Mesmo em um período sem datas comemorativas expressivas, o comércio de Caxias do Sul cresceu 4,1% em julho deste ano em relação a junho. O resultado no primeiro mês do segundo semestre permitiu que o segmento apresentasse alta de 1,7% no acumulado dos últimos 12 meses - voltando a crescer pela primeira vez desde abril de 2020. O varejo apresentou a maior alta da economia caxiense, que cresceu 2% entre julho e junho deste ano, o terceiro melhor resultado em nove meses.
Os dados fazem parte do desempenho da economia caxiense e foram divulgados nesta terça-feira (13) pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Além do comércio, a indústria avançou 2,6% entre julho e junho deste ano, enquanto que o setor de serviços desacelerou e apresentou leve queda de -0,4% no mesmo período.
De acordo com os especialistas, na ausência de um evento específico para entender a alta no comércio, as razões para o crescimento do varejo caxiense passam pelo aquecimento da economia local, acompanhada da alta geração de empregos formais (leia mais abaixo) e que, consequentemente, elevaram o poder de compra dos caxienses. Entre os ramos com as maiores altas no varejo, estão a venda de segmentos de informática e telefonia, que cresceu 19%, seguida de materiais elétricos, com 8%.
— A alta de 4% em julho comparado a junho deste ano permitiu uma virada em torno dos números negativos que vinham diminuindo o acumulado dos últimos 12 meses no comércio. Esse resultado permitiu sairmos do negativo e superarmos a barreira de 1%, ou seja, voltando a ter números positivos após tantos meses. Pelos indicadores, podemos dizer que o comércio caxiense vem dando sinais de uma retomada forte e consistente — avalia o assessor de economia e estatística da CDL Caxias, Mosár Leandro Ness.
No acumulado de janeiro a julho deste ano, o comércio cresceu 9,8%, o melhor resultado em 12 meses. Se o primeiro mês do último semestre começa em alta, a avaliação é que a tendência siga positiva para um dos segmentos que mais foram impactados pela pandemia. Nos próximos meses, a chegada de datas expressivas, como o Dia das Crianças, Black Friday e o Natal, devem impulsionar ainda mais o varejo local.
Além disso, já que o segundo semestre é o mais animador para o comércio, neste ano tem um adicional: a Copa do Mundo, realizada entre novembro e dezembro, poderá impactar em mais vendas de vestuário e acessórios para os torcedores. A procura por crédito cresceu 11,3%, enquanto que as consultas dos lojistas ao serviço de proteção ao crédito caíram 6%, indicando mais vendas por meio de cartões e menos no crediário.
Indústria trabalha, vende e compra mais
Segmento que mais emprega trabalhadores em Caxias do Sul, a indústria apresentou crescimento de 7,2% no acumulado dos últimos 12 meses. É um setor que vem caindo, mês após mês, depois de atingir um pico de 22,2% de alta em outubro do ano passado. De janeiro a julho, a alta é de 3,8%. Segundo a diretora de Planejamento, Economia e Estatística da CIC, Maria Carolina Gullo, a retração é vista como normal após um alto crescimento no ano passado.
— Não quer dizer que a indústria esteja em queda. Viemos de uma base muito forte no segundo semestre do ano passado, após a retomada da atividade, mas o segmento continua crescendo porque temos um acumulado de 7% desde julho do ano passado. Não havia mais condições de crescimento porque faltaria Caxias se aquela alta continuasse — afirmou.
Outro fator que ajuda a entender o bom momento da indústria caxiense é que todos os indicadores do setor, como capacidade de produção, horas trabalhadas, compras e vendas industriais e massa salarial, cresceram entre julho e junho deste ano e no acumulado de 12 meses. O resultado poderia ser melhor se o setor não tivesse dificuldades na compra de insumos, comportamento observado com a pandemia e enfrentado no mundo todo devido à escassez de matéria-prima.
— Muitas vezes a empresa precisa interromper a sua produção devido à falta de algum insumo, porque houve interrupção de fornecimento de peças e acessórios em razão da desorganização das cadeias. São fatores que impactam negativamente e faz ter menos vendas e menos compras aguardando a normalização. É um movimento natural e observado globalmente, não é um problema de Caxias — sintetiza a economista.
O setor de serviços apresentou queda em todos os cenários. Quando a comparação é entre julho de 2022 e julho de 2021, houve queda de 24,6%. A economista Maria Carolina explica que isso se deve porque em julho de 2021 uma única empresa executou um aporte muito grande de pagamentos, fazendo com que o segmento de serviços apresentasse um crescimento fora da curva.
A avaliação é que o segmento segue aquecido com a retomada da economia, principalmente em eventos e entretenimento, e apresentará resultados positivos ao longo do ano.
Trabalho com carteira assinada é o mais alto desde 2016
Atualmente, Caxias do Sul tem 158.879 trabalhadores com carteira assinada em vagas na indústria, construção civil, comércio, serviços e agropecuária. É o maior volume do mercado de trabalho formal desde 2015, quando 164.610 pessoas estavam empregadas na cidade. Entre janeiro e julho, o mercado de trabalho apresentou crescimento com um saldo positivo de 999 empregos com carteira assinada, a maioria na indústria e serviços.
No acumulado de 2022, a alta nos empregos é de 4,%, com 6.174 vagas a mais. O comportamento de crescimento se verifica também nos últimos 12 meses, quando os postos de trabalho em Caxias do Sul cresceram 5,2%. Somente na indústria e na construção civil, são 75.655 trabalhadores, seguido de 55.549 no setor de serviços e 27.675 atuando no varejo.
O cenário de crescimento no mercado de trabalho é observado mesmo com a falta de mão de obra, seja ela qualificada ou não. Segundo o vice-presidente de Indústria da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Ruben Bisi, cerca de 5,5 mil vagas estão abertas na cidade, mas não são preenchidas porque faltam pessoas para ocupá-las.
— Temos casos de carros de som e placas nos bairros, mas, mesmo assim, ainda faltam pessoas para ocupar. Tem empresas trazendo pessoas do Rio de Janeiro para morar e trabalhar aqui. E a tendência é continuar. Temos previsão de uma safra recorde de grãos, que impacta na economia da região devido à concentração de fornecedores — avalia Bisi.
Economia caxiense exporta mais e importa menos
O saldo da balança comercial registrou alta de 176,8% em julho em relação a junho, com exportações crescendo 12,9% e as importações caindo 20,4%. No acumulado de janeiro a julho, o saldo é positivo em 59%. Os Estados Unidos, com 12%, aparecem na primeira posição entre os principais destinos das exportações caxienses.
Em seguida vêm Chile, Argentina, Uruguai, México, Peru, Paraguai e Colômbia. Já a China, com 48%, continua sendo o principal país de origem das importações locais. Logo após aparecem Itália, Alemanha, Estados Unidos, Áustria, Japão e Índia.