A tecnologia tem sido uma importante aliada dos produtores caxienses de morango, especialmente dos que buscam manejo sustentável — a cidade é a maior produtora da fruta, conforme dados da Emater estadual. Com mais de 20 anos de dedicação ao cultivo do moranguinhos, Fernandes Andreazza aderiu ao caderno de campo digital há um ano e vem colhendo bons resultados. A ferramenta permite a rastreabilidade agrícola, ou seja, o monitoramento de todas as fases de produção. Isso garante economia aos produtores e transparência na relação com os consumidores.
— Se você comprar o meu morango no mercado e mandar fazer a análise de resíduo, não vai encontrar ( agrotóxico) e eu vou poder comprovar com o caderno digital — exemplifica o produtor de Santa Lúcia do Piaí, que utiliza o aplicativo Demetra.
Em breve, segundo ele, os produtos terão um código de barras, concedendo uma segurança ainda maior a quem compra. Além do app, desenvolvido pela Elysios, uma startup com sede em Porto Alegre, Andreazza usa sensores que detectam as condições ambientais para melhorias na irrigação. O produtor também adotou a produção integrada há três anos, o que forma o tripé do trabalho na propriedade. Nesse formato, o manejo é desenvolvido e avaliado pela Embrapa e pelo Ministério da Agricultura. Os produtos são fiscalizados pelo Inmetro e recebem o Selo Brasil Certificado, atestando a qualidade.
Com as ferramentas tecnológicas, o produtor consegue também acompanhar a necessidade de aplicação ou não de defensivos. Há dois anos, Andreazza consegue produzir belos morangos sem uso de agrotóxicos.
— Tem a questão de economia de insumos, não se desperdiça adubo nem irrigação. E só se aplicam agrotóxicos se há necessidade. Alguns produtores aplicam tendo ou não necessidade. A gente não, a gente monitora — destaca o agricultor, sócio da Granja Andreazza com dois irmãos.
O trio cultiva 1,2 milhão de plantas de morangos.
Economia de até 20%
Jussara Bolson não demorou muito para se render e se aproveitar da tecnologia. Em seu terceiro ano cultivando a fruta, a agricultora caxiense já utiliza o caderno de campo digital. A ferramenta facilitou o registro dos passos dados dentro da propriedade e trouxe uma economia estimada entre 15% e 20%.
— É uma melhor gestão do que tu vendes. Facilita o manejo e veio para nos modernizar — diz Jussara, que antes fazia as anotações manualmente.
Conforme a produtora rural, com o aplicativo ela consegue observar de forma mais clara o que e onde pode ser melhorado. O AgroD, app adotado por Jussara, é também utilizado nos cultivos de amora e outras pequenas culturas da Colônia Pouso Alto, na Zona Giacometti, em Fazenda Souza.
— Graças à ferramenta, já consegui fazer o planejamento para o próximo ano — revela.
As 12,5 mil plantas de morangos da propriedade não são cultivadas com agrotóxico. Jussara trabalha para que a produção receba, nos próximos anos, a certificação de orgânico.
— Gostaríamos de ter esse diferencial — destaca a agricultora, que pretende também investir em agroturismo na propriedade.
Aplicativo foi desenvolvido em Caxias do Sul
Desenvolvido em Caxias do Sul, o aplicativo AgroD está no mercado há três anos e tem 300 usuários, sendo 90% da Serra. São agricultores que sentiram a necessidade de fazer os registros de forma mais eficiente e aprenderam, com o caderno digital, normas de rastreabilidade. Grande parte desses produtores têm sido estimulados pelos filhos, por serem mais habituados com o uso da tecnologia.
A ferramenta, conforme explica Tauê Bozzetto Hamm, sócio- consultor da AgroDTech, permite mapear e controlar os gastos e, com isso, cada produtor pode tomar as melhores decisões de gestão.
— Como a empresa trabalha com muitos produtores, consegue mapear dados entre as propriedades. Então, por exemplo, se o produtor está gastando R$ 4 mil em defensivo agrícola, por hectare, e a média é de R$ 3 mil, tem espaço para reduzir. Ele pode controlar os estoques pela ferramenta — explica Hamm.
Produção
Lista dos 10 municípios que mais cultivam morangos, conforme a Emater
- Caxias do Sul: 80 hectares e 5.600 toneladas
- Feliz: 50 hectares e 2.400 toneladas
- Flores da Cunha: 50 hectares e 2.000 toneladas
- Farroupilha: 24 hectares e 1.680 toneladas
- Pelotas: 40 hectares e 1.600 toneladas
- Ipê: 26,6 hectares e 1.596 toneladas
- Vacaria: 28,5 hectares e 1.137 toneladas
- Bom Princípio: 27 hectares e 880 toneladas
- Ijuí: 11,5 hectares e 830 toneladas