Há teorias econômicas que atendem a todos os tipos de ideologias, regimes políticos e filosofias. E, apesar das constantes previsões de cenários, ainda não há como atestar o que realmente vai acontecer com a economia, seja na esfera mundial ou mesmo local. Especialistas podem apontar tendências, mais ou menos tendenciosas para cá ou para lá, mas determinar dia e hora do final de uma crise e dia e hora de início da próxima, ainda não.
Apesar disso, das constantes dificuldades, empresários da Serra revelam nessa reportagem que celebra o Dia da Indústria, neste 25 de maio, quais tem sido as soluções para atravessar essa maré de incertezas.
— O mercado interno deu uma arrefecida nos últimos 90 dias. Desde fevereiro e março, pelo menos, não vou dizer que caiu, mas estamos andando de lado. Não está crescendo como previsto — avalia Danny Siekierski, CEO da Soprano, cuja matriz fica em Farroupilha.
Questionado sobre quais motivos têm influenciado essa linearidade na relação de compra e venda, o CEO explica:
— Resumo isso numa palavra: incerteza. O pior sentimento, em qualquer negócio, é a incerteza. Na incerteza não se sabe se compra, se vende, se senta em cima do caixa e não faz nada. O nosso grande desafio é a incerteza.
Com a alta da inflação e o menor poder aquisitivo, a Soprano, que tem no varejo seu consumidor direto, tem sentido mais o impacto da desaceleração da economia interna. Apesar da maré, Danny revela que a Soprano não pretende reduzir a produção, nem mesmo conceder férias, tampouco pensa em reduzir número de funcionários. Segundo ele, "a empresa já tem uma estrutura enxuta e eficiente e os estoques estão sendo bem geridos".
— Temos de ter um olho no presente e um olho no futuro — ensina o CEO, que complementa:
— Nesse contexto de imprevisibilidade e de incertezas, estamos conversando mais, para obter mais dados e mais informações. Buscamos estar mais alinhados internamente, realizando mais reuniões de acompanhamento. Porque as coisas mudam muito de um dia para o outro. Buscamos o equilíbrio em decisões que impactam o resultado do mês que vem e do que vai ser daqui três anos.
Antecipar a compra de matéria-prima
Por vezes, além de uma maré de incertezas, os empresários precisam lidar com uma espécie de duplo xeque-mate, um tipo de ameaça em duas frentes. É nessa situação que se encontra atualmente a E.R. Amantino, de Veranópolis. O grupo, que trabalha em três ramos distintos, espingardas esportivas, microfusão de aços e aberturas para peças de furgões e caminhões, tem enfrentado tanto a falta de matéria-prima, quanto a dificuldade com o despacho dos seus produtos para o mercado externo.
— Nosso principal mercado para venda lá fora são os Estados Unidos. Compramos a madeira dos EUA e da Alemanha, enquanto que o aço vem da China. E vendemos as armas para os EUA — conta Manoela Baldissera Amantino, gerente financeira da empresa.
Além do custo mais alto, a matéria-prima está demorando a chegar. No caso do aço, antes da pandemia o material saía da China e chegava na empresa em 45 dias. Atualmente, o prazo pode chegar a 90 dias.
Manoela revela a solução que tem encontrado para manter a linha de produção a pleno:
— Estamos com a fábrica a todo vapor, tenho muitos pedidos, por conta da falta de material ficaram pedidos em atraso. A matéria-prima que comprei vai durar uns quatro a cinco meses. Mas já fiz novos pedidos de materiais para não ficarmos sem.
Exportar para equilibrar a balança
Paulo Spanholi é fundador e presidente da Sul Corte, com matriz em Caxias do Sul e filiais em Valinhos-SP e Joinville-SC. À frente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs) desde 2019, explica que, além da atual crise gerada por conta da pandemia de covid-19 e, mais recentemente, agravada pela Guerra da Ucrânia, as empresas vem sofrendo uma alta carga de pressão desde 2008.
— Já tinham muitas empresas, antes ainda da covid que estavam passando por problemas financeiros. Os problemas não são só falta de matéria-prima, já haviam empresas sofrendo desde 2008 para cá. Muitas delas foram se endividando — afirma.
Para ajudar a deixar a maré ainda mais turbulenta, Spanholi cita a dificuldade em conseguir contêiner.
— Além da falta de matéria-prima, outro fator que tem influenciado muito nesse momento, é a escassez de contêiner. Uma vez pagávamos U$ 1,5 mil dólares, por um contêiner de 20 mil pés e, hoje, estamos pagando U$ 10 mil dólares, que vem da Europa pra cá. Isso tem sido um problema muito grave pra nós — avalia.
Por outro lado, o equilíbrio da balança financeira da Sul Corte tem sido afinado por conta de um maior volume de exportações. Por causa da guerra na Ucrânia e pela restrição de alguns países em manter relações comerciais com a Rússia, a empresa de Spanholi viu nessa situação uma janela de oportunidade e solução para o seu mercado.
— A tendência é normalizar a falta de matéria-prima e está normalizando, porque a indústria está levemente com queda na produção. Estou falando do mercado interno, que encolheu um pouco. Diferentemente das exportações em que estamos a milhão.