A decisão da prefeitura de Caxias do Sul de alocar os vendedores ambulantes da cidade em três pontos centrais, nas ruas Dr. Montaury e Marechal Floriano, desagradou as entidades ligadas ao comércio do município. Os presidentes da Câmara de Dirigentes Lojistas e do Sindilojas se mostraram desfavoráveis aos locais escolhidos para abrigar o grupo. Na contramão, o líder dos vendedores ambulantes diz que está satisfeito com a decisão do Executivo.
Em reunião, na noite da última segunda-feira, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni, disse que o Executivo estabeleceu que os vendedores ambulantes cadastrados devem ser divididos em três endereços nas próximas semanas: na calçada da Rua Dr. Montaury, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Rua Pinheiro Machado; na calçada da Rua Marechal Floriano, em frente ao Banco Bradesco e no outro lado da via, na Marechal Floriano, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Sinimbu. A intenção é que cada ponto abrigue cerca de 30 vendedores, que poderão vender seus produtos sob toldos desmontáveis e padronizados, em horário comercial (entenda melhor a proposta abaixo).
A presidente do Sindilojas Caxias, Idalice Teresinha Manchini, discorda dos locais escolhidos para abrigar os vendedores ambulantes, apesar de apoiar a iniciativa da prefeitura em regularizar a situação e dar mais dignidade aos trabalhadores.
— A iniciativa de tirar eles da rua e ampará-los é muito boa, está de acordo com o Sindilojas. Mas não concordo com o local escolhido, principalmente, aquele da Dr Montaury, mesmo sendo provisório. A gente acha que eles estão ganhando o melhor local de Caxias do Sul e isso não condiz com os nossos comerciantes. Acho que a gente poderia colocar eles em um local mais aberto, mais amplo, onde não interferisse tanto com o lojista da área central — justifica Idalice.
Por meio de nota, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul, Renato Spuldaro Corso, diz que a entidade foi consultada pela prefeitura e se mostrou contra os locais sugeridos desde o início dos diálogos:
"Na nossa avaliação e, levando em consideração a opinião de nossos associados, o formato adotado não resolverá a situação, uma vez que transferirá o ambulante de uma calçada para a outra. Entretanto, esta é uma grande preocupação da CDL Caxias. Inclusive, já sugerimos ao Executivo a criação de um espaço definitivo aos ambulantes, nos mesmos moldes adotados no camelódromo. Estabelecendo, por consequência, que estes ambulantes se formalizem e cumpram com as obrigações legais que cabem a atividade que estão desenvolvendo. Porém, a sugestão não foi aceita pela prefeitura", argumentou Corso, em nota oficial.
Por outro lado, o líder dos vendedores ambulantes, que está à frente das negociações junto à prefeitura, Mamadou Boye, o Papys, se mostrou satisfeito com os endereços propostos pelo poder público. Em junho, quando o grupo entregou uma listagem dos ambulantes ao Executivo, a preocupação maior era a perda do movimento e, consequentemente, de vendas em uma possível descentralização dos vendedores.
— Os locais ficaram bom para nós. A gente vai ficar lá mesmo — resumiu Papys.
"Jamais estaremos fechados para diálogo", diz secretário
Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni, os locais pontuados e acordados com os vendedores ambulantes não serão alterados, ao menos neste primeiro momento. Ele diz que entende o lado das entidades ligadas ao comércio, mas que um primeiro passo para a regularização da situação precisava ser dado.
— Obviamente que este é um projeto-piloto e que pode sofrer adequações. Jamais estaremos fechados para o diálogo e precisamos da ajuda das entidades. Mas, para o projeto ter viabilidade e funcionar, o local é essencial, porque para que os ambulantes sobrevivam, eles precisam vender. Por isso, o local tem que ser no quadrilátero central. Não adianta colocarmos em um ponto que não vendam, porque no dia seguinte eles estarão lá (no Centro) novamente e nós estaríamos nos iludindo. Eu sei que não é a melhor (decisão), mas é a melhor do momento e não é definitiva — argumenta Gianni.
O secretário ainda reforça que o projeto foi construído com o apoio de cinco secretarias municipais e que há projeção para que os vendedores sejam fixados em um lugar fechado, aos moldes do atual camelódromo na Rua Sinimbu.
Camelôs permaneceram 20 anos na Praça da Bandeira
O atual enfoque à regularização dos vendedores ambulantes de Caxias do Sul remete a outros capítulos da história do comércio de Caxias do Sul. Em dezembro de 2013, após várias tratativas e negociações, os mais de 70 camelôs foram transferidos para o chamado Centro de Compras Caxias do Sul, localizado na Rua Sinimbu, em um investimento público de R$ 350 mil.
Os comerciantes e artesãos permaneceram durante duas décadas na Praça da Bandeira, na Rua Moreira César, em um espaço cedido na gestão do ex-prefeito Mário Vanin. A mudança ocorreu, à época, porque a prefeitura desejava alargar a via e reformar a praça.
ENTENDA A PROPOSTA DA PREFEITURA
:: A projeto da prefeitura é que os cerca de 100 vendedores ambulantes já cadastrados se mudem para três endereços e possam vender os produtos embaixo de toldos padronizados. Os pontos definidos são: na calçada da Rua Dr. Montaury, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Rua Pinheiro Machado; na calçada da Rua Marechal Floriano, em frente ao Banco Bradesco e no outro lado da via, na Marechal Floriano, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Sinimbu.
:: A ideia é que cada ponto destes conte com cerca de 30 ambulantes, podendo variar o número conforme o tamanho da calçada. Cada um deles terá seu próprio toldo, de um 1,5 metro por 1,5 metro, que será montado e desmontando diariamente, no horário comercial.
:: Os toldos serão adquiridos por meio de patrocínio da iniciativa privada.
:: Entre os próximos passos está a publicação de um decreto para elaboração de alvarás para a regularização dos ambulantes. Assim, eles terão que pagar uma taxa anual para poderem vender seus produtos.
:: Segundo a prefeitura, trata-se de uma solução temporária, pois futuramente a intenção é que os comerciantes sejam transferidos para um espaço fechado.