A economia dos três municípios da Serra com o maior número de empregos formais deve receber em 2021 um impacto de R$ 964 milhões com o pagamento do 13º salário aos trabalhadores, aposentados e pensionistas. Essa é a primeira vez em sete anos que o estímulo econômico pode ficar abaixo da casa do bilhão na soma entre Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha. O dado foi publicado na Carta Especial do 13º Salário, divulgada pelo Observatório do Trabalho (Obstrab), núcleo de pesquisa da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Em 2015, a soma dos salários e benefícios dos trabalhadores das três cidades representava R$ 1,3 bilhão de reais a mais circulando, valor que foi reduzido para R$ 1 bilhão em 2020 e que, agora, pode diminuir ainda mais.
Em Caxias do Sul, incluindo-se os empregos com carteira assinada e os beneficiários da previdência social, estima-se a injeção de R$ 668,3 milhões na economia até o final do ano. O valor compreende o salário médio de R$ 3.148,09 pagos aos 151.115 vínculos de empregos ativos na cidade e também os 110.689 benefícios emitidos com valor médio de R$ 1.738,53. A gratificação média paga aos trabalhadores formais neste ano, por exemplo, é cerca de R$ 204 a menos do que no ano passado (veja números abaixo).
Em 2015, no auge da crise econômica e com efeitos ainda sentidos em diferentes setores, a cidade contava com 164.610 vínculos trabalhistas que recebiam um salário médio de R$ 4.423,05. Naquele ano, somente em Caxias, mais de R$ 888 milhões foram injetados com o 13º salário.
Além do fechamento de postos de trabalho como justificativa para a redução, segundo a pesquisa da UCS, o valor dos salários dos empregos formais diminuiu cerca de 6,9%. Segundo o professor e pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da UCS, Mosár Leandro Ness, os trabalhadores com carteira assinada vêm migrando para faixas salariais menores, impactando em menos poder de compra e de dinheiro circulando na economia.
— Muitos trabalhadores estão sendo recontratados, em outros setores, mas com um salário que não acompanhou nem ao menos a inflação do período. Ao mesmo tempo, se exige muito do trabalhador, para que ele tenha qualificação, mas sem que se pague na mesma medida. A recuperação passa por isso também. Existem vagas, mas com um nível muito alto de pré-requisitos e pagando pouco— analisa.
A coordenadora do curso de Ciências Econômicas da UCS, professora Jacqueline Maria Corá, também analisa que a recuperação das vagas de trabalho está ocorrendo, mas com o pagamento de salários menores. Ela entende que menos recursos circulando em uma época tão importante e movimentada do ano é prejudicial para os diferentes setores da economia local.
— É menos dinheiro para os serviços e para o comércio, áreas tão impactadas pela pandemia. Muitas pessoas precisaram trabalhar e encontraram saída na informalidade. Pessoas que trabalham, estão ocupadas, mas sem receber 13º salário, férias e outros benefícios previstos na legislação trabalhista, o que também impacta e fica evidente nos números que estão aparecendo agora — analisa.
Previdência cresce em Caxias
Outro comportamento observado pelo professor é o aumento no pagamento de benefícios previdenciários em Caxias e também registrados nas outras duas cidades analisadas na pesquisa. Em média, o valor é mais baixo do que um salário, ajudando a diminuir o total de recursos extras com 13º salário na economia da região.
Em 2015, somente no maior município da Serra, foram pagos 97,7 mil benefícios e estima-se que neste ano o número salte para 110,7 mil — um aumento de 13,27%. Ao mesmo tempo, a pesquisa destaca que o valor médio recebido em 2021 é maior em relação a 2020, porém abaixo do verificado em 2017.
— Em função da pandemia, o trabalhador na idade prevista optou por se aposentar, para ter uma segurança, e isso faz com que tenhamos mais trabalhadores aposentados. O mercado de trabalho sentiu esse efeito também, que se soma ao fechamento dos postos como alternativa para muitos empregadores manterem os seus negócios — observa.
Comércio deve receber maior parte dos recursos
O pagamento do 13º salário representa um dinheiro extra nas contas das famílias, impactadas pelos efeitos da pandemia e pela alta nos preços, principalmente dos alimentos.
Segundo o professor Mosár Leandro Ness, do Observatório do Trabalho da UCS, oito em cada 10 trabalhadores usará o recurso para o custeio das festas de fim de ano, que inclui a alimentação para as ceias de Natal e Ano Novo e a compra de presentes. Os demais usarão o benefício para o pagamento de dívidas atrasadas ou para quitar despesas futuras, como o IPTU e o IPVA, tradicionais no início do próximo ano.
