Após cerca de uma década desde que o fungo Ceratocystis Fimbriata começou a devastar culturas de kiwi em Farroupilha e região, produtores encontraram alternativas não para reverter a situação, mas para conviver com a doença. A cidade, conhecida por ser a principal cultivadora da fruta no país, experimentou a perda da representatividade na produção ao longo da última década, simbolizada pelo fim da Fenakiwi em 2017.
Para efeito comparativo, em 2008, Farroupilha contava com cerca de 120 produtores de kiwi. Em 2019, dados extraoficiais estimam que o número reduziu para cerca de 50. A área plantada também foi atingida severamente. Em 2011, eram cerca de 130 hectares de cultura de kiwi no município. Em 2017 (último dado oficial), segundo o IBGE, a área reduziu para 70 hectares e é ainda menor na percepção de agricultores, que estimam que no máximo 40 hectares da fruta sejam cultivados atualmente.
Desde 2013, entidades agrícolas e instituições públicas da cidade de mobilizam para buscar retomar a confiança de produtores da fruta na região.
— A gente está organizando ações para mostrar para os agricultores que é possível conviver com o fungo e que já temos bons resultados dos métodos que empregamos. Reduziu o número de produtores, mas percebemos que esses que continuam cultivando têm vontade de manter a cultura do kiwi em Farroupilha, comenta a extensionista rural, engenheira agrônoma, Paula Milech, do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Farroupilha.
E complementa:
— Nem se fala mais em erradicar, mas a conviver com o fungo.
Quarta-feira (22), houve a retomada das reuniões de um grupo de trabalho criado ainda em 2012 para estudar o assunto. Participam representantes da Emater, Embrapa, Sindicato Rural, prefeitura e Câmara de Vereadores de Farroupilha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária vinculado à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado (SEAPDR/RS), além de empresários do setor.
Entre as ações programadas está a realização de um seminário técnico para debater e apropriar produtores acerca de possíveis métodos e resultados das pesquisas realizadas sobre o tema nos últimos anos. Além do seminário e das reuniões periódicas, o grupo deve buscar novamente dar maior visibilidade para a fruta na programação de eventos da cidade.
— Precisamos voltar a promover com mais força a fruta no nosso município. A Fenakiwi acontece em outro molde hoje, dentro da Expo Farroupilha. Mas o evento (Expo Farroupilha) ocorre em novembro. Vamos ver se é viável transferir para junho ou julho, que é a época do kiwi — destaca o presidente do Legislativo e ex-secretário da Agricultura, vereador Fernando Silvestrin (PSB).
Apesar das perdas dos últimos anos, Farroupilha continua sendo a principal produtora da fruta no país.
Pesquisas desde 2012
Por ser uma fruta de ciclo maior do que a maioria, qualquer pesquisa referente ao plantio e efeitos de métodos agrícolas aplicados no kiwi demora mais do que o normal. Tanto que resultados efetivos só começaram a surgir nos últimos anos.
— Esse grupo de trabalho existe há um bom tempo, mas a pesquisa é lenta pelo ciclo da própria fruta. Mas desde 2017 conseguimos avançar nos estudos, que vamos apresentar, debater e avançar num seminário que se realizará ainda este ano — destaca o extensionista rural e engenheiro agrônomo Gustavo Ayres, do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Farroupilha.
Segundo ele, além de métodos para controlar os impactos causados pelo fungo na cultura, foram descobertos agrotóxicos e ampliados os registros de produtos para serem utilizados na planta.
— Após anos de incertezas, conseguimos enfim avançar, mas ainda há gargalos que pretendemos resolver em conjunto com entidades e produtores _ acrescenta Ayres.
Métodos
:: Plantio camaleão: manejo para não deixar raiz úmida (umidade da raiz potencializa ação do fungo).
:: Utilização de mudas resistentes atestadas por pesquisa.
:: Aplicação de agrotóxicos com resultados positivos durantes pesquisas.
Ações programadas
:: Reuniões frequentes entre entidades para debater o assunto.
:: Seminário, ainda sem data, para apresentar resultados de pesquisa e debater soluções.
:: Criação de associação de produtores da fruta.