Com declarada torcida pelo afastamento definitivo de Dilma Rousseff, os investidores parecem ter dado pouca importância para a aprovação no Senado do parecer que torna iminente o impeachment da petista: a bolsa de valores fechou ontem em queda de 1,33%. As atenções ficaram voltadas para o que acontecia na Casa ao lado.
No mesmo dia, a Câmara deu aval para texto principal do projeto de lei que renegocia as dívidas estaduais, sem exigir as contrapartidas previstas às unidades da federação. A medida terá grande impacto para as finanças públicas nacionais, que deve apresentar rombos bilionários nos próximos dois anos.
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O dólar fechou com pouca variação (-0,28%) em relação ao dia anterior, valendo R$ 3,132. Na quarta-feira, chegou a operar em alta, outro sintoma do desconforto com a falta de compromisso dos poderes Executivo e Legislativo com o ajuste fiscal. A diferença entre o discurso de austeridade fiscal da equipe econômica de Michel Temer e a realidade parece minar a confiança de investidores quanto a capacidade do Planalto de estancar a sangria nas contas públicas.
– Os entraves políticos são imensos. O que ficou muito evidente é que, apesar das boas indicações para a equipe do Ministério da Fazenda e das boas intenções, o governo é muito frágil. O lado político é muito complicado – avalia João Ricardo Costa Filho, economista da Pezco Mycroanalysis.
Analista da gestora de patrimônio Fundamenta, Valter Bianchi avalia que o mercado tem dado ao governo Temer espécie de “período de carência”, entendendo que as articulações políticas são limitadas enquanto ele ainda atua como presidente interino. Ressalta que, apesar da aparente derrota no Congresso no projeto de limitação de gastos, o fato de ter colocado a proposta em pauta já foi um avanço.
– O governo aprovou mudanças no orçamento, prorrogou a Desvinculação de Receitas da União e apresentou proposta de teto nos gastos. Fez em meses o que a gestão Dilma não conseguia fazer em anos. Não é perfeito, mas mostra maior capacidade de negociação, sem dúvida – afirma Bianchi.