Em cenários normais, as pessoas costumam traçar planos a médio e longo prazos para suas carreiras: estabelecem um tempo para alcançar um promoção ou até mesmo deixar seu emprego para empreender. No momento atual, é difícil saber o que acontecerá em um mês. Com uma crise que somente em Caxias do Sul, entre março e maio, fechou 8.766 vagas de trabalho, não basta planejar, é preciso se adaptar. E depressa.
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— Em poucos meses, vimos o mundo virar de ponta-cabeça, e as empresas com uma necessidade de adaptação nunca antes vista. Vimos negócios pequenos, médios e grandes, todos com o mesmo desafio: como não morrer e como aproveitar as oportunidades que surgem. Como profissional, nós devemos ter o mesmo pensamento: temos que nos adaptar cada vez mais rápido porque o mercado muda cada vez mais rápido. Portanto, a grande lição é que adaptação real é mais importante do que um bom planejamento em papel — ensina Marcelo Furtado, CEO da Convenia, uma HRTech (empresa que desenvolve softwares que automatizam os processos e digitalizam algumas das tarefas da área de RH) com soluções voltadas para otimização de tempo e custos de pequenas e médias empresas.
Isso não quer dizer que o planejamento deve ser deixado de lado. Para Furtado, as pessoas devem apenas evitar tomar decisões que irão mudar suas vidas em tempos turbulentos, porque essas escolhas em momentos como esse tendem a levar em conta muito mais o emocional do que o racional:
— Uma ação que facilita muito neste momento a gestão da carreira é pensar em médio e longo prazos onde você gostaria de estar e começar a se preparar para atingir esses objetivos. Se, por exemplo, você perdeu o emprego e quer aproveitar para mudar a sua carreira, pense no longo prazo. Ao mesmo tempo que você tenta voltar ao mercado o mais breve possível na posição que atuava antes, deve começar a se desenvolver para o seu objetivo futuro. Ou seja, planeje para o médio prazo mas aja no curto prazo.
Para a diretora executiva da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), Iêda Vecchioni, fórmulas anteriores à pandemia não funcionam neste cenário. Por isso, é preciso ampliar a percepção para conseguir identificar as novas necessidades, que incluem profissionais mais resilientes. Outras qualidades devem ser valorizadas nos profissionais no pós-pandemia.
— Conseguir manter ou reiniciar suas atividades sem perda de qualidade ou agilidade não será para qualquer um. Outra característica ou competência será a antifragilidade, pois precisamos aprender a extrair e utilizar apropriadamente os aprendizados que estamos incorporando neste momento. Por último, podemos citar a criatividade, que sempre foi importante e caracteriza o diferencial que indicará que empresas se manterão vivas e sairão na frente após o contexto que estamos vivendo — destaca.
O que diz Marcelo Furtado, CEO da Convenia
DEFINIR OBJETIVOS
"A primeira coisa que as pessoas devem ter em mente é evitar tomar grandes decisões em tempos de muita turbulência, pois, muitas vezes, estas decisões podem estar baseadas muito mais no emocional do que no racional. Portanto, em vez de dar grandes guinadas na carreira, pense primeiro em se adaptar rapidamente ao mercado conforme ele se ajusta. Uma outra ação que facilita muito neste momento a gestão da carreira é pensar em médio e longo prazo onde você gostaria de estar e começar a se preparar para atingir estes objetivos. Se, por exemplo, você perdeu o emprego e quer aproveitar para mudar a sua carreira, pense no longo prazo. Ao mesmo tempo que você tenta voltar ao mercado o mais breve possível na posição que atuava antes, deve começar a se desenvolver para o seu objetivo futuro. Ou seja, planeje para o médio prazo mas aja no curto prazo."
REFLEXÃO
"Depende muito dos objetivos de carreira de cada pessoa. No geral, o investimento em educação é sempre muito eficiente, mas a grande dificuldade é “em que” o profissional deve se educar. Por isso, é tão importante o momento de reflexão do profissional atual de onde ele gostaria de estar no médio e longo prazos."
