Os brasileiros conviveram esta semana com a incerteza quanto a uma retomada da mobilização dos caminhoneiros, a partir de áudio que circulou via WhatsApp alardeando uma nova greve para depois do feriado de Sete de Setembro. Foi o que bastou para, em algumas cidades, motoristas formarem filas em postos de combustíveis para encher os tanques, com o temor de possível desabastecimento. Essa realidade não se viu em Caxias do Sul, mas foi forte em Porto Alegre.
A mensagem era atribuída a uma entre as entidades que representam os caminhoneiros, mas a própria organização negou a autoria.
Se havia ou não uma suposta mobilização, as medidas implementadas esta semana ajudaram a contê-la. Na quarta-feira, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) publicou no Diário Oficial da União, tabela com novos preços mínimos de frete rodoviário. O aumento médio foi de 3%, a depender do tipo de carga, segundo o órgão regulador.
A alteração ocorreu após a alta do preço do diesel. Na semana passada, a Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) informou os novos valores desse combustível, com reajuste no preço de venda que varia de 10,5% a 14,4%, a depender da região. A variação do diesel é resultado da desvalorização do real frente ao dólar.
– É o que precisava ser feito, é o repasse conforme a lei — comentou o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ponta Grossa, Neori "Tigrão" Leobet.
Em comunicado, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) classificou a medida como "apenas" uma atualização.
A tabela de frete, editada pela primeira vez em 30 de maio, foi uma das reivindicações dos caminhoneiros para acabar com a greve, que durou 11 dias no fim daquele mês. O reajuste de quarta-feira ganhou tom de emergência depois do último fim de semana, quando circularam boatos sobre nova paralisação. A ANTT informou, há uma semana, que ajustaria a tabela devido à variação no preço do combustível, de acordo com a lei que determina reajuste sempre que a oscilação no valor do óleo diesel for acima de 10%.
Mensagens via WhatsApp diziam que os caminhoneiros poderiam fazer outra greve. A categoria contestou esses rumores, que levaram vários motoristas, em diversas cidades, a encher o tanque de seus veículos, em razão do temor de possível desabastecimento.
Manifestação prevista para a quarta-feira na sede da ANTT
A sinalização de que a tabela seria corrigida rapidamente serviu para conter a nova mobilização. Porém, uma ala da categoria programa manifestação na sede da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) no próximo dia 12, quarta-feira, para protestar contra a falta de fiscalização do cumprimento da tabela do frete. Essa situação foi tema da reunião da diretoria do órgão regulador na terça-feira.
Entidades patronais criticaram o reajuste. Por meio de nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a decisão "prejudica ainda mais o crescimento da economia e agrava as incertezas já existentes".
— O tabelamento é uma medida equivocada e simplista, que não soluciona o problema do transporte rodoviário do país nem dos caminhoneiros, agrava os problemas da indústria e pune todos os consumidores brasileiros — diz o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A entidade critica ainda o fato de o ajuste nos preços do frete ter se baseado apenas no anúncio do aumento dos preços de diesel nas refinarias, antes mesmo de os valores chegarem nas bombas de combustível ou afetar o custo dos transportadores. A CNI afirmou que a ANTT não criou comissão prevista para discutir a tabela nem respondeu a dúvidas sobre sua aplicação.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) decidiu entrar com novo pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender o reajuste e analisar rapidamente as ações de inconstitucionalidade da tabela — há três processos na Corte. A entidade argumenta que o reajuste agravará problemas já apontados, como aumento da inflação dos alimentos e impossibilidade de realização de vendas no mercado futuro de grãos.