O setor moveleiro de Bento Gonçalves teve um ótimo desempenho no primeiro semestre deste ano. O faturamento, comparado ao mesmo período de 2020, cresceu 69%, totalizando R$ 1,48 bilhão. A necessidade de adaptações em casa imposta pelo teletrabalho contribuiu para mais vendas, porém, o aumento não está associado somente a esse fator. A elevação dos custos de produção também explica os bons números.
Conforme o presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), Vinicius Benini, o preço das matérias-primas teve acréscimo significativo durante a pandemia. A chapa, um dos insumos mais utilizados para a produção de móveis, subiu quase 40%, segundo ele. Benini destaca também que é preciso levar em conta o período comparado.
— Algo que a gente tem que considerar é que está comparando o primeiro semestre desse ano com o primeiro semestre do ano passado, sendo que essa nossa base de comparação não é tão forte assim, porque pegamos aqueles meses de pandemia. Se for pegar março e abril de 2020, tem empresa que chegou a faturar 20% do que estava acostumada a faturar — acrescenta. Na comparação com o primeiro semestre de 2019, período anterior à pandemia, o incremento foi de 65%.
Os 69% de crescimento representam uma média de faturamento entre mercado interno e externo. No primeiro, o aumento foi de aproximadamente 65%. Nas exportações, 81,4%. Ou seja, de janeiro a junho deste ano, as empresas moveleiras do polo de Bento exportaram US$ 34,4 milhões frente a US$ 19 em 2020. O presidente do Sindmóveis pontua que muitas empresas que não trabalhavam com exportação viram uma oportunidade na modalidade, especialmente por conta da variação cambial positiva.
O principal destino dos móveis brasileiros, tanto dos produzidos em Bento Gonçalves quanto no país inteiro, é Estados Unidos. A produção local é exportada principalmente para Chile, Uruguai, Peru e Reino Unido, conforme dados do Comex Stat, portal oficial de estatísticas de comércio exterior do Brasil, e apurados pela Inteligência Comercial do Sindmóveis.
As empresas moveleiras de Bento respondem por 29% do faturamento do Estado _ o total faturado no RS no primeiro semestre de 2021 foi de R$ 5,15 bilhões, crescimento nominal de 64% frente ao mesmo período de 2020. Os números são da Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul.
Voltando à normalidade
De acordo com Benini, logo após estourar a pandemia, o setor viu um movimento enorme em busca de móveis. A procura aumentou tanto que as empresas estavam com carteira de pedido para três meses, algo que não é comum _ o normal é ter para um mês. O fato de as indústrias não estarem com estoque alto de insumos na época também influenciou.
— O setor moveleiro vinha desde 2016 numa pegada mais cautelosa, não estava tão aquecido. Com isso, as empresas deixaram de fazer grandes estoques de matéria-prima. Aconteceu que todo mundo estava com estoques baixos quando estourou a pandemia. Todas fecharam no início e as empresas que fornecem os insumos também fecharam. Nesse meio tempo, deu um boom no mercado. O consumidor querendo comprar, porém, as empresas não estavam conseguindo comprar matéria-prima. Isso acarretou em mais tempo para a entrega dos produtos — conta.
Agora, segundo ele, o mercado interno voltou a patamares normais. Nos últimos dois meses, inclusive, o setor sentiu uma leve queda, reflexo das pessoas voltando a uma "certa normalidade, saindo, começando a viajar", exemplifica Benini. Mas as exportações, conforme o dirigente, continuam em alta.
— Estamos bem otimistas para o segundo semestre porque geralmente o segundo semestre é mais atrativo, tem mais movimento, tem Black Friday, tem ações de final de ano. A gente espera que o mercado interno volte a ter uma aquecida. Acredito que não vão ser números como os do primeiro semestre, mas vão ser números bacanas — finaliza.