Além do grande número de demissões, a retração geral da economia vem gerando outros fatores que também impactam no orçamento das famílias, como a redução de horas extras e a diminuição da renda em programas de participação de lucros. Com menos dinheiro entrando, as pessoas estão tendo que reavaliar suas prioridades e se adaptar à nova realidade.
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O primeiro passo para reorganizar o orçamento, ensinam especialistas ouvidos pelo Pioneiro, é conhecer com profundidade a situação financeira da família. Entender quais são os gastos mensais e qual é a renda existente para esses custos é primordial:
– Às vezes, as pessoas demoram muito para conhecer a sua situação financeira e isso é extremamente importante – analisa Cláudia Mendonça Lemos, economista e diretora geral da Unicred Integração.
O replanejamento financeiro, seja ele temporário ou não, deve ser norteado ainda pelo que é essencial para a família. Alimentação, habitação, saúde, água, luz e educação devem ganhar prioridade, analisa Catherine Chiappin Dutra, coordenadora de Ciências Contábeis e Gestão Financeira do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG):
– Outros itens, como lazer, por exemplo, são importantes, mas podem ganhar adaptações. Cinema pode ser substituído pelo parque, viagens podem ser adiadas. E é importante analisar tudo na hora de encontrar uma alternativa. Viajar para uma casa de parente, por exemplo, pode não ser vantajoso se os custos com gasolina forem muito altos. Não é apenas a estadia que conta – ensina Catherine.
O controle financeiro constante, vale destacar, não deve ser prática apenas das famílias que passam por dificuldades. Maria Carolina Gullo, diretora do Centro de Ciências Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), lembra que a economia nacional passa por um momento de recomposição:
– Vivemos uma expectativa de melhora, mas não sabemos quando e como ela virá. O cenário segue sendo de cautela e todo planejamento é bem-vindo – resume.
Confira abaixo outras dicas passadas pelos especialistas para quem quer reorganizar suas contas.
DE OLHO NO ORÇAMENTO
:: Defina metas e condutas
Se o orçamento apertou, é hora de reunir a família para traçar metas e condutas com base nas dívidas e na renda total da casa. É a hora de revisar o que é essencial, dando prioridade para os gastos importantes fixos (água, luz, telefone, condomínio, aluguel/financiamento, educação e saúde).
:: Evite os juros
Tente manter em dia as dívidas que ainda não estão atrasadas. Dessas forma, você evita novos juros para o bolso. Se tiver que escolher entre fazer uma dívida com cartão de crédito ou financiamento, avalie bem: o financiamento normalmente conta com juros menores.
:: Renegocie as dívidas
Especialistas são unânimes na dica de que mais vale renegociar as parcelas do que deixá-las em atraso. Os financiamentos de imóvel, por exemplo, normalmente são feitos por alienação fiduciária, o que indica que o bem fica em nome do banco até que a dívida seja quitada. Em caso de atraso de pagamento, o banco consegue retomar o imóvel e tudo o que foi pago fica registrado praticamente como um "aluguel". Procure o banco e renegocie para isso não acontecer. A negociação também vale para outras contas, como energia elétrica, por exemplo.
:: Não contraia novos gastos
Se conseguir "folgar" o orçamento renegociando as dívidas, não aproveite a oportunidade para contrair outros gastos. Antes de fazer novas dívidas, equilibre o orçamento por algum tempo.
:: Tente eliminar contas
Quando o número de dívidas ultrapassa demais o orçamento, será preciso escolher apenas algumas para pagar. Entre o financiamento de carro e imóvel, por exemplo, opte por ficar com o imóvel, já que nesse caso a perda normalmente será maior, e adquira um automóvel de valor menor.
:: Mantenha o planejamento
Passado o momento de aperto, mantenha o planejamento, mas com adaptações. O ideal é conseguir sempre guardar 10% do orçamento para preservar o futuro. Crises econômicas vêm e vão, e crises pessoais (acidentes de carro, problemas de saúde) também são comuns.
:: Fique de olho no que é cobrado
Mesmo que não conste no contrato, juros são cobrados caso o consumidor não pague a dívida. São os chamados juros de mora. Neste caso, as taxas devem ser de 1% ao mês. Se houver previsão contratual a respeito, o banco ou a financeira não poderá impor percentual superior a 2% ao mês. Em relação à multa pelo atraso, o Código de Defesa do Consumidor indica que não pode ultrapassar 2% do valor da prestação. Além disso, a parcela em atraso sofre correção monetária até a data do efetivo pagamento. Porém, todas essas cobranças podem ser substituídas pela denominada comissão de permanência. Ela pode equivaler, no máximo, à taxa de juros estipulada em contrato para o período de pagamento regular e não poderá ser cumulada com nenhuma outra cobrança (correção monetária, multa ou juros de mora).
Fontes: Cláudia Mendonça Lemos, economista e diretora geral da Unicred Integração; Catherine Chiappin Dutra, coordenadora de Ciências Contábeis e Gestão Financeira da FSG; Maria Carolina Gullo, diretora do Centro de Ciências Sociais da UCS; e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
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Ana Demoliner
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