A compra dos materiais escolares volta a movimentar o varejo com a expectativa de aulas presenciais nos ensinos público e privado em Caxias do Sul. E quem não gastou no ano passado deve se preparar para desembolsar mais em 2022. Livrarias consultadas pela reportagem estimam alta entre 15% e 20%, em média, no preço dos materiais escolares. Mesmo assim, o varejo prevê crescimento na venda de materiais, na procura por uniformes escolares e também na contratação de serviços de transporte.
De acordo com o administrador da Livraria Rossi, Marcos Victorazzi, os materiais importados, como mochilas, estojos e cadernos personalizados, ficaram ainda mais caros em relação ao ano passado, com alta de quase 30%. Segundo ele, a valorização do dólar frente ao real e também o aumento do custo do plástico, resultaram no preço final dos produtos. Os cadernos, um dos protagonistas da lista de materiais, tiveram alta de 7% a 10%, segundo ele.
Para aliviar ao consumidor e não perder vendas, vale até mesmo segurar o aumento do fornecedor e não repassar ao cliente.
— Seguramos os preços dos nossos cadernos mais baratos, que tiveram reajuste, mas procuramos deixar com o mesmo valor do ano passado. Minha margem fica menor para tentar segurar um preço mais atrativo para o consumidor — explica.
Victorazzi analisa que as famílias estão mais dispostas a gastar neste ano com o material escolar e percebe também que muitas escolas organizaram listas mais enxutas. Ele conta ainda estar animado com a movimentação de pais, mães e responsáveis a procura dos itens necessários para o retorno às aulas das crianças e jovens.
— Desde a última semana de janeiro, sentimos um movimento muito bom, de famílias comprando o material para os seus filhos. No ano passado, nessa época, reduzimos em 50% o número de vendas, e estimamos, para 2022, crescer 30%. Ou seja, ainda um pouco distante de recuperar os prejuízos, mas muito confiantes de que vamos ter um ano muito melhor.
Na Livraria do Maneco, a movimentação para a compra de materiais e venda de livros didáticos é aguardada para os próximos finais de semana e também com a proximidade do início do ano letivo. O movimento nas primeiras semanas de janeiro até foi considerado positivo, mas o avanço dos casos de covid-19 levou menos pessoas ao estabelecimento na segunda metade do mês.
Segundo o proprietário Arcangelo Zorzi Neto, os principais itens, como cadernos, estojos, mochilas e outros itens de papelaria ficaram 15% mais caros, sendo difícil não repassar ao consumidor. A venda de livros didáticos, que chegava a provocar fila e lista de espera em anos anteriores, está em baixa.
— As editoras estão vendendo direto nas escolas. Muitas vezes com preços mais altos do que as livrarias vendem, mas acabam conquistando o cliente antes que ele nos procure. Isso tem dificultado o nosso trabalho — lamenta.
Em 2022, o ano letivo nas escolas municipais da cidade está programado para iniciar em 18 de fevereiro. Na rede estadual, o retorno será em 21 de fevereiro.
Antes de investir, pais pesquisam preços
Com o filho Tommaso, 6 anos, trocando de escola e saindo da educação infantil para o ensino fundamental, a estudante de Nutrição Geovana Vidor, 27, resolveu comprar novos materiais para o filho, que vai cursar agora o 1º ano. Além dos itens para o dia a dia, Tommaso ganhou uma mochila maior enquanto acompanhava a mãe na tarde de terça (1º) em uma livraria da cidade.
— Estamos priorizando comprar todos os itens da lista porque ele também está em uma fase de alfabetização. Acaba sendo uma despesa grande, mas nos organizamos antes para poder atender essa despesa — explica Geovana.
Antes de comprar os itens, ela pesquisou os preços e observou alta nos valores.
— Os preços estão mais caros, principalmente nos itens com personagens, que é o que mais chama a atenção deles — analisa.
A enfermeira Clari Verdi não terá uma lista extensa de materiais para comprar neste ano. Com o filho Lorenzo, 16, indo para o terceiro ano do Ensino Médio, ela investirá na compra dos livros didáticos. Um exemplar para as aulas de inglês custou R$ 187, item que ela diz ter pesquisado em outros locais antes de adquirir.
— Tivemos mais gastos quando ele estava no primeiro ano e conseguimos reaproveitar muitos materiais. Com os livros, não. Alguns precisam ser trocados e é essa a despesa que temos quando um filho já está quase indo para a faculdade — conta ela, que também é mãe de Gabriel, 20, que está no ensino superior.
A pesquisa de preços é uma recomendação do Procon de Caxias do Sul. Segundo o órgão, durante uma pesquisa em quatro livrarias da área central de Caxias, alguns itens apresentaram variação superior a 1000% nos preços entre um estabelecimento e outro. Além disso, a pesquisa avaliou 15 itens e as variações de preços entre 2021 e 2022. Houve redução de preços de dois produtos e aumento em 10.
Pesquisa projeta crescimento nas vendas de produtos
O otimismo do setor com a retomada das aulas presenciais está em uma amostragem inédita realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL) e divulgada nesta terça (1º). Segundo a pesquisa, a previsão é de crescimento de 24,2% nas comercializações de materiais escolares, de 17,9% nas lojas de uniformes e de 12% na quantidade de alunos nos transportes escolares privados, em comparação com 2021. A sondagem tem índice de confiança de 95% e margem de erro de 5% para mais ou para menos.
— Os anos de 2020 e 2021 foram muito ruins para as empresas de produtos e serviços ligadas à área. O ensino remoto e a instabilidade no retorno presencial dos alunos acabaram prejudicando os estabelecimentos, que precisaram se reinventar e procurar outras alternativas. Um exemplo foram algumas lojas de uniformes escolares que começaram a confeccionar modelos para empresas e consultórios — afirma o gerente administrativo financeiro da CDL Caxias, Carlos Alberto Cervieri.
A expectativa dos lojistas de papelarias e livrarias é ter um incremento de 24,2% nas comercializações de materiais escolares, com projeção de R$ 197,14 no tíquete médio dos consumidores, em comparação a 2021. Para os uniformes, a expectativa é que o crescimento nas comercializações de uniformes chegue a 17,9%, com tíquete médio de R$ 285.
O único segmento em baixa é o transporte. Por conta das restrições sociais que impossibilitaram as aulas presenciais ao longo de 2020 e em meados de 2021, atrelado à crise econômica causada pela pandemia, empresas de transporte escolar relataram redução de 17% na quantidade de estudantes em 2021 frente ao início do ano anterior. A expectativa é recuperar parte dos alunos que desistiram do serviço no ano passado.