A produção de uvas na família de André Molon, 45 anos, sempre foi convencional. Desde o tempo dos avós, que iniciaram a produção em Otávio Rocha, no interior de Flores da Cunha, o cultivo era com agrotóxicos. Mas há seis anos, Molon resolveu dar uma guinada. Deixou de lado as substâncias químicas para combate de pragas e apostou nos orgânicos.
Molon faz parte do grupo de 410 produtores de uvas orgânicas da Serra. Em 2017, eram 340 agricultores. O crescimento de 20,5%, segundo o Centro Ecológico de Ipê, demonstra que a produção está em alta.
Entre os motivos que levaram o produtor Molon e tantos outros pequenos produtores a aderir aos orgânicos, está o valor de venda da fruta.
O preço, de fato, é mais atraente. Pode ser até 80% maior que o da uva convencional. Com essa motivação, Molon transformou os quatro hectares de parreirais da sua propriedade. Neste ano, já colheu 45 mil quilos de uva bordô e espera mais 30 mil quilos até o final da safra.
— Às vezes, tem de fazer um pouco menos para agregar valor — diz Molon.
A variedade cultivada por Molon, própria para produção de sucos, por conta da cor intensa, tem como destino a Cooperativa Nova Aliança, da qual ele é associado. A fruta é utilizada justamente para os sucos fabricados pela empresa e comercializados em diversos estabelecimentos.
No próximo ano, os parreirais de uva niágara da propriedade também receberão certificação, que autoriza a vender o produto sem agrotóxicos. Em fase de transição, as parreiras estão há quase dois anos sem receber aplicação de químicos.
O próximo passo é transformar a plantação de tomate de convencional para orgânico.
— Vamos ver como o mercado se comporta — avisa.
Bom para o bolso e para a saúde
A quebra na safra de uva em 2016 — bem maior na produção convencional do que na orgânica — foi um dos motivos que levou muitos produtores a migrar. Já são 1 mil hectares de parreirais livres de agrotóxicos nos 27 municípios de área de abrangência do Centro Ecológico de Ipê, organização não-governamental que oferece assessoria e formação.
Há também uma alta demanda de mercado por suco de uva orgânico, conforme o coordenador da entidade, Leandro Venturin:
– Cerca de 8% do suco integral de uva produzido na Serra é com uva orgânica.
Sem falar, claro, no preço pago ao produtor. Segundo Venturin, o quilo da uva isabel fica entre R$ 1,50 e R$ 1,80 enquanto pelo convencional se paga de R$ 0,92 a R$ 0,95 (preço de tabela). Além disso, o produtor tem um risco menor de investimento, porque gasta menos com insumos.
Os benefícios para a saúde e o meio ambiente, então, nem se falam.
– Muitos produtores ou param de produzir com agrotóxicos ou deixam a agricultura, porque já estão intoxicados. O orgânico é um produto livre de contaminantes e dentro dos convencionais, por mais que esteja de acordo com a legislação, há resíduos – finaliza.
Em toda a região, há cerca de 14 mil produtores de uvas. Destes, 410 são de uvas orgânicas. Em 2017, eram 340 e em 2016, 280.