Diante dos recentes alertas para apagões elétricos no país, frente a maior crise hídrica dos últimos 90 anos, questionamentos sobre fontes de energia alternativas vieram a tona. Afinal, pessoas físicas e empresas que investiram ou estão implantando o sistema para captação de energia solar estão a salvo do problema? A resposta principal para esta dúvida bem comum é: não, mas depende!
Em entrevista à Rádio Gaúcha, na última quinta-feira, a coordenadora da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) no Rio Grande do Sul, Mara Andréa Schwengber, esclareceu que os consumidores que usufruem da energia solar também estão reféns da falta de luz. Isto ocorre porque o chamado sistema "on grid" é ligado à rede de distribuição elétrica, não sendo, portanto, independente em suas funções. Ou seja, em cenários de apagões ou mesmo em eventuais faltas de luz, durante temporais, por exemplo, o sistema solar também cessa o funcionamento até que a rede de distribuição de energia elétrica volte a operar.
— No sistema fotovoltaico, na modalidade geração distribuída, "eu" estou conectada na rede da distribuidora. E, por uma questão regulatória e até mesmo de segurança, no momento que falta energia na rede, o meu sistema se desliga automaticamente. Porque existe uma questão de risco envolvida. Imagina que eu estou gerando a minha própria energia, não estou consumindo tudo instantaneamente, esse excedente volta para a rua e tem uma pessoa fazendo a manutenção. Esse funcionário da distribuidora poderia sofrer um choque elétrico. Então, não é permitido por lei que o sistema continue operando — explicou Mara.
Funciona assim, em resumo: o excesso de eletricidade produzido pelo sistema fotovoltaico volta para a rede da distribuidora (no caso de Caxias, para a RGE). A rede, então, utiliza a energia e as residências e empresas recebem crédito junto à conta de luz. Durante a noite ou nas primeiras horas da manhã, por exemplo, quando não há raios solares, a energia utilizada é a da distribuidora.
O gerente comercial solar da MATV SUL, empresa com matriz em Caxias que vende e instala painéis de energia solar, Junior Simon, explica que existe um sistema fotovoltaico (off grid) que atua de forma autônoma. Este tipo de produto, no entanto, é geralmente usado em locais bastante isolados, os quais não são abastecidos pela rede de energia elétrica. Estas situações também exigem um investimento muito superior, pois a energia precisa ser armazenada em um banco de baterias.
—A gente trabalha muito com o off grid, mas são casos específicos, com consumo bem baixo. Por exemplo, um cliente lá no interior que precisa da energia solar apenas para sustentar um sistema de monitoramento com três ou quatro câmeras — exemplifica Simon.
O gerente comercial da empresa caxiense comenta que, embora os clientes de energia solar também estejam suscetíveis aos reflexos da crise hídrica, os sistemas fotovoltaicos são aliados na redução do problema.
— Quanto mais sistemas de energia solar estiverem ligados na rede de distribuição, mais energia está sendo injetada para a concessionária. Ajuda para que, durante o dia, as casas e empresas não consumam tanto energia elétrica, pois usam seu próprio sistema — diz Simon.
Aumento de 344% em relação a 2020
O mercado de energia solar está aquecido nos últimos meses. Pelo menos é o que observa a Sicredi Pioneira RS, que tem atuação em 21 municípios da Serra e do Vale dos Sinos e fornece financiamento para este tipo de projeto. Segundo a gerente de Negócios de Energia Solar da cooperativa local, Julia Renata Cornelli, na comparação de agosto a janeiro do ano passado com o mesmo período de 2021, houve crescimento de 344% na quantidade de projetos financiados para sistemas fotovoltaicos.
Mesmo que possíveis apagões gerem um medo crescente entre consumidores comuns e empresas, a principal justificativa daqueles que buscam a energia solar está na promessa de redução da conta de luz, conforme Julia.
— O grande motivador são os consecutivos aumentos na conta de energia elétrica. Inclusive, há uns dois anos a procura maior era por pessoas jurídicas. Hoje, a energia solar se popularizou e a procura está sendo maior em residências. O perfil geralmente é de pessoas físicas ou empresas com imóvel próprio, com idade entre 30 a 60 anos. Eles buscam uma alternativa para frear estes aumentos — detalha Julia.
A gerente de negócios ainda explica que a busca ocorre de forma generalizada na região. Ela diz que moradores e empresários tanto de municípios pequenos, como cidades de maior porte têm investido na energia solar.
— A gente percebe uma crescente em todos os municípios. Os pequenos centros estão tendo bastante procura, como Nova Petrópolis e Feliz. É uma propaganda muito de boca em boca. Meu vizinho fez e deu certo, eu me interesso também — comenta Julia.
"No momento, está valendo a pena", diz consumidor
O analista de qualidade Rodrigo Gregolon pesquisou cerca de dois meses todos os detalhes sobre o sistema fotovoltaico antes de inserir na casa dele no bairro São Caetano, em Caxias do Sul. Assim, como muitas pessoas imaginam, Rodrigo também pensava que ao instalar a energia solar na residência estaria livre da conta de luz mensal. Ele só soube que o sistema não é totalmente independente quando foi buscar informações mais aprofundadas sobre o tema.
— É um sistema que eu desconhecia totalmente. Tinha em mente que, colocando a energia solar, teria luz para o resto da vida enquanto tiver sol — conta Rodrigo.
A instalação do sistema de energia solar ocorreu em maio de 2020. Por ser um período de "entrada" de inverno, Rodrigo começou a perceber a redução significativa na conta de luz a partir do terceiro mês de uso. Ele estima que o valor investido retorne para ele no período de 5 a 6 anos.
— Eu digo que no momento está valendo a pena, foi vantajoso. Se fosse calcular hoje, eu estaria pagando uns R$ 350 (na conta de energia elétrica) e a minha fatura este mês veio R$ 77. Hoje, eu consumo somente cerca de 50% do que estou gerando — comenta o analista de qualidade, que já indicou o sistema solar para quatro conhecidos.
Rodrigo aproveitou para mudar alguns sistemas em casa, instalando ar-condicionado, fogão por indução e deixando de lado o uso de gás para o chuveiro e torneiras.
— Hoje, um botijão de gás dura seis meses pra mim. Antes, durava um mês. Mas agora, se tiver apagão, eu vou ter que usar o que estava usando antes — estima.