Há quem diga, até com certa ironia, que a inovação é a palavra da moda. Mas, diferentemente do que muitos acreditam, o termo não é deste século. O pai da inovação é Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), economista e cientista político austríaco. Schumpeter é ainda hoje reconhecido como um pensador que procurou aproximar a economia da sociologia. Para ele, a dinâmica da economia obedecia ciclos marcados por inovações.
Schumpeter batizou essas inovações como um movimento que provocava uma "destruição criativa". Ou seja, a linearidade e certo equilíbrio econômico eram "quebrados" por iniciativas de inovação, a partir de novos processos, uso de novas matérias primas, criação de novos produtos ou novas formas de comercialização. O economista entendia que o sistema capitalista progride por revolucionar constantemente sua estrutura por meio do que ele entendia ser a tal da inovação.
Dito isso, é importante atualizarmos o conceito, contextualizando essa nova visão a partir do novo perfil de sociedade e de empresas que hoje nos cercam — e futuramente serão criadas.
Giancarlo Dal Bó é professor, doutor em administração e pesquisador na Universidade de Caxias do Sul. Para ele, ainda há quem confunda uma "boa ideia" com "inovação".
— Qualquer um pode ter uma ideia nova e única. Mas quando se fala em inovação, se trata de uma ideia a ser colocada em prática. Uma ideia, por si só, nem sempre é colocada em prática, assim como uma invenção. Pode ser que uma invenção jamais chegue ao mercado, por exemplo. Para ser uma inovação essa ideia tem de ter utilidade, gerar valor e chegar ao mercado — conceitua.
Mergulhando ainda mais nesse ambiente de inovação, por assim dizer, Dal Bó explica que esse conceito pode ser percebido de três formas diferentes. A inovação pode ser incremental, radical ou disruptiva.
— Há a inovação incremental, em que normalmente as nossas empresas da região são boas nisso. Nesse tipo, trata-se de promover melhorias em produtos e processos, trabalhando na redução de custos. Outra tipo de inovação é a radical, e que pressupõe a transformação de um produto ou serviço, tornando-o completamente novo. Isso é mais difícil de vermos aqui na região. Talvez, um bom exemplo seja a Grendene. No passado ela fazia os invólucros de plástico para garrafão de vinho e, depois, passou a fazer calçados de plástico. Temos ainda, a inovação disruptiva, que tem mais a ver com a mudança do modelo de negócio da empresa. Por exemplo, a Apple começou a fabricar smartphones, que é uma inovação radical, porque não se tratava mais de um telefone simples, no entanto, ela continua com o mesmo modelo de negócio. Empresas que modificaram o modelo de negócio são a Netflix e a Spotify, por exemplo. Antes da Spotify, a indústria fonográfica tinha outro modelo. E quando novas empresas mudam o modelo de negócio, a tendência é a de que as empresas que permanecem no foco de atuação no modelo antigo, desapareçam — ensina o professor.
Inovar pressupõe um trabalho coletivo e colaborativo
Inovar antes de mais nada, reforça Dal Bó, é estar aberto a uma nova mentalidade, uma nova forma de perceber a relação entre as pessoas e as empresas e, uma nova visão de mundo, por assim dizer. E, sobretudo, a inovação pressupõe a inserção de novos verbos ao vocabulário, como compartilhar, somar e agregar. Não há como ser inovador sozinho, como se fosse o exército de um homem só.
— Uma pessoa pode ter uma ideia sozinho e essa ideia ser fantástica. Posso até mesmo inventar algo, mas dificilmente sozinho vou conseguir produzir uma inovação. É por isso, que temos ouvido tanto falar em "criar ecossistemas de inovação". Uma vez, o poder e a vantagem de uma empresa, estavam na posse de terras, de recursos ou até de matéria prima. Hoje, é o conhecimento — argumenta.
Para o professor, os atores envolvidos em inovação em Caxias do Sul precisam amadurecer.
— Quando se fala em inovação, em Caxias, ainda se relaciona com as indústrias e com o produto físico. Mas se esquecem da economia criativa e do turismo, que nunca conseguiu sair muito do chão por aqui. Caxias é ainda vista como a cidade do trabalho. Sendo que trabalho, desde que ligado à indústria. Porque música e poesia, por exemplo, não são vistos como trabalho. Só que no campo da inovação é a economia criativa quem traz resultados mais rápidos. Enquanto que na indústria leva-se mais tempo para rever modelos de negócio, além dos problemas que temos com maior custo em logística, por estarmos distantes de onde os nossos produtos são consumidos — aponta Dal Bó.
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