A cada dois anos, o Ministério do Turismo lança prazo para atualização do mapa turístico brasileiro, no qual são definidas microrregiões nos Estados para exploração e divulgação de ações integradas. Neste ano em que está prevista a revisão desse processo, uma situação chamou a atenção: semana passada, Caxias do Sul solicitou mudar da atual Região da Uva e do Vinho, da qual faz parte desde 1971, para se tornar um dos municípios da Região das Hortênsias, composta por Nova Petrópolis, Gramado, Canela, São Francisco de Paula e Picada Café.
Um termo entre as cinco cidades e Caxias do Sul foi assinado e deve ser encaminhado nesta semana à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Rio Grande do Sul (Sedetur). A pasta do Governo do Estado é responsável por agrupar a documentação de todas as regiões e remeter ao Ministério do Turismo, que, em agosto, publicará portaria com a atualização do Mapa do Turismo Brasileiro 2019-2021.
Mas o que levou o município, cujo principal evento é a Festa da Uva, a deixar a região caracterizada pela enogastronomia? De acordo com a secretária do Turismo de Caxias, Renata Carraro, a cidade mudou e hoje compartilha similaridades com municípios da Região das Hortênsias.
— Hoje percebemos Caxias em transformação, e o perfil do turista também está em constante transformação. Caxias é cosmopolita. Temos vinícolas, produção da uva, mas temos muito mais: somos a terceira cidade do país com maior número de cervejarias, temos eventos de diferentes segmentos, o festival de blues. A mudança não vai interferir na Festa da Uva — garante Renata.
Conforme a secretária, a integração também se justificaria pelo maior número de municípios limítrofes. Enquanto Caxias tem fronteira com apenas três dos 29 municípios da Região da Uva e do Vinho, quatro das cinco cidades da Região das Hortênsias têm ligação direta com Caxias.
— Já temos a sinergia em obras que são feitas, como vias de acesso e pontes, trabalhos de recuperação e manutenção. Isso fortalece a relação. Teremos também o futuro Aeroporto de Vila Oliva, que vai atender toda a Serra Gaúcha, e os municípios vão usufruir de toda essa infraestrutura que podemos oferecer — complementa.
A infraestrutura, inclusive, segundo Renata, é uma das principais contrapartidas de Caxias na possível integração com os municípios das Hortênsias:
— A Região das Hortênsias está entre os principais destinos do país. Ficamos felizes e honrados com a acolhida desses municípios, que entenderam a participação de Caxias como oportunidade da região como um todo. Temos muito a trabalhar juntos. Vai ser oportunidade para ambos os lados.
Renata garante que a proposta de mudança foi apresentada e debatida junto com entidades representativas que compõem o Conselho Municipal de Turismo.
Por regra do Ministério do Turismo, não é possível que os municípios integrem mais de uma região turística. Apesar de fazer parte da Região da Uva e do Vinho, Caxias do Sul não tem participação formal na governança da associação que agrega os município em razão de pendência legal existente desde 2011, informou a Secretaria Municipal do Turismo.
Pensar a Serra
De acordo com a secretária municipal do Turismo, a mudança não interferirá na relação ou na proximidade cultural com a Região da Uva e do Vinho:
— É uma questão de fortalecer o município como região turística, uma oportunidade e momento único. Um passo importante para o município. Com a Região da Uva e do Vinho, continuamos a ter similaridades históricas e compartilhando roteiros. A grande intenção, no final, é continuarmos a divulgar, como um todo, a Serra Gaúcha — afirma.
REPERCUSSÃO
O Pioneiro repercutiu junto a representantes de entidades o anúncio da mudança de Caxias para a Região das Hortênsias. Confira:
"A Região das Hortênsias tem um tipo de turismo diferente do perfil de Caxias. Caxias é forte no turismo de negócio, prioridade de investimento é voltada mais para negócios, aqui (Hortênsias) o foco é o turismo de lazer, de contemplação. Talvez possa haver dificuldades de desenvolver políticas de comum acordo por haver essa diferença de perfil. Acredito também que essa (definição de mudança de região) não pode ser decisão só a nível de secretarias. Não pode ser algo só político, é preciso verificar se há interesse das empresas, entidades e comunidade como um todo para avaliar se há de fato interesse para todos os envolvidos."
Mauro Salles, presidente do Sindicato Patronal da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (SindTur)
"Achamos válida a mudança, desde que continue a Região Uva e Vinho, afinal, somos mais uva e vinho, o nosso sobrenome é Festa da Uva. A culinária, inclusive, de Gramado e Canela especialmente, é totalmente diferente da de Caxias. A nossa é muito mais próxima da Região da Uva e do Vinho. Então, acho que a integração maior deveria continuar sendo com Bento, Antônio Prado, Flores da Cunha, enquanto Gramado e Canela tem maior aproximação com Porto Alegre. A ideia (de mudança) até foi discutida com a CIC, mas não amadurecida."
Ivanir Gasparin, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias
"A Região das Hortênsias é muito importante, portanto, se alinhar a quem hoje comanda o turismo e tem expressão forte é bom. Institucionalmente, deixaria de fazer parte da Região da Uva e do Vinho, mas, pela proximidade, temos uma relação natural. Por isso, acho que a junção com as Hortênsias é interessante, sim, pois torna mais ampla a integração e aumenta as parcerias. Caxias sempre vai pertencer à Região da Uva e do Vinho pelo que ela é. Estando na Região das Hortênsias, a visibilidade se torna ainda maior. Mas claro que precisa ser atuante, tem que fazer a cidade prosperar nessa junção."
Vicente Perini, presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh)
"Uma coisa totalmente fora de padrão, fora da lógica. Temos uma proximidade enquanto localização geográfica, mas a nossa vocação é outra. Aqui nós participamos da Região da Uva e do Vinho desde 1971, região de migração eminentemente italiana. É importante a pluralidade étnica que se instalou na nossa cidade, mas nós temos toda uma construção já realizada no nosso município. Os nossos atrativos são voltados à enogastronomia, ao vinho, ao plantio da uva. Em vez de pegar e se juntar, (o município deve) participar com mais efetividade aqui das coisas da nossa região, dos municípios circunvizinhos, no momento em que estamos trabalhando roteiros, rotas de enoturismo, quando estamos trabalhando a Zona Franca da Uva e do Vinho para tornar o nosso produto mais competitivo, vamos nos aliar a Gramado e Canela, onde existe toda uma estruturação voltada à questão das hortênsias, do cinema de Gramado, do chocolate, do snowland, enfim, é uma outra situação da qual nós não temos intimidade."
Gustavo Toigo (PDT), vereador, em pronunciamento na sessão de ontem, no Legislativo
CALENDÁRIO
:: Até 30 de julho de 2019: cadastramento e inserção dos documentos dos municípios no Sistema de Informações do Programa de Regionalização do Turismo e validação das regiões turísticas junto aos fóruns e/ou Conselhos Estaduais de Turismo.
:: 31 de julho de 2019: encerramento do Sistema de Informações do Programa de Regionalização do Turismo.
:: 1º a 15 de agosto de 2019: Ministério do Turismo faz coletânea do banco de dados do Sistema de Informações do Programa de Regionalização do Turismo.
:: Agosto de 2019: publicação da portaria que define o número de municípios e regiões turísticas que deverão compor o Mapa do Turismo Brasileiro 2019.