ADAPTAÇÃO
"A grande lição da pandemia é algo que se falava muito em teoria, mas pouco se via na prática: o mercado hoje é muito mais propenso a mudanças rápidas. É um mercado volátil. Em poucos meses, vimos o mundo virar de ponta-cabeça e as empresas com uma necessidade de adaptação nunca antes vista. Vimos negócios pequenos, médios e grandes, todos com o mesmo desafio: como não morrer e como aproveitar as oportunidades que surgem. Como profissional, nós devemos ter o mesmo pensamento: temos que nos adaptar cada vez mais rápido porque o mercado muda cada vez mais rápido. Portanto, a grande lição é que adaptação real é mais importante do que um bom planejamento em papel."
JÁ MUDOU
"A gestão de carreira já mudou. Temos visto muitos profissionais que antes estavam seguros de que a mudança em sua função ocorreria em cinco, 10 anos, agora preocupados com os próximos 30 dias. Tudo se acelerou e se intensificou. Em gestão de carreiras, os desafios também se intensificaram. O que antes era tendência, agora é realidade. O que antes era ameaça, já foi extinto."
CARREIRAS
"Não importa muito qual a área profissional em que a pessoa está inserida, mas sim a forma como ela desenvolve o seu trabalho. Acredito muito que profissionais que tenham uma carreira “T-Shaped”, ou seja, que tenham uma especialização mas, acima de tudo, tenham uma abrangência grande na sua atuação sejam mais bem sucedidos no futuro. A solução de problemas em um mundo ágil vem da velocidade de adaptação de juntar diferentes informações do que de ser especialista de longo prazo em determinada função."
QUALIDADES
"Capacidade de aprendizado, para conseguir acompanhar novas e constantes evoluções; adaptação, para não se prender a uma realidade que pode deixar de existir em dias; e inclusivo, pois as grandes soluções só existem quando há espaço para diversidade de pensamentos."
O que diz Iêda Vecchioni, diretora executiva da ABRH Brasil
NOVAS FÓRMULA
"Essa pandemia pegou o mercado de trabalho de surpresa. Com isso, as fórmulas anteriores não funcionam nesse cenário. Passa a ser muito importante a ampliação da nossa percepção para que possamos ver a situação de nossas empresas por várias óticas, para conseguir identificar as novas necessidades e nos prepararmos para atendê-las. Assim, podemos identificar o que de fato será essencial para que sejamos importantes e não tenhamos que congelar nossa carreira."
CONHECIMENTO E SAÚDE MENTAL
"Atualmente, temos que investir muito no conhecimento sobre as tecnologias de interação, além de novas possibilidades que trarão agilidade ao desenvolvimento de nossas atividades. Além disso, investir na nossa saúde mental também é importante, pois, se não estivermos bem e em equilíbrio para enfrentar essa adversidade, podemos ter problemas nos nossos empregos."
SAIR DA ZONA DE CONFORTO
"Nós já sabíamos que teríamos que evoluir funcionalmente desde antes da pandemia, mas a acomodação acaba falando mais alto e deixamos tudo para depois. É mais fácil achar que fazemos nosso trabalho da melhor forma do que deixarmos a zona de conforto e buscarmos novas opções de desempenho."
CARREIRA
"Antes, um bom desempenho já nos levava a uma evolução nas faixas salariais correspondentes a nossa função (a progressão / aumento por mérito) ou até a ocuparmos cargos de níveis mais elevados (promoções). Hoje, a tendência é de trabalhar com um fixo equivalente a um salário inicial do cargo e podermos ser recompensados com uma variável que traz benefícios para as empresas (menos encargos) e para o colaborador (que pode receber o equivalente ao final da sua faixa salarial), desde que a empresa tenha critérios muito bem definidos para não incorrer em problemas legais."
ESPAÇO
"Carreiras que envolvam tecnologia terão mais espaço no pós-covid, certamente. Mas entendo que todas as carreiras de áreas que trabalhem com tecnologia e pessoas serão aquelas mais promissoras."
NOVAS COMPETÊNCIAS
"Resiliência será uma competência-chave no novo cenário. Conseguir manter ou reiniciar suas atividades sem perda de qualidade ou agilidade não será para qualquer um. Outra característica ou competência será a antifragilidade, pois precisamos aprender a extrair e utilizar apropriadamente os aprendizados que estamos incorporando neste momento. Por último, podemos citar a criatividade, que sempre foi importante e caracteriza o diferencial que indicará que empresas se manterão vivas e sairão na frente após o contexto que estamos vivendo."