Com floriculturas fechadas, atendendo somente com telentrega por causa da bandeira preta, o setor de flores sente os impactos. Embora o governo do Estado tenha permitido a abertura de estabelecimentos no Dia da Mulher e autorizado a venda dentro de supermercados, há produtores que tiveram que descartar praticamente toda a produção nos últimos dias. É o caso de Florentino Dambroz, de Vila Cristina. Há 40 anos no ramo, ele havia se preparado para o 8 de Março, como faz anualmente, mas conseguiu vender apenas cerca de 20 molhos. Aproximadamente 800 molhos foram descartados porque não tiveram saída.
Desde o início da pandemia, Dambroz estima ter perdido entre 4 e 5 mil molhos de flores. O prejuízo gira em torno de R$ 50 mil. O produtor espera que para o Dia das Mães, outra data comemorativa importante para o setor, o Estado não esteja mais na bandeira preta. Dambroz ressalta que a retomada de eventos, como casamentos e formaturas, também é importante, pois flores são itens presentes nas decorações.
— Mas vai faltar flor, porque não temos mais dinheiro para comprar mudas — acrescenta Dambroz, produtor das variedades mosquitinho egípcio, aster e tango.
Conforme o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), o descarte de flores ocorreu em outras cidades do país também. Parte da produção destinada ao Dia da Mulher, que representa 8% do faturamento anual do setor, foi para o lixo ou triturada para voltar aos canteiros e vasos na forma de adubo. A redução estimada nas vendas esperadas para a data foi de cerca de 30%. Em 2020, o prejuízo estimado nas flores de corte, considerando floricultor, atacadista e varejista, foi superior a R$ 1 bilhão no país.
A expectativa é que a situação se reverta rapidamente para não impactar outras datas comemorativas do ano, já que flores são perecíveis, assim como alimentos, e não pode ser estocada para ser vendida em outras ocasiões. As flores para a Páscoa e Dia das Mães já estão plantadas, no mínimo, desde dezembro.
Crescimento de 10% em 2020 no setor de vasos de flores
Apesar da queda nas vendas das flores de corte — que são as flores, botões florais e outras partes de plantas comercializadas cortadas das plantas que os produzem —, 2020 fechou com crescimento de 10% nas vendas de vasos de flores. O aumento está relacionado à permanência das pessoas em casa, que aproveitaram para cuidar do jardim e decorar a residência com produtos naturais. No início da pandemia, segundo informações do Ibraflor, as vendas de flores e plantas ornamentais caíram mais de 90%, mas o mercado se recuperou ao longo do ano.
Conforme o Ibraflor, o Brasil tem cerca de 8,2 mil produtores de flores. No Rio Grande do Sul, as áreas de cultivo são pequenas propriedades, geralmente formadas por empresas familiares. A Emater/RS acompanhava, no início do ano, 390 famílias de produtores espalhadas por 47 municípios gaúchos, mas a estimativa é que o número de produtores chegue a 700, uma vez que nem todas as empresas são tão pequenas assim e, portanto, não chegam a ser assistidas pela entidade.
Na região administrativa de Caxias do Sul, há atividade econômica registrada em Antônio Prado, Bento Gonçalves, Cotiporã, Guaporé, Nova Araçá, Nova Bassano e Nova Prata, com grande destaque para Gramado e Nova Petrópolis, na Região das Hortênsias. Conforme a Emater/RS, são pelo menos 90 famílias envolvidas com a produção na região. Em Caxias, a Secretaria Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento contabiliza dois grandes produtores.
Fiscalização
Além da venda presencial proibida nas floriculturas, não é permitida a comercialização de flores nas ruas por ambulantes. Conforme o coordenador de fiscalização da prefeitura de Caxias do Sul, Rodrigo Lazzarotto, cinco apreensões de flores foram feitas entre a semana passada e essa.