A rotina de restaurantes e lancherias é tumultuada. Equipes multitarefas dividem-se entre o preparo e a reposição contínua de comida, na coleta de pedidos, no atendimento aos clientes, na logística das entregas e na gestão de pessoal. O grande desafio é nunca desagradar ao consumidor, em um serviço onde esperar não é opção. Foi a partir dessa necessidade que aplicativos de entregas, ou delivery, surgiram nos últimos anos e facilmente se estabeleceram no mercado em diferentes cidades, incluindo Caxias do Sul.
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Criado em 2011, o iFood é o mais antigo serviço do ramo em atuação no país e hoje contabiliza 14 milhões de pedidos mensais no Brasil. Isso sem contar a demanda em países como México e Colômbia, onde a plataforma também atua. Em Caxias do Sul, são mais de 270 estabelecimentos cadastrados no aplicativo.
Além dele, pelo menos outros quatro apps formam a concorrência no município: o caxiense Unemix (90 estabelecimentos registrados), Delivery Much (mais de 50), e, mais recentemente, Playdelivery (em torno de 40) e Uber Eats (mais de 100).
Sílvio Zanuz, proprietário do Restaurante Zanuzi, trabalha exclusivamente com o iFood desde maio de 2018. Dos nove entregadores do estabelecimento, apenas um deles é fornecido pela plataforma. Ainda assim, a visibilidade que o aplicativo garante ao negócio e a praticidade que proporciona ao consumidor refletem, segundo ele, na dinâmica do atendimento às demandas.
– O cliente tem mais tempo de escolher. Para nós, é só clicar para aceitar e imprimir o pedido. Hoje, 70% de pedidos de entrega são feitos por meio do iFood – informa Zanuz, que diz fazer cerca de 300 deliveries por dia, o que representa quase 30% do faturamento mensal do restaurante.
Apesar de receber propostas de outros serviços, Zanuz afirma que decidiu optar pela exclusividade devido às vantagens que recebe do aplicativo. Atualmente, ele paga cerca de R$ 300 para ter três modalidades do restaurante junto ao sistema, sendo uma delas (a menos demandada) em que a logística de entrega é gerida pelo iFood.
Se por um lado Zanuz reconhece que a expansão do sistema de entregas digital tirou parte da margem de lucro dos estabelecimentos, por outro, ressalta que houve aumento considerável no fluxo de vendas.
– É gastar R$ 100 por mês com algo que vai gerar lucro de R$ 100 mil – destaca Zanuz.
Enquanto o iFood detém o domínio do mercado, hoje operando em 483 cidades do país, o surgimento recente do Uber Eats torna a disputa mais acirrada. Conforme a assessoria de comunicação da empresa, atualmente o Uber Eats está disponível em 41 municípios brasileiros, sendo apenas Caxias e Porto Alegre no Estado.
Mundialmente, o aplicativo funciona em 600 cidades, número em constante expansão nas diferentes modalidades de transporte. O principal apelo do modelo é a possibilidade de dispor de um quadro maior de trabalhadores, já que basta um cadastro para se vincular ao sistema e se tornar um entregador.
A revolução do pequeno negócio
Quando abriu o Xis da Rose em um pequeno imóvel no Planalto, a empresária Roselaine Pereira, 24 anos, não imaginava que aquilo que era para ser uma lancheria de bairro se equipararia a estabelecimentos tradicionais do ramo e consolidados na cidade. Até 2016, ela atendia à demanda dos moradores da região e realizava cerca de 10 entregas diárias.
Recentemente, em apenas um turno de trabalho, Rose conta que realizou 198 entregas, número superior ao de muitos grandes restaurantes da cidade. A ascensão em pouco mais de dois anos é facilmente explicada: a adesão ao delivery digital.
– Comecei a trabalhar com o iFood e isso revolucionou o meu negócio. Tanto que eu fechei a lancheria e hoje só trabalho com delivery – comenta Rose.
Hoje, 95% dos atendimentos são feitos por entrega. Apenas 5% são de moradores da região ou de pessoas que buscam no local onde uma vez funcionava o restaurante.
