O Pioneiro noticiou nesta semana: “Economia em Caxias sofre retração de 6,3% em outubro”. Esse é o resultado divulgado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Comerciantes da cidade observam o intenso movimento de pedestres e veículos na esperança de que dezembro seja, de fato, o mês do Salvador.
Na tradição cristã, o Natal celebra o nascimento do menino Jesus Cristo, revelado nas escrituras sagradas como Messias, e os sinônimos de Redentor e Salvador. É justamente por um milagre que o comércio de Caxias do Sul anseia. Afinal de contas, de janeiro a outubro teve o pior desempenho dentre os setores, acumulando perda de 16,4%, seguido de serviços (-10,5%) e indústria (-4,3%).
Com certeza, nem CIC nem CDL pararam para ouvir a dona Maria, ali da banca da Rua Dr. Montaury, quase esquina com a Avenida Júlio de Castilhos. Há 15 anos ela trabalha no centro de Caxias, vendendo cartões de Natal e fazendo pacotes de presente na hora. Sua observação do vai e vem das pessoas que transitam pelo centro é um bom parâmetro de comparação de vendas em anos anteriores e, também, de prognóstico futuro.
– Esse é o meu bico de final de ano. Abro a banca entre os dias 1° e 24 de dezembro. Esse ano o movimento tem sido bem fraco. No ano passado, as pessoas estavam comprando mais – revela a aposentada caxiense Maria Eni, 65 anos.
Segundo informações da Secretaria do Urbanismo de Caxias do Sul, responsável pelo alvará de autorização para um comércio temporário como o de dona Maria, a banca dela é a única com permissão para essa finalidade de negócio sazonal.
– A cada ano eu tenho vendido menos cartões de Natal porque as pessoas dizem que enviam por e-mail ou mensagens pelo celular. Mas é bem diferente a pessoa receber um cartão, escrito, que ela pode guardar. Porque no computador se perde e ninguém guarda – argumenta.
Dona Maria vende cartões a partir de R$ 1. Comercializa ainda embalagens para presentes, em sacolas prontas, entre R$ 3 e R$ 7, e faz pacotes na hora, entre R$ 2 e R$ 4, dependendo do tamanho do embrulho.
Bazar se ajusta às datas comemorativas
Bairros como o Cruzeiro são um bom exemplo de como algumas regiões da cidade atendem sua comunidade sem que seja preciso recorrer ao centro. No Cruzeiro há escolas, farmácias, supermercados, comércio e serviços diversificados. Na Rua Luiz Michelon, a principal via do bairro, tem uma loja que se adapta à sazonalidade. A começar pelo nome, um belo indicativo do perfil do negócio, Bazar Todas as Datas.
Na entrada, à esquerda, de frente para o balcão principal, há uma espécie de vitrine, onde ficam expostos os produtos da época. Neste período, há enfeites e luzes natalinas, objetos de decoração, além de bolas, laços e fitas que são usados para adornar as árvores de Natal.
– Na época de Finados uso a vitrine para colocar arranjos de flores. Já no Dia das Crianças são brinquedos e, no Natal, são enfeites e luzes natalinas – explica a caxiense Leila Perosso, 40, proprietária, junto com o marido, do Bazar Todas as Datas.
A loja foi inaugurada em 2012, ainda no bairro Kayser. No Cruzeiro, Leila diz que estão operando desde 2015.
– Neste Natal, a procura tem sido maior por enfeites e luzes, e menos por presentes. Pelo menos até agora. Acho que as pessoas optaram mais por enfeitar a casa do que nos anos anteriores – avalia.
Sem fechar ao meio-dia, Leila aguarda por um maior movimento nos dias mais próximos ao Natal porque sempre tem quem deixe as compras para a última hora. No bazar, há cartões por R$ 5, enfeites e lâmpadas a partir de R$ 19 e cestas e kits prontos, entre R$ 13 e R$ 60.
A arte de fazer panetones
Ana Salete faz panetones em casa, no bairro Forqueta, há 20 anos. Só de ouvi-la falar dá água na boca e uma vontade quase irresistível de fatiar esse bolo, que pode ser feito de frutas cristalizadas ou chocolate, na versão conhecida como chocotone. Aliás, ela revela um dos seus segredos:
– Eu não coloco apenas umas gotas de chocolate, que a pessoa tem de ficar procurando. Eu uso bastante chocolate, por isso as pessoas gostam tanto – explica Ana, nascida em Cazuza Ferreira, 66 anos.
Com essa experiência toda era de se esperar que Ana quisesse ampliar os negócios. Mas, para ela, fazer panetones é uma arte que exige tempo, dedicação e boas pitadas de amor.
– É delicado fazer panetone. Eu faço só uma vez por ano e é algo que me dá muito prazer. Tu faz a massa e põe ela para descansar e crescer. Depois, quando tiro do forno e vejo aquela coisa mais linda, então deixo esfriar, embalo e entrego. Me dá muita alegria quando as pessoas me dizem: “Hmmm, que bom!” – conta, sem conter o sorriso de felicidade.
Neste ano pandêmico faltaram ingredientes. Por isso, aquela produção de outros tempos, de 500 unidades, foi reduzida a cerca de 80, entre panetones e chocotones. No entanto, nem mesmo a restrição de insumos interrompeu a boa ação. Ana fez a doação de 280 pequenos chocotones, que serão distribuídos em ações assistenciais nos bairros São José e Serrano.
O preço do panetone grande é de R$ 14. Aliás, era. Porque não tem mais. Antes que alguém insista e queira comprar, Ana afirma que a fornada de 2020 já está toda vendida. Ela só atende a pedidos para 2021.