Economia

Volta às aulas

Material escolar está 8% mais caro

Lojistas estimam aumento de vendas no segmento entre 5% e 10% em Caxias

Mateus Frazão

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Marcelo Casagrande / Agencia RBS

Nos meses que antecedem o início de cada ano, a professora Samandra Maciel prepara o discurso para conter preventivamente a empolgação dos filhos. Assim, quando chega janeiro e feveiro, Bruno Augusto Perquin, 11 anos, e Amanda Perquin, 16, já estão preparados para negociar um meio-termo com a mãe. A ocasião é a compra de material escolar. Um gasto inevitável, mas que exige controle financeiro, principalmente num contexto econômico que demanda cautela. Para Samandra, entretanto, o principal critério é agradar aos filhos, em detrimento do próprio bolso.

— Prefiro que eles escolham o que querem, o que eles vão gostar de usar, porque vão usar todo o dia. Eu argumento durante o ano, mas no fim preferimos economizar em outras coisas e não na escola. Somos flexíveis, a não ser que seja algo de preço muito esdrúxulo.

Samandra diz ter notado aumento nos itens neste ano. A percepção corrobora com a estimativa da Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (Abfiae), que indica alta de 4% a 8% nas papelarias brasileiras para 2020 em comparação a 2019.

No segmento, a expectativa varia conforme o estabelecimento. O Pioneiro questionou quatro entre as principais lojas de Caxias que ofertam produtos escolares e a projeção variou em cada um deles, entre 5% e 10% de crescimento nas vendas.

— Alguns lojistas informaram que devem vender a mesma coisa e outros indicaram até perdas, em decorrência de novas empresas no segmento que devem dividir esse bolo. Já lojas mais consolidadas chegam a estimar de 5% a 10% — afirma o coordenador de Tecnologia, Informação e Inovação da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Caxias, Cleber Figueredo.

Apesar de algumas projeções mais modestas, Figueredo projeta um bom desempenho para o setor:

— Acredito que as vendas serão boas, apesar de algumas perspectivas mais cautelosas, pois esse é um mercado que não tem muita mudança na população escolar de um ano para o outro. Por isso, os consumidores acabam sendo em números semelhantes. Além disso, tem outros segmentos que se beneficiam, como, por exemplo, o vestuário, com a venda de uniformes. 

Segundo o diretor financeiro do Sindilojas, Marcos Rossi, as vendas devem registrar incremento de 5% em relação ao ano passado. Ele, que é também proprietário da rede de livrarias Rossi, acredita em aumento ligeiramente maior do que a média para suas lojas.

— Esperamos um aumento entre 5% e 10%, especialmente porque abrimos uma unidade no bairro Kayser — comenta, que comanda cinco lojas.

A descentralização, inclusive, foi uma estratégia encontrada por Rossi para ampliar o alcance da rede na cidade.

— Foi algo que testamos e tem dado certo. Talvez possamos explorar ainda mais como uma estratégia de expansão da marca para outros bairros. Hoje, a população prefere a comodidade do próprio bairro, pela proximidade e por outras questões como a maior facilidade em estacionar, por exemplo — avalia.

Efeito retardado

Neste ano, um elemento tende a modificar relativamente a demanda por materiais escolares. A greve do magistério, que alterou o calendário para cerca de 300 estudantes de escolas estaduais de Caxias, deve protelar o movimento de compra para muitas famílias, em razão do atraso para o início do próximo ano letivo. Em algumas escolas, a abertura deve acontecer em abril.

Ainda assim, fevereiro continua sendo o mês de maior venda do ano para o segmento, chegando a registrar quatro vezes mais em comparação aos demais meses, informa o diretor financeiro do Sindilojas, Marcos Rossi.

O meio-termo e a pesquisa

Na movimentação para a compra de materiais escolares, a máxima brasileira de deixar para a última hora novamente é regra. As exceções, no entanto, podem garantir menor estresse, evitando filas e as lojas cheias em fevereiro, e também pelo maior número de opções.

— A variedade permite comprar um produto mais barato em alguns casos — comenta o diretor financeiro do Sindilojas Caxias, Marcos Rossi.

Por mais que dê liberdade aos filhos, a servidora Samandra Maciel afirma pesquisar antes de fazer as compras, mas diz não notar tanta variação nos valores.

— Em Caxias, o preço não muda muito. Optamos por equilíbrio de preço e variedade. No final das contas, acaba não sendo muito mais barato entre uma loja e outra porque, se uma cobra menos num produto, compensa o valor no outro — ressalta Samandra.

Marcelo Casagrande / Agencia RBS
"Eu argumento durante o ano, mas no fim preferimos economizar em outras coisas e não na escola", afirma Samandra Maciel (à direita)

Os filhos admitem que a mãe é flexível, mas tentam não abusar da bondade.

— Ela é bem flexível, mas somos (Amanda e o irmão) compreensíveis. Caderno, essas coisas, papel é papel, dá para escrever em qualquer um. Mas mochila, por exemplo, quem sabe uma mais reforçada. Ano passado, eu optei por comprar a que eu não queria e acabou rasgando no meio do ano — relata a Amanda Perquin, 16 anos.

— Não gostei de tanta coisa que fosse tão cara, mas tem uma coisa ou outra que sim, eu escolho algo que eu quero e é mais caro — comenta  Bruno Augusto Perquin, 11 anos.

Entre os materiais de Amanda e Bruno, Samandra gastou R$ 1.784.

Kits para o bolso do cliente

De acordo com o diretor financeiro do Sindilojas Caxias, Marcos Rossi, o valor dos kits escolares variam conforme as escolas, podendo ir de R$ 100 a R$ 2 mil. Ainda assim, lojistas do ramo consultados pelo Pioneiro alegaram que é possível formar o kit conforme o poder aquisitivo do cliente. Itens básicos podem serem adquiridos por menos de R$ 100.

— Conseguimos montar um kit por menos de R$ 100 (foto ao lado). Temos pacote de escrita, por exemplo, com canetas, lápis, borrachas e canetinhas por R$ 39,90. Tem opções de cadernos por R$ 4,99 _ cita o proprietário da Clip, Cristiano Santini.

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