Para o comércio, o Natal é a principal época do ano e acaba recebendo a maior parte dos recursos do 13º salário. Mesmo com um valor mais baixo nos últimos anos, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul, Renato Corso, entende que a injeção de recursos extras ajudará a amenizar as perdas no setor durante a pandemia.
Segundo ele, no acumulado dos últimos 12 meses, a queda é de 10%.
—Pode ser um recurso menor, mas tudo que vem é bem-vindo. São dois anos muito duros. Historicamente, o 13º salário é um recurso usado no comércio, para quitar dívidas, então é época de movimentar o nosso segmento — avalia.
Bento e Farroupilha acompanham tendência
Nos demais municípios analisados pela pesquisa, a tendência é a mesma: menos empregos e salário estagnado tornam o 13º salário menos volumoso para a economia da Serra em 2021.
Em Bento Gonçalves, com 43.486 vínculos trabalhistas e 34.304 beneficiários, cerca de R$ 202,2 milhões serão inseridos na economia do município até o final do ano. Serão cerca de R$ 6,5 milhões a menos do que o montante observado em 2020. Na cidade, segundo a pesquisa do Observatório do Trabalho, o valor médio pago aos trabalhadores é de R$ 3.379,54, o maior entre os três municípios pesquisados.
As reduções também foram observadas em Farroupilha. Neste ano, o valor da gratificação será em média R$ 2.723,28, cerca de R$ R$ 300 menor que os R$ 3.023,59 pagos no ano passado. O número de trabalhadores também reduziu, com 1.418 empregados a menos para receber o direito.
Os dados do documento sempre eram divulgados com base nos números de Caxias do Sul, mas, neste ano, incluiu-se também mais municípios para mapear a movimentação do 13º em outras cidades da região.
Números do 13º salário
Os valores de 2021 são estimativas.
Caxias do Sul
2021
- Vínculos trabalhistas: 151.115
- Valor médio do salário: R$ 3.149,09
- Benefícios da previdência: 110.689
- Valor médio do benefício: R$ 1.738,53
- Total: R$ 668.313.052,52
2020
- Vínculos trabalhistas: 152.409
- Valor médio do salário: R$ 3.353,24
- Benefícios da previdência: 106.484
- Valor médio do benefício: R$ 1.722,49
- Total: R$ 694.481.988,16
Bento Gonçalves
2021
- Vínculos trabalhistas: 43.486
- Valor médio do salário: R$ 3.379,54
- Benefícios da previdência: 34.304
- Valor médio do benefício: R$ 1.610,63
- Total: R$ 202.212.977,23
2020
- Vínculos trabalhistas: 43.594
- Valor médio do salário: R$ 3.586,99
- Benefícios da previdência: 32.835
- Valor médio do benefício: R$ 1.595,44
- Total: R$ 208.757.566,98
Farroupilha
2021
- Vínculos trabalhistas: 23.748
- Valor médio do salário: R$ 2.723,28
- Benefícios da previdência: 19.489
- Valor médio do benefício: R$ 1.505,40
- Total: R$ 94.011.462,69
2020
- Vínculos trabalhistas: 25.166
- Valor médio do salário: R$ 3.023,59
- Benefícios da previdência: 18.601
- Valor médio do benefício: R$ 1.491,78
- Total: R$ 103.840.195,94
Fonte: Carta Especial do 13º Salário, divulgada pelo Observatório do Trabalho (Obstrab)
Saiba mais
:: Criado com o intuito de ser um adicional na renda do trabalhador, o décimo terceiro salário foi instituído pela Lei 4.090, de 13/07/1962 e regulamentada pelo Decreto 57.155 de 03/11/1965.
:: A norma estabelece que todos os trabalhadores, incluindo temporários, domésticos, rurais, servidores públicos, aposentados e pensionistas têm direito a receber a remuneração adicional.
:: O pagamento do décimo terceiro salário dos trabalhadores formais se dá por um adiantamento (1ª parcela) correspondente a metade da remuneração devida e deve ser paga a partir de fevereiro até 30 de novembro. O saldo (2ª parcela) deve ser quitado até 20 de dezembro, tendo como base de cálculo a remuneração deste mês, descontado o adiantamento da 1ª parcela e imposto de renda.
:: Para os beneficiários da previdência social, a antecipação (1ª parcela) ocorre entre agosto e setembro. O saldo da 2ª parcela deve ser quitado até o dia 20 de dezembro.