A queda expressiva na atividade econômica não foi o único resultado da pandemia em Caxias do Sul. Setores como o comércio, os supermercados e os restaurantes também experimentaram uma mudança no perfil de consumo. Produtos e serviços que não eram tão procurados até março, agora podem representar a maior parte das vendas, ainda que em muitos casos não reverta os prejuízos. E a principal demanda é justamente por produtos ligados à maior permanência em casa, ainda que os estabelecimentos de bairros não tenham observado uma transformação expressiva no perfil da clientela.
O fenômeno se reflete de forma diferente de acordo com cada setor. Nos restaurantes, por exemplo, o consumo está 60% menor em relação ao período anterior à pandemia, segundo o presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh), Vicente Perini. Segundo ele, em alguns bairros se percebe um comparecimento mais frequente de moradores das proximidades, mas isso não significa maior movimento nas mesas. Muitos consumidores compram a comida para almoçar em casa, isso quando não aproveitam o tempo para preparar o próprio almoço. Além disso, as telentregas também tiveram alta expressiva.
— Perdemos muito com o almoço em casa. Mas depende muito da logística, porque dependemos muito das escolas, tanto que o verão é sempre nosso período de baixa. Vejo na normalização das aulas um retorno de 80% (do movimento). Não acredito em 100% porque as escolas vão ter retomada lenta — avalia Perini.
O fenômeno citado pelo presidente do Segh foi sentido de forma significativa no restaurante Patrick, no bairro Cruzeiro. Desde o início da pandemia, as famílias deram lugar a cientes que trabalham nas proximidades ou pessoas que têm a necessidade de almoçar fora.
— Tínhamos uma clientela de terceira idade muito boa e se foi. Também não vimos mais crianças — relata o proprietário, Emerson Adriano Rodrigues, 46.
Atualmente, o estabelecimento opera com uma queda média de 50% do faturamento em relação a antes da pandemia, mas já chegou a atingir 70%.
— Talvez quando passar o inverno dê uma melhorada, mas como era antes só depois que tiver a vacina — acredita Priscila Rodrigues, 38, esposa de Emerson.
Se a população almoça mais em casa, quem sente a diferença são os supermercados. O setor sentiu um aumento de cerca de 5% nas vendas de produtos de cesta básica no mês passado em relação a agosto do ano passado. Outros produtos supérfluos, contudo, tiveram queda.
— Não houve aumento na receita porque os supermercados ganham muito pouco com esses produtos. O supermercado ganha quando vende outros tipos de mercadoria — revela Eduardo Slomp, presidente do Sindicato do Comércio de Gêneros Alimentícios de Caxias do Sul (Sindigêneros).
O perfil do consumidor, contudo, não teve alteração significativa. Isso porque entre 80% e 90% dos clientes de supermercados de bairros, por exemplo, tradicionalmente são de moradores da área. O que mudou em alguns casos, foi a frequência.
O empresário João Rampon Filho, 60, tem evitado ir a supermercados maiores, embora também comprasse antes em um supermercado perto de casa, no bairro Rio Branco.
— Como é aqui pertinho, fazemos as compras menores aqui e uma vez por semana vou em um mercado maior — conta.
O comércio também não registrou uma migração dos consumidores para os bairros, mas há casos pontuais em que a clientela opta por estabelecimentos mais próximos de casa.
— Não tenho pesquisa, mas tenho relatos de que onde tem algo muito importante, como um mercado ou banco, as pessoas aproveitam para também ir em um local próximo. Mas as pessoas não deixaram de ir ao centro. Tem um movimento, sim, que puxa para o bairro, mas somente onde tem um empreendimento maior — destaca Idalice Manchini, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul (Sindilojas).
No setor de vestuário, por exemplo, que atualmente tem uma receita cerca de 35% menor em relação a antes da pandemia, houve aumento pela procura de alguns itens, mas não o suficiente para reverter as perdas.
— Ninguém mais compra artigos de festa. As pessoas têm comprado mais roupas do dia a dia e e de trabalho — observa Marisa Bonatto, 55, proprietária da Loja Marisa, no bairro Cruzeiro, cujos clientes antigos se mantiveram, mas agora compram menos.
A boa notícia, segundo Idalice, é que aos poucos o mercado parece dar sinais de reação.
— Estou bem otimista e digo que já estamos começando a virada. Com bandeira laranja por três semanas já vemos uma confiança maior — comemora.
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