– A minha média é de 70 entregas por dia. Em dias de promoção, chegamos a 200. Antes era de 10. O iFood abre as portas para quem não tem acesso ao restaurante. Tem toda a comodidade de analisar o cardápio. Um cliente demora 15 minutos para analisar o cardápio e o aplicativo oferece essa facilidade de tudo ser agilizado. Não esperava um crescimento assim quando abri – destaca, acrescentando que adquiriu um imóvel para construir uma cozinha maior, forma que encontrou para atender à alta demanda diária.
Empresários consideram adesão inevitável
Para uma série de empresários caxienses, a adesão ao sistema de delivery digital é tida como inevitável. Nem tudo são vantagens, no entanto, na opinião de alguns proprietários de restaurantes.
Dono do Dani Burguer, Daniel dos Santos Notti, utiliza três aplicativos, mas ressalta que a lucratividade é oscilante, pois o percentual absorvido pelas plataformas acaba pesando no faturamento mensal.
– Quando o mês é bom, nem se sente. Quando o mês é fraco se nota. Mas é preciso estar neles, senão você está fora do mercado, fora da vitrine. Hoje eu preciso do valor que vem dos aplicativos. Mais da metade dos pedidos são feitos por eles. Mas, quando eu não necessitar do valor e tiver fidelizado o meu cliente, eu pretendo sair (dos apps) - projeta.
Uma das estratégias para tentar gradativamente deixar os aplicativos, segundo ele, é incentivar os clientes a pedir diretamente com o estabelecimento, oferecendo descontos.
Já o proprietário da Hamburgueria Juventus, Eduardo Comerlato, afirma que o modelo via aplicativo é bastante funcional para o estabelecimento, que realiza mais de 100 entregas diárias. Com exceção do Uber Eats, ele informa que aderiu a todas as empresas que oferecem o serviço.
– O Uber Eats é inviável para nós porque cobra 25% de cada pedido. É muito alta (a taxa). É modelo viável para estabelecimento pequeno, que não tem motoboy. Como temos estrutura de telentrega com motoboy e tudo, não teriámos motivos em pagar uma taxa assim – conta.
Por outro lado, também ressalta que a preferência é por encomendas direto por telefone, ainda que deixar os aplicativos seja uma hipótese descartada na atualidade:
– Se você não está nos aplicativos, acaba tendo menos entregas - justifica.
Aplicativos que funcionam em Caxias
iFood
- Cobra taxa por serviço quando cede entregadores: varia de 12% a 27% do total da entrega
- Há cobrança de mensalidade entre R$ 100 a R$ 130 das empresas
- Valores repassados ao aplicativo são revertidos em publicidade
- Funciona como intermediário entre clientes e estabelecimentos para realização de pedidos e acompanhamento de entregas
- Entregadores ganham por viagem. Os que possuem vínculo com a empresa têm remuneração
- Atua em diversos municípios da região
Uber Eats
- Cobra taxa de 25% da empresa, por cada viagem
- Possui modalidades motocicleta, bicicleta e automóvel
- Paga R$ 3,50 por viagem a motociclistas e ciclistas e R$ 20 para veículos
- Realiza a logística de entrega e designa entregador para o pedido
- No Estado, só funciona em Porto Alegre e Caxias do Sul
Unemix
- Não cobra mensalidade
- Cobra percentual por cada venda, mas não informa quanto
- Não realiza logística de entregas. É utilizada própria estrutura de entregadores dos estabelecimentos
- Oferece suporte local
- Só funciona em Caxias do Sul
Delivery Much
- Não cobra mensalidade
- Cobra percentual por cada venda, mas não informa quanto
- Não realiza logística de entregas
- Funciona em diversos municípios do Estado
Playdelivery
- Trabalha com qualquer tipo de entrega
- Média de 8,30% de cobrança por entrega, variando conforme a quilometragem.
- Organiza a logística de entrega
- Todos os entregadores vinculados são MEIs