crises de troca de moeda, inflação de 80% ao mês. O empresário brasileiro realmente teve de sobreviver e teve de aprender a conviver com esses problemas, superar esses problemas. Por isso que eu reputo o empresário brasileiro como um dos melhores do mundo. Por causa justamente desse nosso aprendizado com as agruras, superar dificuldades grandes. Você vê que, mesmo agora, depois de uma pandemia, que foi um um processo mundial, nós não estamos num bom momento de estabilidade, ainda temos um problema pontual político para superar. Os negócios vão nessa onda, a gente tem de aprender a todo momento, temos de enfrentar pequenas, médias e grandes crises. Nós estamos vivos até hoje porque somos muito flexíveis. Se não tiver flexibilidade num país como o nosso, que tem altos e baixos a todo momento, não sobrevive. Procurar entender as dificuldades e reagir rapidamente. Tem de ter um produto que esteja lincado à inovação. Se não tiver inovação, entra no lugar comum".