Ainda engatinhando na Serra, a produção de hibisco colore de vermelho algumas poucas propriedades na região, como a da Família Rohr, em Picada Café. Em um quarto de hectare, entre Nova Petrópolis e Presidente Lucena, a cerca de 45 quilômetros de Caxias do Sul, o casal Clarice e Roberto mantém 300 pés da planta conhecida pelo chá de cor intensa e sabor cítrico que produz.
A colheita da safra deste ano começou em março e deve seguir até meados de maio. O plantio começa sempre por volta de setembro, já que a planta não gosta de frio. Como cada pé dá cerca de 20 quilos, a expectativa é de colher 6 mil quilos de hibisco. Leva-se, em média, uma hora para recolher um balde de 10 quilos. Antes de transformar o hibisco em bebida ou comida, é preciso desidratar as pétalas, processo que é feito também na propriedade da família.
Com a flor, além do chá, é possível fazer geleias, biscoitos, bolos, gelatinas, licores. Clarice vai testando e inventando receitas que vende em feiras realizadas não só em Picada Café, mas em todo o Estado. Em fevereiro, ela e o marido estiveram na Festa da Uva expondo os produtos que incluem outras plantas como erva-doce, melissa, capim-limão, hortelã e camomila.
— O hibisco sempre foi campeão de vendas entre os chás. Há uns dois anos caiu, mas agora está voltando — conta Roberto.
Não há confirmação oficial, mas a plantação dos Rohr é, possivelmente, a maior de hibisco da Serra. Em Caxias, há pelo menos uma plantação de hibisco. O agricultor Rodrigo Bogo tem cerca de 60 pés em São Gotardo, próximo a Ana Rech. Ele plantava para consumo próprio e neste ano resolveu comercializar o excedente. Vende o produto in natura e seco em casa e na feira ecológica.
— Deram bonitos os pés — conta o produtor, que planta hortaliças.
Em Nova Petrópolis, conforme a Emater, a agroindústria Aromas do Sítio, produtora de geleias de flores, tem atualmente cerca de 15 pés de hibisco.
"Fui buscar saúde"
A produção de ervas medicinais surgiu meio que por acaso. Clarice ficou doente em 2013 e, para curar a trombose e o reumatismo, começou a pesquisar sobre chás. Plantou um tipo aqui, outro ali e, quando viu, tinha chá para dar e vender. Resolveu transformar, então, em negócio. Surgia assim o Produtos Lilien.
— Fui buscar saúde para mim — conta, hoje curada.
Com o tempo, o novo empreendimento substituiu a criação de vacas de leite da família. Clarice e Roberto passaram não só a vender os produtos, principalmente em feiras, como a integrar um roteiro turístico da região, o Turismo Rural. Eles recebem grupos para conhecer a plantação e tomar um chá com bolos, pães e biscoitos que eles produzem.
— Foi acontecendo — comemora Clarice.
O Produtos Lilien também fornece para a Coopernatural (Cooperativa Vida Natural), de Picada Café.
Dá para comer a pétala
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater de Nova Petrópolis, Luciano Ilha, o plantio do hibisco deve começar entre setembro e outubro. Se atrasar, ele pode dar flores muito pequenas ou nem florescer. Antes também não é aconselhável plantar, porque a planta não gosta do inverno.
Segundo o técnico, a região de colonização alemã prefere fazer chás e refrescos com o hibisco, mas, em outros Estados brasileiros, ele é introduzido na alimentação.
— Tem gente que come a pétala. No Pará, tem o arroz de cuxá, com hibisco, um prato típico — conta.